Ubirajara (José de Alencar)

Em sintonia com o objetivo de definir a nacionalidade, que no Brasil coincide com a independência do país, o romance indianista, com muita idealização, vai investigar o nosso passado histórico em suas origens mais intocadas, como é o caso de Ubirajara.
      O subtítulo da obra — “Lenda Tupi” - esclarece que Alencar remontará ao Brasil pré-colonial em que o índio, sem ter tido contato com a civilização européia, ainda se encontra em seu estado natural.
      A narrativa tem a finalidade de revelar a origem dos índios ubirajaras e se passa no encontro entre o Tocantins e o Araguaia.
      No primeiro capitulo (“O Caçador”), temos o jovem caçador araguaia Jaguarê, que aspirava à conquista da fama de guerreiro imbatível. Ele está no meio da mata, procurando novos desafios. Essa oportunidade, porém, não ocorre, pois quem ele encontra é a belíssima virgem Araci, “estrela do dia”, filha de ltaquê, chefe da nação tocantim.
      Nesse encontro, eles mantêm um breve diálogo e ela lhe diz : “O mais forte e valente [guerreiro] me terá por esposa.” Ele não se alista, mas pede que ela mande pretendentes para combatê-lo.
      Quando ela parte, Jaguarê, ao cruzar com Pojucã, guerreiro tocantim, começa uma luta titânica na qual o araguaia sai vencedor. Como era costume entre os povos primitivos, Pojucã segue como prisioneiro de guerra para a nação araguaia onde seria executado nos rituais antropofágicos.
      Com este feito heróico, Jaguarê torna-se o guerreiro Ubirajara, “senhor da lança”, e herda de seu pai, Camacã, o posto de chefe dos índios araguaias.
      Após essa conquista, Ubirajara busca uma outra: a da esposa. Embora o jovem guerreiro já tivesse a virgem Jandira, sorriso de mel, prometida como sua esposa, ele não conseguia se esquecer de Araci. Assim, afirma à sua prometida que não merecia seu amor. E pede que ela seja a esposa do guerreiro prisioneiro. A virgem, filha de Magé, não aceita tal proposta, pois o amava, e foge para a floresta. Em seguida, o herói parte para a nação tocantim.
      Lá ele é recebido com todas as honras de hóspede ilustre. Os índios acreditavam que um hóspede era um enviado de Tupã.
     Assim, seguindo as tradições, Ubirajara senta-se na taba do chefe ltaquê junto com os mais bravos guerreiros e os anciões para fumar cachimbo, compartilhado entre todos os presentes.
      Como “a lei da hospitalidade não consentia que se perguntasse o nome ao estrangeiro que chegava, nem que se indagasse de sua nação”, Ubirajara passa a ser chamado de Jurandir, “aquele que veio trazido pela luz do céu”.
      Depois de ter sido recebido com todas as honras, Jurandir pede ao grande chefe ltaquê que lhe conceda Araci como sua esposa. O chefe tocantim aceita e Jurandir, conforme as tradições daquele povo, deixa sua condição de estrangeiro para pertencer à “oca de ltaquê, e devia, como servo do amor, trabalhar para o pai de sua noiva”. Além disso, ele deveria disputar com os outros guerreiros tocantins a posse de Araci.
  Assim fez o guerreiro apaixonado, mas uma visita inesperada vem temperar a vida do par romântico: Jandira, a virgem araguaia, noiva de Jurandir, aparece com uma faca para ameaçar Araci.
      O guerreiro chega no exato momento para impedir uma tragédia, amarra Jandira e faz dela escrava de Araci: “— Jandira é tua escrava. Não lhe dês a liberdade. Ela tem a astúcia da serpente e seu veneno.”
