Amor de Salvação (Camilo Castelo Branco)


  • Amor de Salvação é uma novela passional, considerada pela crítica uma das obras mais bem acabada do autor. A história relata lembranças que são contadas ao narrador pelo protagonista, em uma noite de Natal, após um reencontro entre os dois que não se viam há quase doze anos. Afonso e Teodora foram prometidos um ao outro, por suas mães que eram amigas desde os tempos em que estudavam num convento. Após a morte da mãe, Teodora vai para um convento e tem como tutor seu tio, pai de Eleutério Romão. Teodora e Afonso estão sempre em contato aguardando o tempo certo para casarem.
  • Afonso resolve estudar fora por dois anos. Teodora influenciada pela amiga Libana quer casar-se o mais rápido possível. A mãe de Afonso, D. Eulália, pede-lhe para aguardar. Mas com a saída de Libana do convento, Teodora se desespera e resolve casar-se com seu primo, Eleutério, para libertar-se das grades do convento. Eleutério era o oposto à beleza de Teodora, era rude e vestia-se de forma hilariante.
  • Apesar da grande tentativa de seu tio, o padre Hilário, em ensinar-lhe a ler, nada conseguiu. Vencido pela incapacidade de seu sobrinho, Padre Hilário desistiu afirmando que somente através de uma fresta no cérebro, aberta a machado, seria possível tal façanha.
  • Teodora viveu em pompas, trajes de sedas, cavalos, bailes etc, mas nunca esquecera Afonso, enviava-lhe cartas de amor mas nunca obtivera resposta. Afonso sofreu muito com a notícia do casamento de Teodora, pediu a mãe permissão para se ausentar de Portugal. Contava sempre com o apoio e o consolo das cartas de sua mãe e sua prima Mafalda, que o amava pacientemente. Após anos de amargura, sofrimento e luta contendo-se diante das cartas de Teodora, para não fugir aos ensinamentos religiosos aos quais sua mãe o educou, foi fulminado pela influência do amigo José de Noronha que o incentivou a escrever à Teodora. Relutou mas não conseguiu. A tal carta depois de escrita foi cair nas mãos de Eleutério, que leu mas nada entendeu. Pediu então a um amigo ajuda para interpretá-la. A carta acabou sendo rasgada por Fernão de Teive, dando a desculpa de serem grandes sandices, após junto com sua filha Mafalda, reconhecer as intenções do remetente, seu sobrinho Afonso de Teive.
  • Não conformado, Afonso parte ao encontro de Teodora. Eleutério quando os encontra juntos, pede-lhes explicações. Teodora responde-lhe que é uma mulher livre a partir daquele momento, e vai viver com Afonso. Passam momentos, ilusoriamente, felizes. Afonso abandona até a sua própria mãe para viver ardentemente esta paixão que sempre o consumiu. Sua mãe sempre afetuosa, apesar da grande tristeza, sustenta a vida luxuosa que Afonso tem ao lado de Teodora.
  • Afonso quando fica sabendo da morte de sua mãe, através de carta escrita por Mafalda, se desespera. Teodora tenta consolá-lo, mas ele sente em suas palavras ironia e sente nojo de tamanho fingimento. Procura isolar-se de Teodora e dos amigos. Durante este período, Tranqueira, velho criado da família, alerta-o sobre as intenções do amigo José de Noronha por Teodora. No início se revolta contra o criado, mas acaba escutando-o e passa a observá-los. Encontra umas cartas que confirmam as suspeitas. Certo dia os pega juntinhos com gestos de muita familiaridade. Aborrece-se pede para que Noronha saia de sua casa.
  • Teodora dissimulada como sempre, tenta enganá-lo, mas ele atira-lhe as cartas. Teodora desmaia enquanto Tranqueira derruba Noronha na cisterna para vingar seu patrão. Afonso passa alguns dias fora de casa, quando retorna encontra uma carta de Teodora informando os pertences que havia levado consigo. Apesar de traído sente saudade da encantadora Teodora. Vende tudo e parte para Paris atrás de um amor que o salve. Gasta tudo o que tem. Por fim, pede ao seu tio Fernão para comprar-lhe a casa onde viveram seus pais e avós, pois não queria ofender a memória de sua mãe que o havia pedido em carta antes morrer que não a vendesse.
  • Mafalda com seu coração generoso e cheio de amor pelo primo, pede a seu pai que o atenda, e este assim o faz mas, com a condição de que a casa continuaria sendo de Afonso. Afonso afunda-se cada vez mais em seus vícios e extravagâncias a ponto de querer suicidar-se. Tranqueira, que nunca o abandonou, percebeu sua intenção e disse-lhe severas palavras que o livraram de tamanha loucura.
  • Afonso mudou de vida, passou a trabalhar e a estudar com apoio de seu criado. Fernão de Teive adoece, e prestes a morrer pede ao padre Joaquim que vá a Paris entregar a Afonso, os documentos de propriedade da casa a qual comprara, apenas com intuito de ajudar o sobrinho.
  • Após a morte de Fernão, Mafalda sentindo-se sozinha, resolve viajar com o padre Joaquim para Paris com o objetivo de juntar-se às irmãs de caridade. Quando o padre Joaquim encontra Afonso e conta-lhe da morte do tio, este chora e corre ao encontro da prima que ficara em uma hospedaria. Mafalda conta ao primo sua decisão, mas padre Joaquim pede-lhes, pelo amor de Deus, que ao invés disso, se casem.
  • Afonso aceitou de imediato e agradeceu à Deus por ter ouvido os pedidos de suas mães. Afonso e Mafalda voltaram para sua cidade, casaram-se, tiveram oito filhos e foram muito felizes. Apesar do título “Amor de Salvação” a novela relata em quase toda sua extensão, um “Amor de Perdição” entre Afonso de Teive e Teodora Palmira. Ao “Amor de Salvação”, Mafalda, são dedicadas somente as últimas páginas do romance.

O missionário (Inglês de Souza)


O Missionário, obra que goza de melhor conceito junto à crítica, nasceu do desenvolvimento do conto O Sofisma do Vigário. É um romance de tese, propondo o conflito entre a vocação sacerdotal e o instinto sexual, instigado pelo relaxamento dos costumes e pelo sensualismo da mameluca Clarinha, que acabam por vencer a frágil resistência do PE. Antônio de Morais. Tomando o hábito o Padre Antônio de Morais vai para Silves, povoado paraense, à entrada da selva amazônica. Malgrado carente de vocação, granjeia prestígio de sacerdote correto e pio; todavia, a rotina da vilazinha, começando a enfastiá-lo, sugere-lhe a procura de um objeto mais valioso para aplicar seu talento. Aumentado o grupo de adversários, o presbítero num audacioso e arrebatado sermão desmancha a oposição e conquista novos admiradores, dentre os quais Chico Fidêncio, jornalista carbonário e anticlerical. O dia-a-dia de Silves, com seus mexericos e intrigas, passa a girar em torno do Padre Morais. Entrando na floresta, mata inóspita, a fim de catequizar os temíveis mundurucus acompanhando-se do sacristão Macário, mas este regressa a Silves antes de chegar ao encontro com os mundurucus. E é doente que o Padre Morais chega ao sítio de João Pimenta, onde os desvelos de Clarinha, neta do agricultor, e prolongado repouso lhe restituem a saúde e lhe acordam o erotismo que a batina dissimulara até então. Clarinha, mameluca de comportamento algo imoral para os padrões religiosos, acaba o Padre por consumar o pecado da carne com a moça. A Natureza da selva e da mestiça venceu a fraca resistência do jovem prelado. Por fim, conduzindo a mameluca, retorna a Silves, e é recebido como um autêntico santo.

Sobre o livro: 

Ao publicar, em 1888, O Missionário, Inglês de Sousa (1853-1918) incorpora-se à corrente Naturalista. Estilo algo monótono, por vezes apagado, entremeado, porém, aqui e ali, de expressões coloquiais, que lhe dão sabor nativo e um torneio de frase à brasileira. Bem descrito o meio. Vivas as figuras - a do sacristão Macário e a do capitão Fonseca, por exemplo. Não carece o autor da capacidade de análises psicológicas - os solilóquios do padre Antônio de Moraes, a que não se pode negar veracidade de observação e a que não escasseia força evocativa. Coloridas as descrições da selva amazônica - embora vistas sempre no segundo plano e nelas nunca se demore o autor, voltado de preferência a perscrutar as personagens. (João Pacheco, O Realismo, p. 139-140).

Em O Missionário, o propósito de demonstrar os condicionamentos biológicos, sociais e circunstanciais, sob a ótica Naturalista e Determinista, sugere o esquema e as etapas do processo narrativo. Inicialmente, o autor descreve minuciosamente a localidade de Silves, no Pará, de maneira a dar-lhe corpo e vida, com sua atmosfera parada e sensual e seus tipos característicos: o farmacêutico, o livre-pensador, o sacristão, o coletor, o professor alguns maledicentes e intrigantes. Introduz, a seguir, o idealismo místico e as controvérsias teológicas do Padre Antônio Morais, que se sente inútil, confinado à mediocridade da vida provinciana. A decisão de aventurar-se entre os índios selvagens fundamenta-se mais no desejo de glória, que no zelo missionário. Aventurando-se pelos rios e florestas da Amazônia, o convívio íntimo com a família de mamelucos, o sensualismo da paisagem põe à prova os votos de castidade, que cede. Para explicar a queda final, o autor faz um longo retrospecto da vida do Padre Antônio Morais, repassando a infância, o seminário, à severa disciplina, a repressão da sexualidade na adolescência. Quando a personagem retorna a Silves, o autor, ainda à maneira dos naturalistas, extrai a moralidade dos fatos, acomodando-o à nova situação.

O Vendedor de Sonhos (Augusto Cury)



           O livro “O Vendedor de Sonhos: o chamado” de Augusto Cury considerado por muitos um dos melhores livros do autor foi editado várias vezes e vendido para mais de 7 milhões de pessoas somente no Brasil. Também foi traduzido em várias línguas e, posteriormente, lido por milhões de pessoas de diferentes países do mundo. Tanto reconhecimento e procura não é para tanto, afinal de contas, neste livro Augusto Cury procurou aplicar seus conhecimentos psicológicos e sociológicos sobre o comportamento humano e seus conflitos psíquicos. A procura pelo livro foi e ainda é unânime. Todos querem o ler para conhecer um pouco a forma de pensar deste brilhante e inquestionável autor chamado Augusto Cury, outros ainda para encontrar conforto e esperança nas palavras estonteantes e instigáveis da obra, pois estão oprimidos, angustiados e enclausurados no mundo dos conflitos mentais. Conflitos estes que são desencadeados pela a agitação e opressão do atual sistema social do qual fazemos parte.

