Amor de Salvação (Camilo Castelo Branco)


  • Amor de Salvação é uma novela passional, considerada pela crítica uma das obras mais bem acabada do autor. A história relata lembranças que são contadas ao narrador pelo protagonista, em uma noite de Natal, após um reencontro entre os dois que não se viam há quase doze anos. Afonso e Teodora foram prometidos um ao outro, por suas mães que eram amigas desde os tempos em que estudavam num convento. Após a morte da mãe, Teodora vai para um convento e tem como tutor seu tio, pai de Eleutério Romão. Teodora e Afonso estão sempre em contato aguardando o tempo certo para casarem.
  • Afonso resolve estudar fora por dois anos. Teodora influenciada pela amiga Libana quer casar-se o mais rápido possível. A mãe de Afonso, D. Eulália, pede-lhe para aguardar. Mas com a saída de Libana do convento, Teodora se desespera e resolve casar-se com seu primo, Eleutério, para libertar-se das grades do convento. Eleutério era o oposto à beleza de Teodora, era rude e vestia-se de forma hilariante.
  • Apesar da grande tentativa de seu tio, o padre Hilário, em ensinar-lhe a ler, nada conseguiu. Vencido pela incapacidade de seu sobrinho, Padre Hilário desistiu afirmando que somente através de uma fresta no cérebro, aberta a machado, seria possível tal façanha.
  • Teodora viveu em pompas, trajes de sedas, cavalos, bailes etc, mas nunca esquecera Afonso, enviava-lhe cartas de amor mas nunca obtivera resposta. Afonso sofreu muito com a notícia do casamento de Teodora, pediu a mãe permissão para se ausentar de Portugal. Contava sempre com o apoio e o consolo das cartas de sua mãe e sua prima Mafalda, que o amava pacientemente. Após anos de amargura, sofrimento e luta contendo-se diante das cartas de Teodora, para não fugir aos ensinamentos religiosos aos quais sua mãe o educou, foi fulminado pela influência do amigo José de Noronha que o incentivou a escrever à Teodora. Relutou mas não conseguiu. A tal carta depois de escrita foi cair nas mãos de Eleutério, que leu mas nada entendeu. Pediu então a um amigo ajuda para interpretá-la. A carta acabou sendo rasgada por Fernão de Teive, dando a desculpa de serem grandes sandices, após junto com sua filha Mafalda, reconhecer as intenções do remetente, seu sobrinho Afonso de Teive.
  • Não conformado, Afonso parte ao encontro de Teodora. Eleutério quando os encontra juntos, pede-lhes explicações. Teodora responde-lhe que é uma mulher livre a partir daquele momento, e vai viver com Afonso. Passam momentos, ilusoriamente, felizes. Afonso abandona até a sua própria mãe para viver ardentemente esta paixão que sempre o consumiu. Sua mãe sempre afetuosa, apesar da grande tristeza, sustenta a vida luxuosa que Afonso tem ao lado de Teodora.
  • Afonso quando fica sabendo da morte de sua mãe, através de carta escrita por Mafalda, se desespera. Teodora tenta consolá-lo, mas ele sente em suas palavras ironia e sente nojo de tamanho fingimento. Procura isolar-se de Teodora e dos amigos. Durante este período, Tranqueira, velho criado da família, alerta-o sobre as intenções do amigo José de Noronha por Teodora. No início se revolta contra o criado, mas acaba escutando-o e passa a observá-los. Encontra umas cartas que confirmam as suspeitas. Certo dia os pega juntinhos com gestos de muita familiaridade. Aborrece-se pede para que Noronha saia de sua casa.
  • Teodora dissimulada como sempre, tenta enganá-lo, mas ele atira-lhe as cartas. Teodora desmaia enquanto Tranqueira derruba Noronha na cisterna para vingar seu patrão. Afonso passa alguns dias fora de casa, quando retorna encontra uma carta de Teodora informando os pertences que havia levado consigo. Apesar de traído sente saudade da encantadora Teodora. Vende tudo e parte para Paris atrás de um amor que o salve. Gasta tudo o que tem. Por fim, pede ao seu tio Fernão para comprar-lhe a casa onde viveram seus pais e avós, pois não queria ofender a memória de sua mãe que o havia pedido em carta antes morrer que não a vendesse.
  • Mafalda com seu coração generoso e cheio de amor pelo primo, pede a seu pai que o atenda, e este assim o faz mas, com a condição de que a casa continuaria sendo de Afonso. Afonso afunda-se cada vez mais em seus vícios e extravagâncias a ponto de querer suicidar-se. Tranqueira, que nunca o abandonou, percebeu sua intenção e disse-lhe severas palavras que o livraram de tamanha loucura.
  • Afonso mudou de vida, passou a trabalhar e a estudar com apoio de seu criado. Fernão de Teive adoece, e prestes a morrer pede ao padre Joaquim que vá a Paris entregar a Afonso, os documentos de propriedade da casa a qual comprara, apenas com intuito de ajudar o sobrinho.
  • Após a morte de Fernão, Mafalda sentindo-se sozinha, resolve viajar com o padre Joaquim para Paris com o objetivo de juntar-se às irmãs de caridade. Quando o padre Joaquim encontra Afonso e conta-lhe da morte do tio, este chora e corre ao encontro da prima que ficara em uma hospedaria. Mafalda conta ao primo sua decisão, mas padre Joaquim pede-lhes, pelo amor de Deus, que ao invés disso, se casem.
  • Afonso aceitou de imediato e agradeceu à Deus por ter ouvido os pedidos de suas mães. Afonso e Mafalda voltaram para sua cidade, casaram-se, tiveram oito filhos e foram muito felizes. Apesar do título “Amor de Salvação” a novela relata em quase toda sua extensão, um “Amor de Perdição” entre Afonso de Teive e Teodora Palmira. Ao “Amor de Salvação”, Mafalda, são dedicadas somente as últimas páginas do romance.