      Araci dá a Jandira uma lição de moral, explicando-lhe os valores da cultura indígena: “Araci está alegre; porque o amor do guerreiro voltou-se para ela; e Jandira vai fazê-la companheira de sua glória e mãe de seus filhos. Quando a esposa de Jurandir não tiver mais beleza para seu guerreiro, ela consentirá que Jandira durma em sua rede.”
      Chega o dia em que os guerreiros devem combater para conquistar Araci. Durante os rituais de combate, a noiva canta: “Araci ama o mais forte e mais valente.
Ela pertencerá ao vencedor que vencer a bravura dos outros guerreiros, como venceu a vontade da esposa.”
      Jurandir passa por provas de força e astúcia, vencendo a todos os guerreiros. Então o chefe tocantim lhe diz: “Quando o estrangeiro chegou à cabana de ltaquê, ninguém lhe perguntou quem era e donde vinha. (...) Mas agora o estrangeiro saiu vencedor do combate do casamento e conquistou uma esposa na taba dos tocantins. É preciso que se Faça conhecer.” Jurandir, sabendo que seu prisioneiro de guerra (Pojucã) era filho do chefe ltaquê e irmão de Araci, resolve, mesmo constrangido, se apresentar: “Eu sou Ubirajara, o senhor da lança; e o maior guerreiro depois do grande Camacã, cujo sangue me gerou. Se quereis sabei por que tomei este nome ouvi a minha maranduba [história] de guerra.” Em seguida, relata sua batalha contra Pojucã e afirma que partiria no dia seguinte para assistir ao combate final de seu prisioneiro. Ele, então, ouve do chefe tocantim a declaração de guerra: “Parte. O sol que viu o estrangeiro na cabana hospedeira o acompanhará amigo; mas com a sombra da noite, mil guerreiros, mais velozes que o nandu, partirão para levar-te a morte”.
      Na partida. Ubirajara e Araci se encontram novamente. A moça deseja acompanhá-lo, mas o jovem afirma que jamais trairia o chefe ltaquê. Ela, portanto, deveria esperar pela batalha final.
      Quando Ubirajara volta à sua tribo, liberta Pojucã para que ele possa lutar ao lado de seu povo. Os araguaias, então, liderados por Ubirajara, seguem para atacar os tocantins, mas lá encontram os tapuias, que por uma questão antiga de vingança tinham o direito de atacá-los primeiro. Vence ltaquê que no entanto fica cego na batalha, o que o leva á busca de um sucessor, que deveria ser capaz de manejar o arco e a flecha tão bem quanto ele. Só Ubirajara o consegue, unindo o arco de ltaquê ao seu próprio arco, herdado de Cainacã, seu pai. É o momento épico do romance.
      O chefe ltaquê propõe paz à nação araguaia e, mais do que isso, afirma: “por teu heroísmo, e ainda mais pela nobreza com que restituíste a liberdade a Pojucã, tu merecias uma esposa do sangue do Tocantim”. Após um diálogo comovido, os dois guerreiros jogam suas lanças ao ar e elas se cruzam, simbolizando a união dos dois povos, formando um só: a nação ubirajara. As duas nações, dos araguaias e dos tocantins formaram a grande nação dos Ubirajaras, que tomou o nome do herói.
     Jandira, a virgem araguaia que também amava o jovem Ubirajara, torna-se a segunda esposa do guerreiro por sugestão da própria Araci: “Jandira é irmã de Araci, tua esposa. Ubirajara é o chefe dos chefes, senhor do arco das duas nações. Ele deve repartir seu amor por elas, como repartiu sua força.” Assim foi feito, já que a poligamia fazia parte da cultura dos indígenas.