             A obra descreve e enfatiza a vida de um homem que se utilizou do anonimato para esconder a sua verdadeira identidade. Era conhecido por todos como O Vendedor de Sonhos, assim como ele próprio se declarou ao ser questionado pelas pessoas sobre sua origem e identidade. O termo é mencionado várias vezes ao longo da obra não por acaso, mas para dar ênfase ao que ele realmente fazia: vender sonhos para as pessoas desoladas e angustiadas com a própria vida que tinham. Pessoas que para alguns tinham comportamentos, vícios e ou distúrbios irreversíveis, bem como alcoólatras, pessoas depressivas, ladrões, indivíduos que já foram presidiários, doentes mentais e físicos, enfim, vendia sonhos para toda e qualquer pessoa que se encontrava em situações críticas, ou seja, pessoas que viviam à margem da sociedade, que sofriam com doenças psíquicas por terem sido abaladas com perdas irreparáveis, tais como a morte de entes queridos, prejuízos e perdas no mundo financeiro, ou ainda a falta de autenticidade e reconhecimento social.

                Dentre esses inúmeros personagens problemáticos que o seguiam por terem sido convidados pelo próprio Vendedor de Sonhos vale destacar o acadêmico e professor universitário Júlio César Lambert que sempre fora muito duro e carrasco com os profissionais e alunos da instituição na qual trabalhava. Era autêntico e autoritário no que fazia. Almejava a perfeição e queria que todos, inclusive seus alunos, fizessem o mesmo. Perdera os pais ainda criança. A mãe falecera de câncer o pai suicidou-se na sua presença, fato que o deixou profundamente constrangido. Talvez essa fosse a explicação mais aceitável para explicar o porquê da sua personalidade tão rigorosa e ao mesmo tempo insensata. Não tinha tempo para conviver dignamente com os filhos e a esposa. Sempre estava ocupado com os afazeres do dia a dia. Com tantas preocupações desenvolveu uma perturbante depressão. Queria suicidar-se pulando do alto do edifício San Pablo. Foi nesse contexto que ele conheceu o incrível homem que mudara por completo os rumos da sua vida.

              Passou a partir de então a conviver com ele e desenvolver a arte de vender sonhos para as pessoas. Sempre ficava, assim como as outras pessoas, extasiado e atônito ao ouvir as palavras sábias e cheias de conhecimento do mestre. Questionava-se em pensamentos a si mesmo: “Quem é esse homem que hipnotiza e cativa as pessoas com suas palavras? Qual a sua origem? Qual o seu passado? Será ele um filósofo,  um sociólogo, um sábio ou um psicótico? Era perturbado frequentemente com questionamentos que invadiam os recônditos de sua mente.

             No grupo de discípulos se destacavam ainda o humorístico e sarcástico Bartolomeu que era um alcoólatra. O Salomão que sofria com uma doença psicótica compulsiva. A Mônica uma jovem modelo que sofria de Bulimia por causa das exigências do mundo da moda. O Dimas, mais conhecido por Mão de Anjo, um ladrão de primeira categoria que não se intimidava ao abordar uma vítima. Todos eles foram profundamente cativados com os ensinamentos de vida do Vendedor de Sonhos. Não tinham palavras para contradizer o que ele dizia, pois eram bombardeados com turbilhões de ideias filosóficas que penetravam em suas mentes fazendo-os mudar suas ideias e conceitos sobre a vida.

             O Vendedor de Sonhos adquiriu admiráveis amigos e também indesejáveis inimigos. Certo dia alguns empresários da empresa Megasoft chegaram aos discípulos do mestre e os convidaram para fazerem uma homenagem surpresa ao inquestionável homem que mudou para melhor a vida de centenas de pessoas. O grupo desconfiado aceitou o convite sem saber que se tratava de um golpe humilhante. Marcaram o endereço do encontro em um enorme estádio da metrópole e seguiram dias depois com o mestre para o local. Anteriormente, ele desconfiou mais aceitou o pedido por consideração aos amigos. No estádio estavam presentes milhares de pessoas e várias emissoras de televisão prontas para assistirem o evento. Em um telão enorme começou a serem transmitidas algumas cenas de um indivíduo psicótico sofrendo alucinações e, posteriormente, o homem que gravava as imagens o fazendo interrogações sobre suas visões. As pessoas não entendiam nada. Ao final do filme melancólico os apresentadores disseram para a platéia que se tratava do Vendedor de Sonhos. As pessoas presentes ficaram perplexas e extasiadas, inclusive os discípulos do semeador de idéias; não acreditavam no que estavam vendo e ouvindo. Os apresentadores começaram a difamar e caluniar o Vendedor de Sonhos dizendo que se tratava de um impostor, um hipócrita, um homem maluco que enganara um bando de idiotas. O mestre fez sinal que ia sair e a multidão gritou: - Fale! Fale! Fale!

              Ele começou a falar e dizer que fora um empresário muito rico, milionário. Alguns que o reconheceram e lembraram que se tratava do dono da empresa Megasoft ficaram chocados com a atitude humilhante do grupo de empresários da mesma empresa. Continuou dizendo que nunca deu atenção a seus filhos e a esposa como deveria o fazer. Contou que certo dia eles morreram de um acidente de avião e que os céus desabou sobre ele a partir daquele dia. Profundamente depressivo passou a valorizar as pequenas coisas da vida, como amar ao próximo e disseminar palavras de esperança e conforto para com os mesmos. A partir daí passou a viver no mundo e para o mundo tentando se redescobrir a cada dia, pois sempre dizia que era apenas um caminhante que estava à procura de si mesmo.

          Ao proferir estas palavras todos que estavam no estádio o aplaudiram incessantemente, sobretudo, alguns líderes empresariais. Ele chorou assim como muitos que estavam ali presente. Mostrou para a humanidade através das emissoras que ali se faziam presentes o quanto o ser humano é pequeno, hipócrita e imperfeito. Mostrou também o poder destrutivo do dinheiro quando idolatrado e mal administrado. Não mais idolatrava bens materiais, pois dizia que estes destruíam a humildade, a honestidade e a sanidade humana. Queria apenas vender sonhos à humanidade, restituir valores e preceitos perdidos. Baseava-se nos ensinamentos calorosos do Mestre dos Mestres, Jesus Cristo o filho do homem. Assim como Ele, foi humilhado perante milhares de pessoas, porém suportou tudo silenciosamente sem reclamar.
                    Que este resumo fortaleça e sirva como exemplo de vida para muitos que estão perdidos sem saber o que fazer para apaziguar as suas angustias e anseios.  

A mão e a luva (Machado de Assis)


Afilhada de uma rica baronesa, pela qual era sustentada em um colégio para professores, Guiomar era uma moça simples que ficou órfã logo cedo, mas tinha consigo uma força de lutar pelo que pretendia. Usava a razão para controlar seu coração. Tendo uma beleza e um jeito de ser atrativo, despertou interesse de 3 homens: Estevão (sentimental), Jorge (calculista) e Luís Alves (ambicioso).
O livro trata da história dessa  jovem , Guiomar, de 17 anos. Ela é afilhada de uma baronesa e faz o possível (utilizando-se de atos frios e calculistas) para tentar elevar-se socialmente, para compensar a sua origem humilde.
No decorrer da história, três homens (Estevão, Jorge e Luis Alves) tentam conseguir a mão de Guiomar em casamento, cada um deles com características e objetivos distintos. Estevão, por exemplo, a ama loucamente, mas com pureza e inocência, como se fosse realmente o seu primeiro amor. Jorge, que é o sobrinho da baronesa, e também o mais mimado por ela, assim como Guiomar, também sonha em crescer socialmente e possui um amor fútil e carnal por ela. Já Luis Alves, vai se apaixonando aos poucos pela protagonista, e só com o tempo alimenta um sentimento por ela. Todavia, se analisarmos com calma, veremos que ele é praticamente uma mistura entre os dois primeiros, por ser um homem determinado e ambicioso.
O primeiro a pedir a mão de Guiomar é Jorge, tendo o apoio da baronesa e de Mrs. Oswald, sua empregada britânica. Um dia depois, Luís faz o mesmo pedido. Sendo assim, a baronesa diz que ela terá de escolher entre esses dois pretendentes. Imediatamente, ela escolhe Jorge. Entretanto, a baronesa sabia que sua afilhada queria na verdade casar com Luís Alves. Após isso, Guiomar e Luís Alves acabam se casando.
Luís Alves, então,  foi o que conquistou o amor de Guiomar tomando-a como sua  esposa como se ela fosse  a “luva para a sua mão” que é uma das últimas frases do livro.

Personagens:
  • Estevão: ele era sentimental, leviano, ingênuo, superficial e inseguro, porém, sincero. Amaria qualquer mulher que despertasse algum interesse nele. Não dava nenhum valor a si mesmo e por isso mereceu a preferência de Guiomar. Os dois chegaram a ficar juntos por algum tempo, até que ele foi estudar Ciências Jurídicas e Sociais em São Paulo; neste período ele sofreu muito, pensando até em se matar.  Após um devido tempo já em São Paulo achou que iria esquecer-se de Guiomar onde se enganou. Após ter se formado, voltou e ficou na casa de Luís Alves. Certa manhã os dois se reconhecem e trocam algumas palavras. Mas o destino não pertencia a ele.
  • Jorge: ele era fraco de caráter, egoísta e orgulhoso de si mesmo. Jorge era sobrinho da madrinha de Guiomar. As vantagens econômicas atraiam a ela.
  • Luís Alves: era frio e fechado e não contava seus sentimentos e vontades a ninguém. Era calculista e esperava o momento certo para dar uma cartada. Era amigo de Estevão e vizinho de Guiomar. Ele se decide por Guiomar mas apenas quando tem certeza que não vai ser descartado. Os dois se casam. Luis Alves acabou  sendo o eleito, pois personificava as qualidades que se sintonizavam com o espírito de Guiomar, que  ao escolhê-lo, faz  segundo suas próprias palavras, " a fria eleição do espírito ".
  • Embora nitidamente romântico, A Mão e a Luva é um romance sóbrio. Seu ponto alto são as personagens femininas: Guiomar pela complexidade de seu caráter, Mrs. Oswald pela astúcia. O romance gira em torno de um caso complicado - mas de solução simples e previsível - de namoro dentro dos mais rigorosos esquemas burgueses. O nome do livro se dá devido ao casamento de Guiomar e Luís Alves que se encaixam como uma mão dentro de uma luva, sendo um feito especialmente para o outro.

