Memórias De Minhas Putas Tristes (Gabriel Garcia Marquez)

A época? Início do século XX. O lugar? Alguma cidade da Colômbia. Situação política? Ditadores alternam-se no poder. O protagonista? Um ancião, homem solitário, solteiro, telegrafista aposentado e jornalista atuante, escritor eventual de críticas musicais e cronista semanal do jornal em que trabalha há décadas. O improvável? Ao completar noventa anos, decide dar um presente a si mesmo: uma noite de amor com uma virgem. Durante sua vida, habituara-se à solidão e ao sexo com prostitutas. Nunca amara, o relacionamento mais longo, puramente sexual, fora com uma empregada que, no auge da decrepitude, ainda limpava sua casa. Pois este homem, conhecido como sábio, professor, há décadas fora noivo de uma mulher bem mais jovem, que fugiu com outro, no dia do casamento. Em dado momento, ele diz que o sexo o impedira de amar. Resolvera escrever um livro sobre as centenas de prostitutas com quem fizera sexo. Escreveria "Memória de Minhas Putas Tristes". Decidido, mantém contato com a cafetina mais famosa de sua época e encomenda uma virgem. Queria uma menina de apenas catorze anos. O senhor de 90 anos que nunca fora casado, é um velho cheio de manias e visto pela sua vizinhança como pão duro, que quis dar-se de presente uma noite de amor com uma jovem virgem. A jovem virgem, chamada por ele de Delgadina, de 14 anos, é uma garota pobre que trabalha em uma fábrica e cuida de seus irmãos. Então ele dirige-se ao bordel, local disfarçado de armazém, numa área da cidade sem o brilho do passado. Mas não aconteceu nada naquela noite. Não quis acordar a menina, que dormia profundamente. Na noite seguinte, foi a mesma coisa. Na terceira noite, também. O velho contentava-se em passar noites apenas dormindo com a jovem e descobre-se como um jovem de 15 anos, virgem e apaixonado, que dormia profundamente e acordava para a vida aos 90 anos. O sentimento que nos desperta ao reconhecer a paixão e doçura do velho jornalista que descobre o amor pela primeira vez aos 90 anos, é um sentimento de revigoração, e de como as vezes nos contentamos com coisas secundárias, como escreve o próprio Gabriel Garcia Marquez em um trecho do livro: " sexo é o consolo quando o amor não nos alcança" .
Um crime acontece: Um banqueiro famoso é misteriosamente assassinado e ele ajuda a cafetina a vestir o morto. O bordel é fechado. A versão oficial é que o homem fora morto por membros do Partido Liberal. Ele perde o contato com a cafetina e a menina. Procura a menina pela cidade, sem encontrá-la. Desespera-se. Algum tempo depois, a cafetina ressurge e encontra a menina. Ele retorna ao bordel, porém, ao vê-la mudada, crescida, uma prostituta, assusta-se, quebra o quarto. Acalma-se e visita-a frequentemente, decorando o quarto à sua maneira, dando-lhe presentes, sem jamais fazerem sexo. Amava a menina. A menina o amava.
O tempo passou e ele quis comprar o bordel, a casa, o armazém, o pomar, mas a cafetina preferiu fazer um acordo: o primeiro que morresse deixaria tudo para o outro. Ou melhor, para a menina. Concordou. Ele estava feliz, porque, velho, estava condenado a morrer amando, em qualquer dia depois dos cem anos.

Para completar a beleza da narrativa, a história se passa em uma cidade colombiana, em meados dos anos 30, a cidade é elegantemente descrita pelo narrador, sempre muito bem escritos pelo autor, o brilhante Gabriel Garcia Marquez.
O livro é mais uma obra prima do genial Gabriel Garcia Marquez, que volta a ficção depois de dez anos.
Espera-se que o leitor também acorde de seu sono e desperte para a simplicidade do romance, como o narrador que Gabriel Garcia Marquez nos presenteou.