Comentários do livro:

O livro se passa em um intervalo não muito grande de tempo. Os personagens não envelhecem, mas, a formação psicológica é muito alterada ao decorrer de várias modificações principalmente culturais. Em Ubirajara, focaliza-se a vida dos aborígenes em seu meio natural, livres, longe do contato com a civilização. Sendo o índio em comunhão com a natureza, fonte de inspiração para os escritores românticos. A narrativa é feita na 3ª pessoa, não havendo interferência do autor, que apenas relata a vida entre os índios. O índio de Alencar é visto através do mito do bom selvagem, é uma criação artística já que os descreve de uma forma pessoal e bastante idealizada, o índio é construído apenas com os detalhes positivos. Em todos os seus romances patenteiam-se o domínio da imaginação, prescindindo muitas vezes da observação que entra principalmente nas descrições dos costumes e do ambiente, comprovando isto, no livro, trata-se por exemplo, a lei da hospitalidade, que é um dos costumes entre as nações para receber um estrangeiro, que não pode ser interrogado sobre sua vida. “Os guerreiros que tinham acudido ao som da inúbia, deixaram passar o estrangeiro sem inquirir donde vinha, nem o que o trouxera. Era este o costume herdado de seus maiores; que o hóspede mandava na taba aonde Tupã o conduzia.” O texto foi escrito com vocábulos indígenas. José de Alencar buscou reconstituir traços que considerava essenciais na cultura do homem que primitivamente habitou o Brasil. Por isso, no livro trata-se apenas da vida do índio. O índio era visto pela visão de bom selvagem de Rousseau. Além do indianismo que reflete o nacionalismo e a exaltação da natureza pátria, essa obra revela uma preocupação histórica. Ubirajara-lenda tupi representa o índio em seu estado mais puro, pré-cabralino. A ação se desenvolve ás margens do Tocantins-Araguaia e relata a formação da grande nação Ubirajara. Lidos com os olhos de hoje, os romances indianistas de Alencar parecem exagerados nos sentimentos e nas boas qualidades atribuídas aos indígenas. Assim agindo, procurava demonstrar que o indígena brasileiro, apesar de primitivo, podia servir de modelo estético para a criação literária uma vez que fornecia elementos ricos de fantasia e imaginação , inclusive pela nobreza estilizada de seus traços humanos.

Personagens:
Os personagens principais são:

*Jaguarê, um jovem caçador filho do chefe da nação Araguaia, que estava para ser aclamado guerreiro desde que conquistasse uma grande façanha. Quando venceu o primeiro guerreiro dos guerreiros de Tupã, Jaguari recebeu o nome Ubirajara, “Senhor da Lança”, o mais forte dos guerreiros da nação Araguaia. Jurandir foi o nome escolhido por Ubirajara enquanto permanecia na cabana hospedeira de Itaquê. Depois, Ubirajara torna-se o chefe das nações.
*Jandira, a virgem formosa Araguaia que guardava para Jaguarê o seio de esposa. Sujeitou-se a morte pelo abandono de Jaguarê. No fim ficou sendo esposa de Ubirajara, pela nação Araguaia.
*Araci, a estrela do dia, é filha de Itaquê, pai da grande nação Tocantim. Haviam muitos guerreiros disputando seu amor mas, só o mais valente e forte a teria como esposa. Ao final, ela se tornou esposa de Ubirajara pela nação Tocantim.
*Itaquê, o grande chefe da nação Tocantim, pai de Araci e Pojucã. Depois de ficar cego, pede a Ubirajara que se torne também chefe da nação Tocantim, para vencer os Tapuias.
*Pojucã, um grande guerreiro e o chefe mais feroz da nação Tocantim, matador de gente, irmão de Araci, e inimigo de Jaguarê. Depois de aprisionado e libertado por Ubirajara, não fora mais um grande guerreiro. Houveram também outros personagens que fizeram parte do livro:.

*Tupã, o Deus do raio e trovão. Os Tupis atribuíam grande poder a essa divindade.
*Camacã, o grande chefe da nação Araguaia, pai de Jaguarê, depois passa o arco da nação Araguaia para seu filho.
*Jacamim, a mãe dos filhos de Itaquê.
*Canicrã, o chefe dos Tapuias.
*Pãa, um curumim, último filho de Canicrã, que cegou Itaquê, pois estava revoltado com a morte de seu pai.
*Crebã, um guerreiro, irmão de Pãa, filho de Canicrã.
*Tubim, um jovem caçador que tinha asas de abelha e recebeu o nome de Abeguar ao pegar o curumim Tapuia Pãa.
*Agniná, irmão de Canicrã que foi a frente dos Tapuias vingar a morte de seu
irmão.
*Majé, pai de Jandira. Tinha boas influências na nação Araguaia.