A condessa de vésper (Aluísio de Azevedo)


Gabriel é o amante apaixonado de Ambrosina, que se viu dominado sob seus caprichos e disposto ao sacrifícios do amor. Ela se transforma em Condessa Vésper ao lado do príncipe D. Filipe. Mas o tesouro da sua beleza haveria de fenecer e ser guardado para a “sensualidade do sepulcro”.

No Brasil, o maior exemplo de exposição da homossexualidade masculina, na literatura do século XIX, deu-se através da pena de Adolfo Caminha em O Bom Crioulo. Mas e a homossexualidade feminina? O assunto ficou a cargo de Aluísio Azevedo. O conhecido autor de O Mulato, O cortiço e Casa de pensão, que é apontado pelos historiadores literários como responsável por ter trazido para o Brasil os ditames da escola de Émile Zola, escreveu, também, romances românticos e fez, em pleno período Imperial, da pena o seu mister. Azevedo costumava a escrever folhetins, um desses foi A Condessa Vésper. A obra, com pitadas naturalistas e grandes doses de romantismo, expôs o safismo, isto é, o lesbianismo na literatura brasileira.

A Condessa Vésper traz à tona uma variedade imensa de personagens, o livro tem reviravoltas típicas de folhetins que podem ser observadas, ainda nos dias de hoje, nas telenovelas. As principais personas são: Gaspar, Ambrosina, Gabriel, Gustavo  e Laura. Ambrosina, depois dum casamento frustrado com um homem, Leonardo, que enlouquece no na noite de núpcias, torna-se amante de Gabriel. Este último, um jovem que herdara uma boa fortuna da mãe e fora criado por Gaspar, um médico, faz de tudo para manter Ambrosina ao seu lado; porém, a jovem sempre consegue enganá-lo e pegar do rapaz bons contos de réis. Laura é, tal como o grumete de O Bom Crioulo, a paixão de Ambrosina, que conhece a garota graças a uma intervenção de Gabriel. Ambrosina, num dos seus golpes, seduz Laura e foge para a Bahia. O interessante é que, em nenhum momento, o narrador explícita com detalhes a relação amorosa entre as duas mulheres. Há, pois, sempre um jogo de palavras, um eufemismo, para trazer a lume a questão para o leitor. Gustavo, por sua vez, aparece na história quase no findar da obra, quando Ambrosina, depois de retornar da Europa — Laura já havia morrido —, torna-se a Condessa Vésper. A figura de Gustavo é interessante, uma vez que o jovem assemelha-se muito a história de vida do próprio Aluísio. Oriundo duma província, o rapaz além de tornar-se escritor era também caricaturista. O fato é que, tal como Gabriel, Gaspar e outras personagens, o provinciano também, depois de travar contato com Ambrosina, tem sua vida ceifada.

Essa característica mórbida, de ceifadora, que Ambrosina desempenha na narrativa e sua personalidade ladina que sempre atrapalha a vida dos outros está, implicitamente nas palavras do narrador, ligada à sua opção sexual. A conduta homossexual de Ambrosina, que não se regenera em nenhum momento do romance, mesmo tendo ao seu lado um médico, que é uma figura muito utilizada nos romances naturalistas e, até mesmo nos românticos, para colocar certas personagens no caminho considerado correto, não funciona. A obra demonstra que a homossexualismo, se não fosse curado, levaria não somente o indivíduo que sofria de seus males à morte, bem como todos aqueles que o cercavam.

Características:

Condessa Vésper, de Aluísio Azevedo, foi primeiramente publicado no periódico Gazetinha, como romance-folhetim. Ao ser editado em livro, sofreu severas alterações, tendo sido totalmente modificado, ganhando, inclusive, um bizarro capítulo 0. Além do mais, este "caso extraordinário" que, na linguagem jornalística da época detinha o acento sensacionalista das reportagens, ficou menos escandaloso em livro.

Trata-se de um romance que, se traz os defeitos de sua estrutura folhetinesca, tem características bem mais relevantes, dentro do estilo realista-naturalista que marcou a produção do autor, aliás um dos primeiros - senão o primeiro - escritor profissional do Brasil.

Próximo de um romance de costumes, A condessa Vésper oferece agudas observações da geografia humana do Rio de Janeiro da época, descreve admiráveis painéis da cidade, dentro da perspectiva detalhista que caracteriza o estilo. Do mesmo modo, estão presentes certos modos de falar e a riqueza vocabular que alguns tipos humanos, ousadamente reconhecíveis nas classes despossuídas, faziam uso.

É um romance que traz todos os defeitos da estrutura folhetinesca, mas tem o mérito de traçar um interessante painel da sociedade carioca da época. Com o detalhismo que era característico do autor e da tendência realista, retrata bem a linguagem das camadas mais pobres da população e a dinâmica das bases "podres" da sociedade imperial.
Evidentemente, ao tematizar a parte maldita da sociedade, nosso autor não chega a ser um maldito, na acepção decadentista do termo, mas, de qualquer modo, se não houvesse a caricatura, bem poderia ter sido um deles.

Pinóquio: "As aventuras de Pinóquio" (Carlo Collodi)


Um pedaço de madeira falante aparece misteriosamente na oficina do mestre Cereja. O marceneiro, apavorado, presenteia o amigo Gepeto com essa peça de madeira viva. Gepeto tem planos ambiciosos: fabricar uma marionete maravilhosa, capaz de dançar e dar saltos mortais, e ganhar o mundo com sua atração.Os planos do pobre marceneiro, porém, não se concretizam. Mal nasce, Pinóquio já começa com suas estripulias: arranca a peruca amarela de seu "pai", e seu nariz começa a crescer até se tornar um "narigão interminável". Daqui por diante, Pinóquio vai se meter em confusão atrás de confusão. Vende a cartilha que ganhou de Gepeto, escapa de ir à escola e vai parar no Grande Teatro de Marionetes. Ele se defronta com as artimanhas da Raposa e do Gato, que o levam para o Campo dos Milagres e tentam enforcá-lo. Do seu lado, estão o conselheiro Grilo-Falante e a Fada de cabelos azuis, que aparece para salvá-lo da armadilha do País dos Brinquedos, onde os meninos se transformam em burros. As aventuras de Pinóquio é a obra original de Carlo Collodi, publicada pela primeira vez em 1883. Em seu percurso de transformação de boneco em menino, Pinóquio enfrenta as intempéries das noites longas e frias, depara com a autoridade da lei, padece de uma fome terrível e descobre a solidão da condição humana. Fantasia, humor e ironia se combinam neste clássico da literatura, indicado para todas as idades.

  • O livro foi escrito no final do século XIX.

O Cemitério dos Vivos (Lima Barreto)


Sob a estética do Pré-Modernismo, analiso a obra Cemitério dos Vivos, de Lima Barreto, estabelecendo relações dessa com História da Loucura, de Michel Foucault.
Em Cemitério dos Vivos é relatada a vida (desde os quase 20 anos de idade) de Vicente Mascarenhas que conhece, no hotel em que estava hospedado, no Rio de Janeiro, a propósito de seus estudos, a filha da dona do lugar, Efigênia. Entre muitos fatos e detalhes narrados, é evidenciado que, por uma questão de acomodação, casa-se com Efigênia. Assim, muitas foram as dificuldades e as dívidas nessa relação, se é que podemos chamar, amorosa. Mascarenhas somente dá a valorização devida e sente falta da esposa após essa ter falecido. O filho do casal, com 4 anos de idade, tinha problemas mentais e o pai, entrega-se ao alcoolismo. No natal de 1919, Mascarenhas foi internado em um hospital psiquiátrico. Este livro retrata, ora uma tragédia pessoal (a vivência no hospício), ora uma tragédia familiar (casamento sem valor diante de seus olhos). Bosi (1997) esclarece que a obra compilada postumamente, divide-se em duas partes: a primeira, o diário do escritor, respectivo ao casarão da Praia Vermelha; a segunda, o romance, esboçando a tragédia doméstica  com fragmentos alternados entre suas memórias no hospício. Duplamente interessante isto: primeiro, porque ratifica a tragédia do personagem Mascarenhas e, em segundo lugar, porque, atento para o termo do escritor, ou seja, a obra possui um caráter biográfico - autobiográfico - na medida em que está, o próprio Lima Barreto, falando de sua vida. Nessa proporção, tem-se ainda Diário Íntimo, também um livro de memórias, de observações pessoais e que, em hipótese alguma, almejava ser publicado, bem como as tiras de papel escritas no hospício, por vezes a lápis, outras à tinta de Cemitério dos Vivos - ambos guardados na Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional e publicados em 1956.  O livro trata das lembranças vivenciadas que Mascarenhas vai relatando. Inicia-se com a explicação de que ele está num hospício (um tempo presentificado por seu narrador-protagonista) e, após, o relato de lembranças, fatos e acontecimentos, tanto dentro, quanto fora do hospício (dados em um tempo passado até o final do texto). Sob o ponto de vista da biblioteca, faço menção a um ponto de suma importância no desenrolar da obra que unirá as duas pontas dessa obra de Lima Barreto e da obra de Foucault, História da Loucura. Ao longo de toda a narrativa, Cemitério dos Vivos, evidencio o quanto Mascarenhas adora o prazer da leitura. Dessa maneira, é em Foucault que posso ratificar a significação que o universo do personagem-protagonista possui, especificamente, quando enfatiza que a civilização desenvolve a loucura. O narrador possui fascínio por suas leituras. Com base em Foucault (1972), certamente, é muito fina e tênue a película que separa a in sanidade e a sabedoria. Acredito, fielmente, na possibilidade de qualquer processo em excesso causar danos. Assim é com a paixão - seja qual for seu objeto. Este personagem possui um grande interesse por viver um mundo fantasioso: o da leitura - assim como o próprio Barreto!