O missionário (Inglês de Souza)


O Missionário, obra que goza de melhor conceito junto à crítica, nasceu do desenvolvimento do conto O Sofisma do Vigário. É um romance de tese, propondo o conflito entre a vocação sacerdotal e o instinto sexual, instigado pelo relaxamento dos costumes e pelo sensualismo da mameluca Clarinha, que acabam por vencer a frágil resistência do PE. Antônio de Morais. Tomando o hábito o Padre Antônio de Morais vai para Silves, povoado paraense, à entrada da selva amazônica. Malgrado carente de vocação, granjeia prestígio de sacerdote correto e pio; todavia, a rotina da vilazinha, começando a enfastiá-lo, sugere-lhe a procura de um objeto mais valioso para aplicar seu talento. Aumentado o grupo de adversários, o presbítero num audacioso e arrebatado sermão desmancha a oposição e conquista novos admiradores, dentre os quais Chico Fidêncio, jornalista carbonário e anticlerical. O dia-a-dia de Silves, com seus mexericos e intrigas, passa a girar em torno do Padre Morais. Entrando na floresta, mata inóspita, a fim de catequizar os temíveis mundurucus acompanhando-se do sacristão Macário, mas este regressa a Silves antes de chegar ao encontro com os mundurucus. E é doente que o Padre Morais chega ao sítio de João Pimenta, onde os desvelos de Clarinha, neta do agricultor, e prolongado repouso lhe restituem a saúde e lhe acordam o erotismo que a batina dissimulara até então. Clarinha, mameluca de comportamento algo imoral para os padrões religiosos, acaba o Padre por consumar o pecado da carne com a moça. A Natureza da selva e da mestiça venceu a fraca resistência do jovem prelado. Por fim, conduzindo a mameluca, retorna a Silves, e é recebido como um autêntico santo.

Sobre o livro: 

Ao publicar, em 1888, O Missionário, Inglês de Sousa (1853-1918) incorpora-se à corrente Naturalista. Estilo algo monótono, por vezes apagado, entremeado, porém, aqui e ali, de expressões coloquiais, que lhe dão sabor nativo e um torneio de frase à brasileira. Bem descrito o meio. Vivas as figuras - a do sacristão Macário e a do capitão Fonseca, por exemplo. Não carece o autor da capacidade de análises psicológicas - os solilóquios do padre Antônio de Moraes, a que não se pode negar veracidade de observação e a que não escasseia força evocativa. Coloridas as descrições da selva amazônica - embora vistas sempre no segundo plano e nelas nunca se demore o autor, voltado de preferência a perscrutar as personagens. (João Pacheco, O Realismo, p. 139-140).