Na obra, Barreto faz referência à deusa Ísis - deusa mitológica egípcia - que conquistou não só o vale do Rio Nilo em uma país afortunado, mas também todas as nações através de sua eloqüência  persuadindo e comovendo por meio de palavras. Nesse sentido, constato como foi bem escolhida a deusa, pois o autor, um apaixonado pelas rodas literárias e pela academia, busca uma figura que, assim como ele, ratifica o amor pelas letras e pelas palavras. Barreto expõe como ninguém a sociedade que o circundava. Dessa forma, Cemitério dos Vivos foi uma obra cujas páginas expressavam sua pura rebeldia intelectual. Assim, concluo que Barreto, por meio das experiências vivenciadas no hospício tratou de relatá-las sob a voz de um personagem que, assim como ele apresenta-se marginalizado, estigmatizado e, por fim, tido como louco. Durante toda a diérese existem as marcas de uma sociedade que se mostra rotuladora da sanidade e insanidade dos outros: do que é certo e do que é errado. Junto a isso, evidencio, ainda, no convívio de Barreto no hospício, que as diferenças econômicas - das classes sociais - são gritantes e, também, permeiam toda a narrativa, bem como as hierarquias. Afinal, no que diz respeito a essas últimas, além dos diferentes níveis sociais - pobres e ricos no hospício -, existe também a hierarquia da categorização dessas pessoas - pensionistas, crianças, mulheres - e das que trabalham no local. Para finalizar, em relação a uma perspectiva de Brasil, percebo que o desfecho da obra é inacabado e, em sua cena final há o trecho em que ele revela ter ficado só, à janela. Estar só no vão da janela, aponta para uma situação de  passividade, de não ter o que se fazer, de falta de expectativa e, assim, de perspectiva em relação ao Brasil. Essa questão aponta diretamente para todas as mudanças que já estavam ocorrendo com a Semana de Arte Moderna. Dessa maneira, o que Lima Barreto faz em sua obra é abrir espaço para que seja conhecido o mundo tão estigmatizado dos loucos, não deixando, também, de estar fazendo uma crítica ao sistema carcerário dos hospícios pelo modo como tratam seus internos. Lima Barreto desvela o mundo dos loucos e, assim, antecipando o Modernismo, inclui indivíduos tão excluídos - não em relação racial, mas em relação à sociedade - cumprindo, assim, seu papel principal: agredí-la!

A Viuvinha (José de Alencar)

A obra é uma estória de um jovem casal, Carolina e Jorge. Jorge é um jovem que foi criado por Sr. Almeida, que é quem lhe dá a notícia da desonra e miséria do nome de seu pai, por causa de algumas dívidas. Isso faz com que Jorge se sinta culpado em se casar com Carolina e na sua noite de núpcias forja sua morte para fugir e ter tempo de limpar o nome de seu pai. Carolina dormiu virgem e acordou “viúva.” Depois de algum tempo, com honra e dinheiro Jorge volta (primeiramente mascarado) para seu grande amor que nunca desistiu de o esperar. 

As personagens:
• Carolina: forma junto com Jorge o casal protagonista da obra, é jovem, perfil suave e delicado, olhos negros e brilhantes, cílios longos, tranças que realçavam sua fronte pura, rica e apaixonada.
• Jorge: jovem que já fora muito rico e agora se mostrara simples nos atos e na existência. • Dona Maria: mãe de Carolina, senhora de idade. 
• Sr. Almeida: negociante, ex-tutor de Jorge, velho de têmpera antiga, calvo, com energia no caráter, vivacidade no olhar e porte firme.

 O enredo: 
• Não linear.... 
• O desfecho se dá na casa de Carolina...

 O ambiente:
 • Físico/social
 • A casa de Carolina 
 • As ruas do Rio 
 • O bar
 • A construção

O tempo: 
• Cronológico : “Se passasse há dez anos...."

O foco narrativo:
• Narração na terceira pessoa , pois o narrador é somente observador dos fatos. 

A verossimilhança: 
• A obra retrata uma realidade passada do autor, mas não vivida e sim assistida.

Escola literária: 
ROMANTISMO: Teve início no século XIX, como a obra Suspiros Poéticos (1836) de Gonçalves de Magalhães, tem como característica o culto ao eu, o individualismo, a constante busca pelas forças inconscientes da alma, o coração acima da razão...o mal do século. A natureza passa a ser a expressão da perfeição de Deus....
"...aquela doce intimidade de um amor puro e tranqüilo."

 A mensagem:
• Mensagem de amor e honra....
• Amor eterno e incondicional e honra pelo nome... 

Conclusão: 
• A obra é um lindo romance que dá asas à imaginação, tem como tema o amor entre um homem e uma mulher, tema atual em todos os tempos e por isso prende a atenção dos leitores mais variados. Foi importante dentro do seu movimento literário.

Correspondência de Abelardo e Heloísa (Martins Fontes)


O caso de Abelardo e Heloísa é uma história de Amor das antigas, anterior a Romeu e Julieta, do século XII para ser mais preciso. Pouco sabemos de verdade sobre este Amor entre professor e aluna se sequer se existiu. O livro em si, Correspondência de Abelardo e Heloísa * além de um breve estudo inicial, nos apresenta cinco epístolas - gênero muito difundido na antiguidade latina - trocadas entre os famosos "amantes", as quais juntas costuram um tecido de uma apaixonante colcha de casal medieval, sem rasgá-lo ou remendá-lo por completo. Ao contrário, deixam dúvidas descobertas tão atrozes que inúmeros estudos e hipóteses são bordados há quase 1000 anos. Enfim, um belíssimo texto no sentido pleno.
A primeira das cartas é, na verdade, uma confissão de Abelardo a um amigo. Toda a história dos infortúnios é contada longa e complacentemente: das aulas (e confusões) de filosofia que o professor ministrava nas incipientes escolas medievais, dos primeiros encontros furtivos com a bela e jovem Heloísa ao trágico episódio da castração do protagonista (sim, castração!) e o longo e conseqüente arrefecimento de uma "concupisciência literária" amaldiçoada na obra. O gênero epistolar e a tragédia da emasculação podem parecer desestimulantes ou desagradáveis (principalmente aos homens…) mas, ao contrário, a prosa é por demais envolvente e impetuosa. O tom íntimo e confessional da carta, bem como a retórica e erudição do autor - exageros de linguagem característicos destes tempos "barrocos" - cativam e inebriam, ainda que desconfiemos da soberba do protagonista em suas confissões, ora puramente arrogante, ora calorosa: "Sob o pretexto de estudar, entregávamos inteiramente ao amor. As lições nos propiciavam esses tête-à-tête secretos que o amor anseia. Os livros permaneciam abertos, mas o amor mais do que nossa leitura era o objeto dos nossos diálogos; trocávamos mais beijos do que proposições sábias. Minhas mãos voltavam com mais freqüência a seus seios do que a nossos livros. O amor mais freqüentemente se buscava nos olhos de um e outro do que a atenção os dirigia sobre o texto" [1].
Heloísa coloca sua colher na obra quando recebe e lê por acaso a carta endereçada ao amigo de Abelardo. Responde-lhe então com o fervor e a paixão do amor feminino, mas um amor já contido e amargurado pela desgraça dos infortúnios que lhes afligira (certamente, muito mais a ele!), um amor já em princípio de revolta, tamanha submissão religiosa por ela aceita - ambos dedicam-se à vida monástica após o fracasso amoroso. Abelardo recebe e responde a epístola de sua amada, porém ensaia uma resposta com ensinamentos de uma frieza tão grande que chega a parecer desdém aos pedidos de boa notícia que Heloísa tanto lhe rogava. Aí ela "roda a baiana" na quarta carta - um reconhecido ponto alto da obra.
Ela confessa-lhe um amor inimaginável, supremo e irrestrito, acima do Deus a quem ela serve por obrigação do pedido de Abelardo, unicamente como prova de amor incondicional a seu amado terreno. Assim, Heloísa profere vitupérios ao destino (a deusa Fortuna, para a cultura latina), à sabedoria, à prudentia, à temperança, à castidade e a todos os valores que lhe parecem falsos por terem lhes conduzido à infeliz ruína amorosa - resumo de sua vida conjugal. E o aparato filosófico e bíblico esquenta o conflito entre intelecto monástico e mente pecaminosa, caliente em diversas passagens: "Os prazeres amorosos que juntos experimentamos têm para mim tanta doçura que não consigo detestá-los, nem mesmo expulsá-los de minha memória. Para onde quer que eu me volte, eles se apresentam a meus olhos e despertam meus desejos. Sua ilusão não poupa meu sono. Até durante as solenidades da missa, em que a prece deveria ser mais pura ainda, imagens obscenas assaltam minha pobre alma e a ocupam bem mais do que o ofício. Longe de gemer as faltas que cometi, penso suspirando naquelas que não pude cometer" [2]. Nem os homens nem mesmo as mulheres escapam a suas vociferações ("As mulheres não poderão então jamais conduzir os grandes homens senão à ruína" [3]) - argumento a favor da manipulação e falsidade da própria obra.


Abelardo encerra neste livro o conjunto das correspondências com uma carta consoladora. Uma espécie de tratado que defende os valores sacrossantos do matrimônio (pois resignou-se a acreditar que seu casamento fora um atentado ao pudor - ah, se eles imaginassem a lascívia do mundo de hoje…), uma contra-argumentação sólida dos pontos fortes expostos por Heloísa que se assemelha a um primeiro tratado de pura retórica. E digo "neste livro" e "primeiro tratado" pois parece haver continuação desta seqüência de epístolas, de essência puramente filosófica, diferente destas apaixonantes cartas - tema de novos tratados para um outro livro. Para os mais eufóricos com o cinema, há uma adaptação de 1988 deste caso de amor para as telas, o filme Stealing Heaven (traduzido no Brasil como Em nome de Deus), que, além das cores reluzentes, não guarda a mágica das palavras, ainda que conte quase a mesma história…
Há um encaixe perfeito entre as epístolas (ou coesão do conjunto, um discurso compacto e persuasivo, segundo Duby [4]) que nos faz questionar não só a autenticidade da correspondência mas também o propósito monástico de tais escritos. Há um ambiente cristão misturado a valores pagãos, o que tempera a imaginação com muito misticismo medieval. Uns se questionam: houve mesmo tamanho desencontro e sofrimento nesta tragédia, no sentido medieval do termo (ação com final infeliz), como nos lembra Zumthor no prefácio do livro. Há a valorização da tradição latina em confronto com o ideal cavaleiresco que surge no período e inúmeros outros apontamentos. Enfim, muito já se falou e ainda é possível falar sobre esta facinante história de amor de tão longes tempos. E uma infinidade de leituras permite também uma inesgotável gama de análises - proposta que foge do objetivo deste curto ensaio. Como este amor fracassou ou por quê Abelardo foi castrado? - estas ciladas da curiosidade ficam ao leitor e leitora que desejam saber mais de uma história de Amor que vale a pena ser conhecida.

As Pupilas do Senhor Reitor (Júlio Dinis)

Narrativa romanceada tipicamente aldeã da terceira geração romântica engloba dois pólos significativos para o desenvolvimento da história: as irmãs Clara e Margarida e os irmãos Daniel e Pedro das Dornas tendo como intermediário o Senhor Reitor. A narrativa se passa em uma aldeia e conta a história de amor de Margarida e Daniel e Clara e Pedro. Possui um fundo sarcástico e um pouco irônico, introduzindo já o realismo em Portugal, mas sem deixar de lado a forte influência do romantismo na Europa. Contudo, esse realismo pode ser observado por meio do caráter das personagens. Daniel, ainda menino, prepara-se para ingressar no seminário, mas o reitor descobre seu inocente namoro com a pastorinha Margarida (Guida). O pai, José das Dornas, decide, então, enviá-lo ao Porto para estudar medicina. Dez anos depois Daniel volta para a aldeia, como médico homeopata. Margarida, agora professora de crianças, conserva ainda seu amor pelo rapaz. Ele, no entanto, contaminado pelos costumes da cidade torna-se um namorador impulsivo e inconstante, e já nem se lembra da pequena pastora. A esse tempo, Pedro, irmão de Daniel, está noivo de Clara, irmã de Margarida. O jovem médico encanta-se de Clara, iniciando uma tentativa de conquista que poria em risco a harmonia familiar. Clara, inicialmente, incentiva os arroubos do rapaz, mas recua ao perceber a gravidade das conseqüências. Ansiosa por acabar com impertinente assédio concede-lhe uma entrevista no jardim de sua casa. Esse encontro é o ponto culminante da narrativa: surpreendidos por Pedro, são salvos por Margarida, que toma o lugar da irmã. Daniel tornando-se doutor, ignora todo o conhecimento e a experiência de João Semana, médico da aldeia, e passa a aceitar e compreender todo o mecanismo de uso dos conhecimentos medicinais em meio à uma aldeia, um local que acredita em muitos mitos ainda e em muitas formas de se curar ainda. Pedro, irmão mais velho de Daniel, é um trabalhador do campo e luta para defender as terras de seu pai que são herança suas e de seu irmão. Clara é filha do segundo casamento do pai de Margarida com sua mãe. Por isso, sempre foi mimada até que sua mãe morre. Na morte dela, Clara passa a trabalhar também para ajudar no sustento da casa, justamente por ser orgulhosa. Já Margarida demonstra a tristeza de ter perdido o pai e a mãe desde criança e encontra em Daniel um apoio e um namorado. Diferente de Clara, Margarida pensa muito em fazer as coisas e pensa também nas pessoas, inclusive no seu professor na hora da morte dele, pedindo à Daniel que o ajudasse. Margarida é pura emoção; Clara é pura razão. Num cenário povoado de tipos humanos cuja bondade só é maculada pelo moralismo quase ingênuo de comadres fofoqueiras, desenrola-se esse drama amoroso. Rapidamente esses acontecimentos tornam-se um grande escândalo que compromete a reputação de Margarida. Daniel, impressionado com a abnegação da moça, recorda-se, finalmente, do amor da infância. Apaixonado agora por Guida (a menina Margarida), procura conquistá-la. No último capítulo, depois de muita resistência e de muito sofrimento, Margarida aceita o amor de Daniel. Obs: O autor coloca em cheque a diferença social que existe entre um irmão e outro e a preferência do Senhor José das Dornas explícita pelo filho mais novo. É a realidade sendo colocada às claras já no final da terceira geração romântica sem perder o romantismo. A veracidade dos fatos começa a ser transferida para os livros, mas de uma forma que não venha a chocar o leitor.

Núcleo principal:

O que foi falado acima é o núcleo principal. Com ele surgem outros núcleos como os amigos de Pedro, a taberna, etc. A chegada de um noviço faz com que Daniel sinta, após anos de estudos, ciúme de Margarida. Margarida sabendo do encontro de sua irmã com Daniel foi no lugar do encontro para salvar a sua honra. No final tudo se esclarece e Pedro perdoa Clara e Daniel se arrepende de ter se esquecido de Margarida e da promessa que fez ao ir estudar na capital da província (quando eram mais novos), que era de nunca se esquecer dela e se guardar para ela. 

Personagens Principais:

Senhor Reitor: tornou-se tutor de duas jovens órfãs, a quem muito estimava, e lhes valeu como pai, conselheiro e professor: Clara e Margarida. Clara: “Clara possuía um gênio, com o qual se não davam as apreensões. Não calculava conseqüências. A vida era o presente. (...) A sua confiança em tudo chegava a ser perigosa. Um inesgotável fundo de generosidade, elementos principal daquele caráter simpático.” Margarida: “De caráter triste e sombrio, que é traço indelével que fica de uma infância, à qual se sufocaram as naturais expansões e folguedos, em que precisa transbordar a vida exuberante e bela.” Daniel: Amigo de infância de Margarida, filho do abastado José das Dornas, também pai de Pedro. Margarida afeiçoara-se a Daniel. Daniel tem constituição física frágil, o que leva o pai a direcioná-lo para o sacerdócio por meio do Reitor. Como Daniel aos treze anos confessa que não tem vocação para a carreira religiosa, o Reitor convence o pai a enviá-lo ao Porto para estudar medicina e ser doutor. Pedro: irmão de Daniel se noiva de Clara. Dr. João Semana: médico octogenário de idéias limitadas e ultrapassadas. João da Esquina: comerciante boçal atento a intrigas e brigas locais, representante do meio mesquinho e pequeno. Velho Mestre: velho filósofo que se instalara na vila para procurar paz na vida do campo e preparar-se para morrer. O velho servia de mestre a Margarida, criando amizade com a moça, que muito aprendia com o filósofo.

Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcelos)


Zezé era um garoto que tinha 6 anos (ou 5 mas gostava de dizer que ele tinha seis). Ele vivia em uma casa de tamanho médio. Seu pai se chamava Paulo e estava desempregado. Sua mãe, por causa de seu marido desempregado trabalhava até tarde numa fábrica. Tinha mais três irmãos: Totoca, Jandira e Glória.
Por causa do desemprego de seu pai, eles foram obrigados a mudar para uma casa menor, onde o garoto conheceu Minguinho, seu pé de laranja lima, que fica sendo seu melhor e único amigo.
Como o moleque sempre foi muito arteiro recebeu muitas palmadas e era surrado constantemente apesar de que as vezes não tinha culpa do que acontecia.
O garoto tinha cinco anos, aprendeu a ler e por isso foi a escola mais cedo. Lá ele era um garoto muito comportado e gostava muito da professora Célia Paím, a qual, levava flores todos os dias, e apesar de contarem a ela o diabinho que ele era ela não acreditava.
Um dia o garoto foi pegar uma carona do lado de fora do carro, mas o carro era de um português chamado Manuel Valandarez, que tinha o carro mais bonito da cidade. O português viu isto e lhe deu uma surra que o garoto jurou se vingar.
Mas o tempo foi passando e o garoto ia se esquecendo. Um dia ele pisou num caco de vidro que abriu um corte, mas mesmo assim o garoto ficou decidido de ir para a escola.
Enquanto atravessava uma rua o português viu o garoto e pediu para ver o corte. Vendo aquele corte enorme ele levou o garoto de carro até o hospital, e fizeram muitos ponto nele.
Desde então eles ficaram muito amigos e o português foi lhe tratando como um filho, sempre muito carinhoso. Foram até pescar algumas vezes e passavam a tarde toda juntos. Outras vezes iam tomar sorvete e fazer outras coisas. Outra vez o português deixou o menino andar de carona em seu carro. O português o convenceu até de não falar mais palavrões.
Eles eram muito amigos até que ele recebeu a notícia que o carro do português foi esmagado por um trem, o português não resistiu e morreu.
O garoto entrou numa depressão profunda, e como a família desconhecia a sua amizade com o português, eles acharam que foi a notícia que seu pé de laranja lima seria cortado.
O garoto permaneceu dias comendo pouco, sem falar, deitado em sua cama e querendo morrer. Mas com as palavras de Glória, sua irmã preferida, ele conseguiu retornar a sua vida normal.