Em O Missionário, o propósito de demonstrar os condicionamentos biológicos, sociais e circunstanciais, sob a ótica Naturalista e Determinista, sugere o esquema e as etapas do processo narrativo. Inicialmente, o autor descreve minuciosamente a localidade de Silves, no Pará, de maneira a dar-lhe corpo e vida, com sua atmosfera parada e sensual e seus tipos característicos: o farmacêutico, o livre-pensador, o sacristão, o coletor, o professor alguns maledicentes e intrigantes. Introduz, a seguir, o idealismo místico e as controvérsias teológicas do Padre Antônio Morais, que se sente inútil, confinado à mediocridade da vida provinciana. A decisão de aventurar-se entre os índios selvagens fundamenta-se mais no desejo de glória, que no zelo missionário. Aventurando-se pelos rios e florestas da Amazônia, o convívio íntimo com a família de mamelucos, o sensualismo da paisagem põe à prova os votos de castidade, que cede. Para explicar a queda final, o autor faz um longo retrospecto da vida do Padre Antônio Morais, repassando a infância, o seminário, à severa disciplina, a repressão da sexualidade na adolescência. Quando a personagem retorna a Silves, o autor, ainda à maneira dos naturalistas, extrai a moralidade dos fatos, acomodando-o à nova situação.

O Vendedor de Sonhos (Augusto Cury)



           O livro “O Vendedor de Sonhos: o chamado” de Augusto Cury considerado por muitos um dos melhores livros do autor foi editado várias vezes e vendido para mais de 7 milhões de pessoas somente no Brasil. Também foi traduzido em várias línguas e, posteriormente, lido por milhões de pessoas de diferentes países do mundo. Tanto reconhecimento e procura não é para tanto, afinal de contas, neste livro Augusto Cury procurou aplicar seus conhecimentos psicológicos e sociológicos sobre o comportamento humano e seus conflitos psíquicos. A procura pelo livro foi e ainda é unânime. Todos querem o ler para conhecer um pouco a forma de pensar deste brilhante e inquestionável autor chamado Augusto Cury, outros ainda para encontrar conforto e esperança nas palavras estonteantes e instigáveis da obra, pois estão oprimidos, angustiados e enclausurados no mundo dos conflitos mentais. Conflitos estes que são desencadeados pela a agitação e opressão do atual sistema social do qual fazemos parte.

             A obra descreve e enfatiza a vida de um homem que se utilizou do anonimato para esconder a sua verdadeira identidade. Era conhecido por todos como O Vendedor de Sonhos, assim como ele próprio se declarou ao ser questionado pelas pessoas sobre sua origem e identidade. O termo é mencionado várias vezes ao longo da obra não por acaso, mas para dar ênfase ao que ele realmente fazia: vender sonhos para as pessoas desoladas e angustiadas com a própria vida que tinham. Pessoas que para alguns tinham comportamentos, vícios e ou distúrbios irreversíveis, bem como alcoólatras, pessoas depressivas, ladrões, indivíduos que já foram presidiários, doentes mentais e físicos, enfim, vendia sonhos para toda e qualquer pessoa que se encontrava em situações críticas, ou seja, pessoas que viviam à margem da sociedade, que sofriam com doenças psíquicas por terem sido abaladas com perdas irreparáveis, tais como a morte de entes queridos, prejuízos e perdas no mundo financeiro, ou ainda a falta de autenticidade e reconhecimento social.

                Dentre esses inúmeros personagens problemáticos que o seguiam por terem sido convidados pelo próprio Vendedor de Sonhos vale destacar o acadêmico e professor universitário Júlio César Lambert que sempre fora muito duro e carrasco com os profissionais e alunos da instituição na qual trabalhava. Era autêntico e autoritário no que fazia. Almejava a perfeição e queria que todos, inclusive seus alunos, fizessem o mesmo. Perdera os pais ainda criança. A mãe falecera de câncer o pai suicidou-se na sua presença, fato que o deixou profundamente constrangido. Talvez essa fosse a explicação mais aceitável para explicar o porquê da sua personalidade tão rigorosa e ao mesmo tempo insensata. Não tinha tempo para conviver dignamente com os filhos e a esposa. Sempre estava ocupado com os afazeres do dia a dia. Com tantas preocupações desenvolveu uma perturbante depressão. Queria suicidar-se pulando do alto do edifício San Pablo. Foi nesse contexto que ele conheceu o incrível homem que mudara por completo os rumos da sua vida.

              Passou a partir de então a conviver com ele e desenvolver a arte de vender sonhos para as pessoas. Sempre ficava, assim como as outras pessoas, extasiado e atônito ao ouvir as palavras sábias e cheias de conhecimento do mestre. Questionava-se em pensamentos a si mesmo: “Quem é esse homem que hipnotiza e cativa as pessoas com suas palavras? Qual a sua origem? Qual o seu passado? Será ele um filósofo,  um sociólogo, um sábio ou um psicótico? Era perturbado frequentemente com questionamentos que invadiam os recônditos de sua mente.