Amor de Perdição (Camilo Castelo Branco)


Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, membros de família rivais da cidade de Viseu, em Portugal apaixonam-se "perdidamente”, no entanto, logo percebem à impossibilidade da realização desse amor por meio do casamento, pois suas famílias eram declaradamente inimigas. Não tarda muito para os jovens amantes sentirem na pele todo o ódio de seus pais.
Tadeu de Albuquerque, pai de Teresa, ao descobrir o romance, trata de prometer a mão de sua filha a seu sobrinho Baltasar Coutinho. No entanto, a moça rejeita o pretendente, fato que irrita profundamente o pai. Surge, nesse momento, o segundo grande elemento complicador.
Desprezado e ofendido em seus brios Baltasar alia-se ao tio e juntos tramam o destino da pobre Teresa. Decididos, procuram persuadi-la a esquecer Simão, sob pena de a encerrarem em um convento. Teresa, temendo a ira de seu pai diante do rompimento causado por sua desobediência, aceita passivamente seu destino, prometendo afastar-se de Simão. No entanto, da repulsa ao casamento imposto por seu pai, ela continua irredutível.
A moça não aceitava um casamento contrário às regras de seu coração. Na casa dos Botelhos, concomitantemente a esse fato, o pai de Simão, muito irritado com aquela desdita paixão resolve pôr fim ao romance entre seu filho e Teresa, enviando o jovem Simão a Coimbra para concluir seus estudos, almejava com isso sufocar o amor dos jovens pela distância.
Porém, nem mesmo esse empecilho foi capaz de destruir esse infortúnio sentimento. Teresa mesmo confinada em sua casa escrevia a Simão, contando os dissabores por que passava e haveria de passar, sob as pressões de seu primo e de seu pai. Contudo, mesmo diante dessas adversidades, os amantes clandestinamente se comunicavam por cartas com certa freqüência.
Comunicação essa, que revigorava ainda mais o amor dos dois. Simão, enlouquecido pela saudade de sua amada, decide ir a Viseu encontrar-se com Teresa. Furtivamente, é hospedado pelo ferreiro João da Cruz, homem destemido, forte e fiel. Sob proteção de João, Simão tenta chegar à casa de Teresa, mas lá estava Baltasar comemorando o aniversário da prima. O astuto Baltasar consegue perceber a ansiedade de Teresa e deduz o que estava para acontecer.
No meio da festa a jovem tenta falar com Simão no jardim, contudo o casal é surpreendido, arma-se uma confusão que culmina com as mortes de dois criados de Baltasar. Desse entrevero Simão sai ferido.O rapaz busca refúgio na casa de João da Cruz para recuperar-se dos ferimentos. Entretanto, ainda não estava determinado o fim desse romance.
Os amantes ainda mantinham comunicação por meio de uma velha mendiga que passava com freqüência sob a janela do quarto de Teresa. Para punir a rebeldia da filha, Tadeu de Albuquerque decide mandá-la a um convento do porto - chamado Monchique - cuja prioresa era patente de Teresa. Antes, porém, a jovem é recolhida em um convento na própria cidade de Viseu, enquanto Tadeu aguardava a resposta do Porto.
Em Viseu, na casa do ferreiro, Mariana, filha de João da Cruz, torna-se a enfermeira de Simão, tratando-o com muito cuidado. Nasce nela um profundo amor pelo enfermo. Amor esse não revelado pela moça.
Mariana, sabedora que Simão e Teresa não estavam conseguindo manter a comunicação, visto que Teresa estava sob rigorosa vigilância, resolve ajudar os amantes.
Mariana vai até o convento com a desculpa de visitar uma amiga. Sua ação é bem sucedida, a filha de João da Cruz consegue falar com Teresa e essa manda um recado a Simão. Nele a jovem fala de sua impossibilidade de escrever a Simão e que ela iria para um convento na cidade do Porto.
Simão ao tomar conhecimento dos fatos, fica furioso e, em um acesso incontido de raiva, decide tentar raptar Teresa de seu fatídico fim no convento. O jovem defronta-se com Baltasar, na tentativa de resgatar a amada. Mesmo diante de várias testemunhas o jovem Simão atinge Baltasar com um tiro mortal.
Em meio à confusão surge João da Cruz que procura dar cobertura a fuga de Simão, contudo esse recusa-se a fugir entregando-se a prisão.
Simão é preso e condenado a morte. Porém, devido à interferência do corregedor Domingos Botelho, pai de Simão, a pena é convertida ao degredo nas Índias.
Em meio a tanta tragédia, Simão ainda preso no Porto, toma conhecimento que seu fiel amigo João da Cruz havia sido assassinado. Mariana, sem ter mais ninguém, resolve acompanhar Simão ao desterro. Essa situação aflora, no coração da jovem Mariana, a esperança de concretizar o seu amor por Simão.
A sentença do desterro sai, Simão é condenado a ficar dez anos na Índia. Enquanto para Mariana o degredo é sinônimo de esperança, para Simão, a Índia é sinônimo de humilhação e miséria.
Teresa começa a ter sua saúde abalada. Definha, cada vez mais triste e muito magoada, a linda fidalga parece ter perdido a vontade de viver. Seu fim aproxima-se, recusa-se a evitá-lo.

Ao embarcar, Simão vê Teresa, que morre de desgosto. Nove dias depois da morte de Teresa, Simão, doente, com febre, acaba por morrer também, e no momento em que lançam o corpo ao mar, Mariana, filha do ferreiro, lança-se ao mar também, pois estando tão apaixonada por Simão, quis acompanhar seu grande amor.
Ironicamente, na água do mar sem fim, bóiam papéis. São cartas de Simão e Teresa.
Da família de Botelho restou apenas o filho de Manoel Joaquim Botelho, CAMILO FERREIRA BOTELHO CASTELO BRANCO, o AUTOR deste romance.
Esse romance foi escrito por Camilo em 15 dias, quando o autor vivia na prisão, condenado pelo adultério com D. Ana Plácido.
Mistura de realidade e fantasia é o que presenciamos. Os dois amantes infelizes não conseguem a felicidade na Terra, transferem suas esperanças para o misterioso Além-Túmulo.
Percebemos nessa grandiosa obra, o conflito entre o amor e os preconceitos, representados na rivalidade das duas famílias. Rivalidade que leva ao desespero, ao crime. Nota-se, também, um grande desabafo do autor que tem a alma sofrida e revoltada, colocado em uma cadeia por adultério. Vida amorosa que se afogou em lágrimas, na infelicidade e na morte. E que nos é apresentada com uma linguagem rica, vibrante e apaixonada.


A Obra

O livro Amor de Perdição é um romance do autor Camilo Castelo Branco. Durante uma vida de 64 anos ele escreveu textos monumentais. Passou por momentos difíceis e transportou para seus livros emoções fortes e contagiantes. Um mundo criado à sua imagem e semelhança. Há sentimento, paixão, cinismo, sarcasmo, ensinamentos morais, emoção, drama, ódio, amor, comédia, blasfêmia, oração. Provoca elogios e críticas. E é nesse meio que surgiu Amor de Perdição.

PERSONAGENS: Simão Botelho, Teresa Albuquerque, Mariana, Baltasar, Domingos Botelho, Tadeu Albuquerque, João da Cruz, Camilo Ferreira Botelho, Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco, Jacinta Rosa do Espírito Santo Ferreira.

BIOGRAFIA: Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa a 16 de Março de 1825, na freguesia dos Mártires, num prédio da Rua da Rosa, atualmente com os nºos 5 a 13. Filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco e de Jacinta Rosa do Espírito Santo Ferreira, foi batizado na Igreja dos Mártires a 14 de Abril de 1825. Os seus padrinhos foram o dr. José Camilo Ferreira Botelho, de Vila Real, e Nossa Senhora da Conceição.
Camilo foi registado como filho de mãe incógnita, pelo que se diz, porque o seu pai e a sua avó não queriam que o nome Castelo Branco estivesse envolvido com alguém de tão humilde condição. A morte do pai obrigou-o a ir viver para Trás-os-Montes. Como era uma criança sensível e muito inteligente, vai sofrer grandes perturbações com todos os acontecimentos da sua infância. Ao longo da sua existência revelou-se um falhado nos estudos e nos amores. As vicissitudes da vida fazem-lhe despoletar a ideia de que a fatalidade e a desgraça são destinos a que não pode escapar. Foi um profissional das letras multifacetado, cuja obra o posicionou com uma das figuras mais eminentes da literatura portuguesa. Suicidou-se a 1 de Junho de 1890, na freguesia de Ceide, Vila Nova de Famalicão.

Moby Dick (Herman Melville)