             No grupo de discípulos se destacavam ainda o humorístico e sarcástico Bartolomeu que era um alcoólatra. O Salomão que sofria com uma doença psicótica compulsiva. A Mônica uma jovem modelo que sofria de Bulimia por causa das exigências do mundo da moda. O Dimas, mais conhecido por Mão de Anjo, um ladrão de primeira categoria que não se intimidava ao abordar uma vítima. Todos eles foram profundamente cativados com os ensinamentos de vida do Vendedor de Sonhos. Não tinham palavras para contradizer o que ele dizia, pois eram bombardeados com turbilhões de ideias filosóficas que penetravam em suas mentes fazendo-os mudar suas ideias e conceitos sobre a vida.

             O Vendedor de Sonhos adquiriu admiráveis amigos e também indesejáveis inimigos. Certo dia alguns empresários da empresa Megasoft chegaram aos discípulos do mestre e os convidaram para fazerem uma homenagem surpresa ao inquestionável homem que mudou para melhor a vida de centenas de pessoas. O grupo desconfiado aceitou o convite sem saber que se tratava de um golpe humilhante. Marcaram o endereço do encontro em um enorme estádio da metrópole e seguiram dias depois com o mestre para o local. Anteriormente, ele desconfiou mais aceitou o pedido por consideração aos amigos. No estádio estavam presentes milhares de pessoas e várias emissoras de televisão prontas para assistirem o evento. Em um telão enorme começou a serem transmitidas algumas cenas de um indivíduo psicótico sofrendo alucinações e, posteriormente, o homem que gravava as imagens o fazendo interrogações sobre suas visões. As pessoas não entendiam nada. Ao final do filme melancólico os apresentadores disseram para a platéia que se tratava do Vendedor de Sonhos. As pessoas presentes ficaram perplexas e extasiadas, inclusive os discípulos do semeador de idéias; não acreditavam no que estavam vendo e ouvindo. Os apresentadores começaram a difamar e caluniar o Vendedor de Sonhos dizendo que se tratava de um impostor, um hipócrita, um homem maluco que enganara um bando de idiotas. O mestre fez sinal que ia sair e a multidão gritou: - Fale! Fale! Fale!

              Ele começou a falar e dizer que fora um empresário muito rico, milionário. Alguns que o reconheceram e lembraram que se tratava do dono da empresa Megasoft ficaram chocados com a atitude humilhante do grupo de empresários da mesma empresa. Continuou dizendo que nunca deu atenção a seus filhos e a esposa como deveria o fazer. Contou que certo dia eles morreram de um acidente de avião e que os céus desabou sobre ele a partir daquele dia. Profundamente depressivo passou a valorizar as pequenas coisas da vida, como amar ao próximo e disseminar palavras de esperança e conforto para com os mesmos. A partir daí passou a viver no mundo e para o mundo tentando se redescobrir a cada dia, pois sempre dizia que era apenas um caminhante que estava à procura de si mesmo.

          Ao proferir estas palavras todos que estavam no estádio o aplaudiram incessantemente, sobretudo, alguns líderes empresariais. Ele chorou assim como muitos que estavam ali presente. Mostrou para a humanidade através das emissoras que ali se faziam presentes o quanto o ser humano é pequeno, hipócrita e imperfeito. Mostrou também o poder destrutivo do dinheiro quando idolatrado e mal administrado. Não mais idolatrava bens materiais, pois dizia que estes destruíam a humildade, a honestidade e a sanidade humana. Queria apenas vender sonhos à humanidade, restituir valores e preceitos perdidos. Baseava-se nos ensinamentos calorosos do Mestre dos Mestres, Jesus Cristo o filho do homem. Assim como Ele, foi humilhado perante milhares de pessoas, porém suportou tudo silenciosamente sem reclamar.
                    Que este resumo fortaleça e sirva como exemplo de vida para muitos que estão perdidos sem saber o que fazer para apaziguar as suas angustias e anseios.  

A mão e a luva (Machado de Assis)


Afilhada de uma rica baronesa, pela qual era sustentada em um colégio para professores, Guiomar era uma moça simples que ficou órfã logo cedo, mas tinha consigo uma força de lutar pelo que pretendia. Usava a razão para controlar seu coração. Tendo uma beleza e um jeito de ser atrativo, despertou interesse de 3 homens: Estevão (sentimental), Jorge (calculista) e Luís Alves (ambicioso).
O livro trata da história dessa  jovem , Guiomar, de 17 anos. Ela é afilhada de uma baronesa e faz o possível (utilizando-se de atos frios e calculistas) para tentar elevar-se socialmente, para compensar a sua origem humilde.
No decorrer da história, três homens (Estevão, Jorge e Luis Alves) tentam conseguir a mão de Guiomar em casamento, cada um deles com características e objetivos distintos. Estevão, por exemplo, a ama loucamente, mas com pureza e inocência, como se fosse realmente o seu primeiro amor. Jorge, que é o sobrinho da baronesa, e também o mais mimado por ela, assim como Guiomar, também sonha em crescer socialmente e possui um amor fútil e carnal por ela. Já Luis Alves, vai se apaixonando aos poucos pela protagonista, e só com o tempo alimenta um sentimento por ela. Todavia, se analisarmos com calma, veremos que ele é praticamente uma mistura entre os dois primeiros, por ser um homem determinado e ambicioso.
O primeiro a pedir a mão de Guiomar é Jorge, tendo o apoio da baronesa e de Mrs. Oswald, sua empregada britânica. Um dia depois, Luís faz o mesmo pedido. Sendo assim, a baronesa diz que ela terá de escolher entre esses dois pretendentes. Imediatamente, ela escolhe Jorge. Entretanto, a baronesa sabia que sua afilhada queria na verdade casar com Luís Alves. Após isso, Guiomar e Luís Alves acabam se casando.
Luís Alves, então,  foi o que conquistou o amor de Guiomar tomando-a como sua  esposa como se ela fosse  a “luva para a sua mão” que é uma das últimas frases do livro.

Personagens:
  • Estevão: ele era sentimental, leviano, ingênuo, superficial e inseguro, porém, sincero. Amaria qualquer mulher que despertasse algum interesse nele. Não dava nenhum valor a si mesmo e por isso mereceu a preferência de Guiomar. Os dois chegaram a ficar juntos por algum tempo, até que ele foi estudar Ciências Jurídicas e Sociais em São Paulo; neste período ele sofreu muito, pensando até em se matar.  Após um devido tempo já em São Paulo achou que iria esquecer-se de Guiomar onde se enganou. Após ter se formado, voltou e ficou na casa de Luís Alves. Certa manhã os dois se reconhecem e trocam algumas palavras. Mas o destino não pertencia a ele.
  • Jorge: ele era fraco de caráter, egoísta e orgulhoso de si mesmo. Jorge era sobrinho da madrinha de Guiomar. As vantagens econômicas atraiam a ela.
  • Luís Alves: era frio e fechado e não contava seus sentimentos e vontades a ninguém. Era calculista e esperava o momento certo para dar uma cartada. Era amigo de Estevão e vizinho de Guiomar. Ele se decide por Guiomar mas apenas quando tem certeza que não vai ser descartado. Os dois se casam. Luis Alves acabou  sendo o eleito, pois personificava as qualidades que se sintonizavam com o espírito de Guiomar, que  ao escolhê-lo, faz  segundo suas próprias palavras, " a fria eleição do espírito ".
  • Embora nitidamente romântico, A Mão e a Luva é um romance sóbrio. Seu ponto alto são as personagens femininas: Guiomar pela complexidade de seu caráter, Mrs. Oswald pela astúcia. O romance gira em torno de um caso complicado - mas de solução simples e previsível - de namoro dentro dos mais rigorosos esquemas burgueses. O nome do livro se dá devido ao casamento de Guiomar e Luís Alves que se encaixam como uma mão dentro de uma luva, sendo um feito especialmente para o outro.

A condessa de vésper (Aluísio de Azevedo)


Gabriel é o amante apaixonado de Ambrosina, que se viu dominado sob seus caprichos e disposto ao sacrifícios do amor. Ela se transforma em Condessa Vésper ao lado do príncipe D. Filipe. Mas o tesouro da sua beleza haveria de fenecer e ser guardado para a “sensualidade do sepulcro”.