A história começa na Costa Leste dos Estados Unidos, em meados do século XIX. O narrador, o marinheiro Ismael, chega à cidade de New Bedford, faz uma escala na sua viagem até Nantucket, um importante porto baleeiro. Ele se hospeda no Spouter Inn, onde conhece Queequeg, um arpoador da Nova Zelândia. Embora Queequeg pareça perigoso, Ismael é obrigado a compartilhar uma cama com ele para passar a noite, e rapidamente se afeiçoa a este arpoador um tanto selvagem. Na realidade, Queequeg era o filho de um Grande Chefe e deixara a sua terra porque desejava aprender mais entre os Cristãos. No dia seguinte, Ismael vai à igreja e ouve um famoso pregador, o Padre Mapple, fazer um sermão sobre Jonas e a baleia, que conclui afirmando que o episódio ensina a pregar a Verdade diante da Falsidade.
Numa escuna para Nantucket, Ismael e Queequeg se encontram com um brutamontes local, que zomba de Queequeg. No entanto, quando este brutamontes é lançado pela borda do barco, Queequeg o salva. Em Nantucket, Queequeg e Ismael escolhem entre três navios para uma viagem de um ano, e decidem-se pelo baleeiro Pequod. Peleg, o capitão do Pequod, está agora aposentado e é apenas o proprietário do navio, associado a Bildad, outro quaker como ele. Peleg fala com eles sobre o novo capitão, Ahab, e imediatamente o descreve como um homem grandioso mas pouco cristão. Pouco antes de embarcarem, Ismael e Queequeg encontram um estranho homem chamado Elias, que prevê desastres para eles durante a viagem.
Os dois embarcam no Pequod, onde o capitão Ahab ainda está oculto, trancado na sua própria cabine. Peleg e Bildad conversam com Starbuck, o primeiro imediato. Ele também é quaker e um nativo de Nantucket, sendo um homem bastante prático. Stubb é o segundo imediato; nascido em Cape Cod, ele tem uma atitude mais descontraída e jovial. O terceiro imediato é Flask, um nativo de Martha's Vineyard que possui uma postura mais combativa. O resto da tripulação é composto principalmente por marinheiros tipicamente americanos, mas há alguns tipos diferentes, tais como os outros arpoadores, o índio Tashtego e o africano Daggoo.
Após vários dias de viagem, Ahab finalmente aparece para a tripulação. Ele é um homem muito rígido e imponente, e possui uma perna artificial feita de marfim retirado de um osso de baleia. Durante sua fala para os tripulantes, Ahab acaba tendo uma altercação violenta com Stubb, que tinha feito uma brincadeira inconveniente às custas do capitão. O segundo imediato é repreendido publicamente e com vigor. Isto faz com que Stubb deseje se vingar, arrancando a perna de marfim do capitão, mas Flask diz a ele que receber tal repreensão de Ahab é um sinal de honra.
Por fim, Ahab diz à tripulação do Pequod para procurar uma enorme baleia branca com um dorso enrugado: Moby Dick, a lendária baleia que tinha arrancado a perna de Ahab. Starbuck diz a Ahab que sua obsessão com Moby Dick é loucura, mas Ahab afirma que todas as coisas são máscaras e existe alguma razão oculta por trás desta máscara que precisa ser desvendada por um Homem. Para Ahab, Moby Dick é esta máscara. O próprio Ahab parece reconhecer sua loucura. Starbuck começa a se preocupar que o navio esteja dominado por um capitão insano e prevê um fim ímpio para Ahab.
Enquanto Queequeg e Ismael trançam um feixe de arpões para amarrar ao seu barco, o Pequod avista uma baleia e Ahab ordena que a tripulação vá para os botes. Ahab também envia sua equipe especial, formada por parses liderados pelo sinistro Fedallah, os quais são comparados a fantasmas por Ismael. Os tripulantes atacam a baleia e Queequeg consegue arpoá-la, mas isso não é suficiente para matá-la.
Depois de passar pelo Cabo da Boa Esperança, o Pequod avista o Goney, outro navio baleeiro em viagem. Quando os barcos passam perto um do outro, Ahab pergunta se eles tinham visto Moby Dick, mas não consegue ouvir a resposta. O simples fato dos navios apenas se cruzarem é algo pouco comum, pois geralmente navios em alto-mar param ao se encontrarem para troca de informações e ajuda mútua. Mais tarde, o Pequod faz uma parada ao encontrar com outro navio, o Town-Ho. Ismael reproduz uma história que ele ouviu dos marinheiros do Town-Ho, falando sobre o quase motim da tripulação e de uma batalha contra Moby Dick.
O Pequod derrota a baleia seguinte que ele encontra, pois Stubb a golpeia com seu arpão. No entanto, quando os marinheiros tentam trazer a baleia para o navio, tubarões atacam a carcaça e Queequeg quase perde a mão ao tentar afugentá-los.
A seguir, o Pequod encontra o Jereboão, um navio de Nantucket atingido por uma epidemia. Mais tarde, Stubb conta uma história sobre o Jereboão e um motim que aconteceu neste navio por causa da presença a bordo de Gabriel, um profeta afetado por tremores. Mayhew, o capitão do Jereboão, alerta Ahab sobre Moby Dick.
Depois de apanhar um cachalote, Stubb também mata uma baleia branca. Embora não esteja na programação do navio, o Pequod persegue uma baleia branca por causa dos bons presságios associados a ter juntas num mesmo barco as cabeças de um cachalote e de uma baleia branca. Stubb e Flask discutem rumores sobre Ahab ter vendido sua alma a Fedallah.
A embarcação seguinte com a qual o Pequod se encontra é o Jungfrau, um navio alemão desesperadamente necessitado de óleo. O Pequod compete com o Jungfrau por uma grande baleia, e consegue arpoá-la. Entretanto, a carcaça da baleia começa a afundar quando o Pequod tenta amarrá-la, e ela é abandonada no mar. A seguir, o Pequod encontra um grande grupo de cachalotes e fere várias delas, mas captura apenas uma.
Stubb prepara um plano para arrancar âmbar-gris de outro navio com o qual o Pequod se encontra, o Rosebud. Stubb avisa aos marinheiros do Rosebud que as baleias que eles tinham capturado eram inúteis e podiam colocar a embarcação em perigo. Quando o Rosebud abandona as baleias, o Pequod as recolhe e a tripulação consegue extrair o precioso âmbar-gris de uma delas.
Vários dias após o encontro com o Rosebud, Pip, um jovem negro, entra em pânico quando seu bote estava caçando uma baleia e se atira no mar, se emaranhando na corda do arpão. Stubb o repreende furiosamente por sua covardia e diz que ele será abandonado no mar se fizer isso novamente. Quando Pip repete seu gesto, Stubb mantém sua palavra e Pip só sobrevive porque um bote próximo o resgata. Como conseqüência do trauma, Pip enlouquece.
O navio seguinte com o qual o Pequod se encontra é uma embarcação britânica chamada Samuel Enderby. Eles têm notícias sobre Moby Dick, mas um dos tripulantes, o Dr. Bunger, previne Ahab a se manter afastado da baleia. Mais tarde, a perna de Ahab se quebra e é necessário que o carpinteiro a conserte. Ahab trata o carpinteiro com desdém. Quando Starbuck descobre que há uma fenda no casco, ele vai até a cabine do capitão para dar a notícia e dar suas sugestões. Ahab discorda da opinião de Starbuck e fica tão enfurecido que chega a apontar um mosquete para ele. Embora Ahab avise a Starbuck que existe apenas um Deus no mundo e um capitão no Pequod, o imediato diz que ele não será um perigo para Ahab, pois Ahab já é um perigo suficiente para si mesmo. Ahab acaba aceitando o conselho dado por Starbuck.
Queequeg fica muito doente com febre e parece estar à beira da morte. Ele pede como último desejo uma canoa para servir como seu ataúde. O carpinteiro mede Queequeg e constrói o seu caixão. No entanto, Queequeg se recupera, afirmando ter desejado sua própria cura. Ele guarda o seu ataúde e o utiliza como uma arca.
Ao atingir o Oceano Pacífico, Ahab ordena que Perth, o ferreiro, forje um arpão para ser usado contra Moby Dick. Perth prepara o arpão, conforme ordenado. Ahab então exige que ele seja temperado com o sangue dos seus arpoadores pagãos, e afirma batizar o arpão em nome do Diabo.
Mais tarde, o Pequod se encontra com o Bachelor, um navio de Nantucket, cujo capitão nega a existência de Moby Dick. No dia seguinte, o Pequod mata quatro baleias e naquela noite Ahab sonha com carros fúnebres. Ele e Fedallah imploram para matar Moby Dick e sobreviver ao combate, e Ahab proclama sua própria imortalidade.
Ahab logo precisa decidir entre uma rota tranqüila, passando pelo Cabo da Boa Esperança e de volta para Nantucket, e uma rota difícil em perseguição a Moby Dick. Ahab tranqüilamente decide continuar sua busca. O Pequod em breve se depara com um tufão na sua viagem pelo Pacífico e, durante a tormenta, a bússola do navio se desmagnetiza. Quando Starbuck sabe disto, ele vai até a cabine do capitão para avisá-lo, e o encontra adormecido. Starbuck pensa se devia ou não atirar no capitão com seu mosquete, mas não consegue se convencer a fazê-lo, especialmente depois que ouve Ahab gritar durante o sono que tinha conseguido arrancar o coração de Moby Dick.
Na manhã seguinte ao tufão, Ahab corrige o problema com a bússola, a despeito do ceticismo da tripulação, e o navio prossegue na sua jornada. Ahab descobre que Pip tinha enlouquecido e oferece sua cabine para o pobre rapaz. O Pequod se encontra com mais um navio, o Rachel, cujo capitão, Gardiner, conhece Ahab. Ele pede a ajuda do Pequod para procurar seu filho, que pode estar perdido no mar, mas Ahab recusa secamente quando descobre que Moby Dick está por perto. O último navio encontrado pelo Pequod é o Delight, um barco que tinha enfrentado recentemente Moby Dick e ficado quase destruído. Antes de finalmente achar Moby Dick, Ahab relembra aquele dia quase quarenta anos atrás quando ele tinha arpoado sua primeira baleia, e lamenta a solidão destes anos no mar. Ele admite ter perseguido sua presa mais como um demônio do que como um homem.
A luta contra Moby Dick dura três dias. No primeiro dia, Ahab avista pessoalmente a baleia, e os botes remam na direção dela. Moby Dick ataca e afunda o bote de Ahab, mas ele sobrevive ao ataque e é recolhido pelo bote de Stubb. Apesar dessa tentativa fracassada em derrotar a baleia, Ahab a persegue novamente no dia seguinte.
No segundo dia, acontece uma nova derrota, muito semelhante à anterior. Desta vez, Moby Dick quebra a perna de marfim de Ahab, enquanto Fedallah morre afogado ao ser preso pela linha do arpão e arrastado para o mar. Depois deste segundo ataque, Starbuck critica Ahab, dizendo a ele que sua perseguição é ímpia e ofensiva a Deus. Ahab declara que o combate entre ele e Moby Dick está imutavelmente decretado, e a atacará novamente no dia seguinte.
No terceiro dia do ataque a Moby Dick, Starbuck entra em pânico por ceder às exigências de Ahab, enquanto este diz que alguns navios saem dos seus portos e jamais retornam, aparentemente admitindo a futilidade da sua obsessão. Quando Ahab e sua tripulação chegam até Moby Dick, Ahab finalmente acerta a baleia com o seu arpão, mas ela novamente vira o bote de Ahab. A baleia investe furiosamente contra o Pequod, que é duramente golpeado e começa a afundar. Num ato aparentemente suicida, Ahab lança seu arpão em Moby Dick, mas fica emaranhado na linha e mergulha no oceano com ela.
Somente Ismael sobrevive ao ataque; ele estava num dos botes destruídos e consegue se agarrar ao caixão de Queequeg. Ele acaba sendo resgatado pelo Rachel, cujo capitão continuava a buscar pelo seu filho desaparecido, apenas para achar um outro órfão.
Moby Dick é um romance do autor americano Herman Melville. O nome da obra é o do cachalote enfurecido, de cor branca, que havendo sido ferido várias vezes por baleeiros, conseguiu destrui-los todos. Originalmente foi publicado em três fascículos com o título de Moby-Dick ou A Baleia em Londres em 1851, e ainda no mesmo ano em Nova York em edição integral. O livro foi revolucionário para a época, com descrições intricadas e imaginativas das aventuras do narrador - Ismael, suas reflexões pessoais, e grandes trechos de não-ficção, sobre variados assuntos, como baleias, métodos de caça às mesmas, arpões, a cor branca (de Moby Dick), detalhes sobre as embarcações e funcionamentos, armazenamento de produtos extraídos das baleias.





O Feijão e o Sonho (Orígenes Lessa)


A obra publicado em 1938, O Feijão e o Sonho caiu no agrado da crítica e do público exatamente por desenvolver uma temática tão a gosto do caráter romântico do brasileiro médio. A trama gira em torno de Campos Lara, poeta que vive a embalar o sonho da criação literária, alheio aos aspectos práticos da luta pela sobrevivência. Casado com Maria Rosa, a relação é um desajuste só. Campos Lara sonhando, escrevendo, poetando; Maria Rosa batalhando, preocupando-se e, principalmente, azucrinando a vida do irresponsável marido. Os rendimentos conseguidos pelo poeta, dando aulas ou escrevendo para os jornais são extremamente escassos e insuficientes para fazer frente às despesas da família. Os credores não dão sossego; o senhorio cobra os aluguéis atrasados; o dono da farmácia deixa de fornecer medicamentos para a filharada adoentada; a alimentação é pouca e de má qualidade: a vida é um inferno. A todo esse desacerto, Campos Lara não dá a mínima atenção. Sua cabeça, povoada de versos e de orgulho intelectual não desce do limbo em que se encontra para encarar problemas triviais de manutenção familiar. Seus mirabolantes projetos literários enchem sua vida e seu tempo. Pula de emprego em emprego, vê seus alunos escaparem e os que permanecem são os que não podem pagar. Maria Rosa luta desesperadamente contra a miséria e o infortúnio.
Ao final, com a situação financeira mitigada, mas não de todo regularizada, Campos Lara e Maria Rosa ajustam-se e sonham com o futuro do filho caçula. Será advogado... engenheiro... até que Campos Lara descobre que seu filho será, como ele, poeta... E isso o enche de orgulho, esquecendo todo o drama e o sofrimento que palmilhou durante toda uma existência, exatamente por dedicar-se à poesia, uma atividade sem qualquer compensação financeira, num país de analfabetos. E assim termina o livro, com seu filho lhe perguntando sobre o que achou do seu poema. Campos Lara fica pensativo, entre o feijão e o sonho, sem saber o que dizer...

Análise Crítica
O texto, como bem sugere o título, sustenta-se sobre duas linhas básicas: o feijão é o lado prático da vida. A necessidade de o indivíduo prover o próprio sustento e o da família. A luta pela sobrevivência que se desenvolve em cada momento da trajetória do homem pela vida afora. O sonho é a fantasia, a quimera que cada um tem dentro de si. A aspiração de grandeza, de desligamento dessa realidade tão dura e desagradável. As duas linhas formam a grande antítese alicerçadora da vida. Os que se fixam no feijão tornam-se amargos, desagradáveis, agressivos. A obsessão pelo lado prático da existência impede-os de tomar uma atitude carinhosa, compreensiva, aconchegante diante daqueles que deles se aproximam. Os adeptos do sonho perdem o senso da realidade e tornam-se desajustados em um mundo excessivamente materialista. São criticados, espezinhados, humilhados e sua vida é um rosário de sofrimentos e de dor. Pela data da publicação — 1938 — quando o autor contava apenas 35 anos, o livro não é, evidentemente, autobiográfico. Entretanto sua trama conduz para fatos sobejamente conhecidos com inúmeros artistas de todas as áreas. Orígenes Lessa não inovou em nada, mas apenas deu forma literária a uma história sobejamente conhecida e repetida desde sempre: o artista sonhador, pobre e incompreendido; a mulher que o impele à luta e o obriga a encarar o lado prático da vida. Nenhuma novidade... O grande mérito está no despojamento da linguagem; na trama simples; na sugestão de que se podem encontrar significados profundos em atitudes aparentemente superficiais dos personagens; no processo de iniciação do jovem leitor nos caminhos do consumo da literatura; na exploração inteligente do idealismo tão próprio da juventude ainda não batida pelo tempo e pela desilusão.

Singularidades de uma rapariga loura (Eça de Queirós)


O narrador tratava-se de um viajante que chegado a uma hospedaria durante o jantar iniciou uma conversa com um homem que mais tarde veio ser apresentado como Marcário. O viajante perguntou a ele se ele era da Vila Real e tendo uma resposta afirmativa comentou que de lá vinham as mais belas mulheres. Marcário, em seguida, se calou e perdeu o sorriso se retirando da mesa.
Depois disso o viajante foi para seu quarto, o de número 3, que por coincidência era o mesmo de Marcário e foi ali na escuridão da noite que ele contou ao viajante a sua história.
Marcário trabalhava com seu tio Francisco, um caixeiro. Ele era um homem honesto, fiel ao seu trabalho, vivia uma vida simples e casta, mas que o satisfazia. Foi então que um dia viu no peitoral da janela defronte a do seu escritório uma linda mulher, pálida, vestida de luto e com lindos cabelos negros. Pensou nela o resto do dia e no dia seguinte, até que viu no peitoril da janela uma moça jovem, em seus vinte anos, diferente da outra que aparentava os quarenta anos, e esta era dona de também lindos cabelos loiros. Logo a julgou filha da mulher de luto.
Não demorou para que Marcário se apaixonasse pela vizinha. E assim já não era o mesmo, sempre desfrutando dos nervos que a paixão causava. Em um dia, as vizinhas, mãe e filha, como ele acreditava, foram à loja que ficava no andar térreo do prédio de seu tio. As duas procuravam por casimiras pretas, e a única justificativa para duas mulheres estarem procurando tal produto era o interesse em se aproximar de Marcário. Assim alegremente ele desceu e falou a elas sobre como aquelas casimiras eram de qualidade. Depois elas olharam alguns lenços da Índia.
Mais tarde, o tio Francisco disse ao sobrinho que lenços da Índia tinham sumido.
Seguidamente Marcário viu na rua um amigo, este retirou o chapéu de palha que levava para cumprimentar as duas senhoras que estavam no peitoril. Imediatamente Marcário foi ter com ele, perguntou-lhe se as conhecia, se eram boa gente, de boa família e se tinha meio de ele as conhecer melhor.
Logo Marcário começou a freqüentar o mesmo serão que elas, e em seguida a casa das duas. Foi em uma dessas reuniões que ele e Luisa – este era o nome da loira – se aproximaram. Em uma delas, um dos convidados exibia uma jóia que adquirira e a balançava no ar encantando Luisa. Em dado momento, a peça caiu no colo da menina, mas ninguém a encontrou.
Ao longo desses fatos, Marcário decidiu casar-se com Luisa. O motivo foi um beijo puro que deram. Pediu ao tio licença pra casar, surpreendentemente esse não permitiu e como o sobrinho insistia no casamento, Francisco o despediu como empregado e familiar. Assim Marcário, decidido, partiu da casa do tio levando seus poucos pertences e crente de que emprego não lhe faltaria, pois era bom empregado.
Começou em uma hospedagem, mas logo se mudou de lá. Não conseguia emprego! Os que conheciam seu serviço não o contratavam porque isso os levaria a romper as relações com o tio Francisco. Sendo assim, Marcário foi vendendo seus poucos bens até chegar ao dito estado de miséria. Por essa razão, ele passou a ver Luisa apenas durante a noite, porque assim ela não via o estado de pobreza que suas roupas demonstravam.
Foi então que o seu amigo do chapéu de palha lhe fez uma proposta: servir no Cabo Frio. Falou com Luisa pedindo que ela o esperasse e assim partiu, passou por muitas coisas muitas vezes desagradáveis, mas finalmente voltou e com fortuna feita. Assim, ele pediu a mão de Luisa e a mãe dela o aceitou de braços abertos.
Porém, o amigo do chapéu de palha lhe pediu uma alta quantia de dinheiro emprestado, e como foi ele quem o ajudou em outros tempos, Marcário se tornou fiador. Essa situação não perdurou, pois o tal amigo fugiu com uma mulher e o negócio, assim como Marcário, faliu.

Assim, com o casamento adiado, Marcário foi falar com o tio mais uma vez (em outro momento ele já tinha ido falar com ele). O emprego e tudo mais estavam ali disponíveis, mas ele só poderia voltar se fosse ficar solteiro. Então Marcário veio procurar o tio pela última vez: para dizer adeus. Surpreendentemente o tio o aceitou de volta e também o casamento. Os bons tempos voltaram e o casamento foi marcado para um ano depois.
Faltando seis meses para Marcário se casar, ele e Luisa foram comprar o anel de noivado, demoraram a escolher, mas por fim decidiram-se. Marcário voltaria no outro dia para buscar o anel que precisava ser ajustado. Saíram alegremente da joalheria, porém o dono da loja os chamou de volta e disse que Marcário tinha se esquecido de pagar, não o anel que buscaria no outro dia, mas o que Luisa estava levando com ela.
Em poucos segundos, Luisa, assustada, entregou o anel ao noivo que pagou o preço dele, afirmando que ela tinha só se enganado e que não fora nada, mas bastou que os dois ficassem sozinhos para que ele, ali mesmo na rua, desmanchasse o noivado: não se casaria com uma ladra.
E esse foi o desfecho da história contada por Marcário ao viajante.

O caso dos dez negrinhos (Aghata Christie)


Dez pessoas de passado escuso são convidadas pelo misterioso Sr.U.N.Owen à passarem as férias de verão em sua mansão na ilha do negro.O anfitrião não aparece e depois de um jantar perfeito ouve-se uma voz sinistra acusando a cada um de crimes ocorridos no passado e que se encontravam apagados da memória de todos. O pânico instala-se e mortes inexplicáveis sucedem e sobre as cabeceiras das camas a sentença do criminoso: a canção infantil dos Dez negrinhos. Quem será o assassino justiceiro?

O livro conta a história de dez pessoas convidadas a passar o fim de semana na Ilha do Negro, que ninguém sabia ao certo a quem pertencia. Cada membro do grupo havia sido convidado por um conhecido, nunca íntimo. Quando chegam a tal ilha, a identidade do anfitrião se torna cada vez mais misteriosa, tanto que esse não aparece para receber os convidados. Um fato curioso e essencial na história é que no quarto de cada hóspede há um poema sobre dez negrinhos que vão morrendo de diferentes formas até não sobrar nenhum. O clima se torna tenso quando um dos hóspedes morre subitamente seguido por uma empregada. Os outros tentam desesperadamente descobrir se é tudo acaso ou se são assassinatos e no caso de ser assassinatos, quem seria o executor. O final é surpreendentemente inteligente, bem ao estilo de Agatha Christie.

A trama é perfeita, e em nenhum momento, ao longo da leitura, desconfiamos de como será o fim. Wargrave não se delatou em momento algum (nem em seus pensamentos, como podemos notar no início do livro). Alguns podem até ter desconfiado de Wargrave durante 78% do livro, até que ele aparece com um tiro na testa e ficamos completamente confusos, e logo depois surpresos com a genialidade do final.