No Brasil, o maior exemplo de exposição da homossexualidade masculina, na literatura do século XIX, deu-se através da pena de Adolfo Caminha em O Bom Crioulo. Mas e a homossexualidade feminina? O assunto ficou a cargo de Aluísio Azevedo. O conhecido autor de O Mulato, O cortiço e Casa de pensão, que é apontado pelos historiadores literários como responsável por ter trazido para o Brasil os ditames da escola de Émile Zola, escreveu, também, romances românticos e fez, em pleno período Imperial, da pena o seu mister. Azevedo costumava a escrever folhetins, um desses foi A Condessa Vésper. A obra, com pitadas naturalistas e grandes doses de romantismo, expôs o safismo, isto é, o lesbianismo na literatura brasileira.

A Condessa Vésper traz à tona uma variedade imensa de personagens, o livro tem reviravoltas típicas de folhetins que podem ser observadas, ainda nos dias de hoje, nas telenovelas. As principais personas são: Gaspar, Ambrosina, Gabriel, Gustavo  e Laura. Ambrosina, depois dum casamento frustrado com um homem, Leonardo, que enlouquece no na noite de núpcias, torna-se amante de Gabriel. Este último, um jovem que herdara uma boa fortuna da mãe e fora criado por Gaspar, um médico, faz de tudo para manter Ambrosina ao seu lado; porém, a jovem sempre consegue enganá-lo e pegar do rapaz bons contos de réis. Laura é, tal como o grumete de O Bom Crioulo, a paixão de Ambrosina, que conhece a garota graças a uma intervenção de Gabriel. Ambrosina, num dos seus golpes, seduz Laura e foge para a Bahia. O interessante é que, em nenhum momento, o narrador explícita com detalhes a relação amorosa entre as duas mulheres. Há, pois, sempre um jogo de palavras, um eufemismo, para trazer a lume a questão para o leitor. Gustavo, por sua vez, aparece na história quase no findar da obra, quando Ambrosina, depois de retornar da Europa — Laura já havia morrido —, torna-se a Condessa Vésper. A figura de Gustavo é interessante, uma vez que o jovem assemelha-se muito a história de vida do próprio Aluísio. Oriundo duma província, o rapaz além de tornar-se escritor era também caricaturista. O fato é que, tal como Gabriel, Gaspar e outras personagens, o provinciano também, depois de travar contato com Ambrosina, tem sua vida ceifada.

Essa característica mórbida, de ceifadora, que Ambrosina desempenha na narrativa e sua personalidade ladina que sempre atrapalha a vida dos outros está, implicitamente nas palavras do narrador, ligada à sua opção sexual. A conduta homossexual de Ambrosina, que não se regenera em nenhum momento do romance, mesmo tendo ao seu lado um médico, que é uma figura muito utilizada nos romances naturalistas e, até mesmo nos românticos, para colocar certas personagens no caminho considerado correto, não funciona. A obra demonstra que a homossexualismo, se não fosse curado, levaria não somente o indivíduo que sofria de seus males à morte, bem como todos aqueles que o cercavam.

Características:

Condessa Vésper, de Aluísio Azevedo, foi primeiramente publicado no periódico Gazetinha, como romance-folhetim. Ao ser editado em livro, sofreu severas alterações, tendo sido totalmente modificado, ganhando, inclusive, um bizarro capítulo 0. Além do mais, este "caso extraordinário" que, na linguagem jornalística da época detinha o acento sensacionalista das reportagens, ficou menos escandaloso em livro.

Trata-se de um romance que, se traz os defeitos de sua estrutura folhetinesca, tem características bem mais relevantes, dentro do estilo realista-naturalista que marcou a produção do autor, aliás um dos primeiros - senão o primeiro - escritor profissional do Brasil.

Próximo de um romance de costumes, A condessa Vésper oferece agudas observações da geografia humana do Rio de Janeiro da época, descreve admiráveis painéis da cidade, dentro da perspectiva detalhista que caracteriza o estilo. Do mesmo modo, estão presentes certos modos de falar e a riqueza vocabular que alguns tipos humanos, ousadamente reconhecíveis nas classes despossuídas, faziam uso.

É um romance que traz todos os defeitos da estrutura folhetinesca, mas tem o mérito de traçar um interessante painel da sociedade carioca da época. Com o detalhismo que era característico do autor e da tendência realista, retrata bem a linguagem das camadas mais pobres da população e a dinâmica das bases "podres" da sociedade imperial.
Evidentemente, ao tematizar a parte maldita da sociedade, nosso autor não chega a ser um maldito, na acepção decadentista do termo, mas, de qualquer modo, se não houvesse a caricatura, bem poderia ter sido um deles.

Pinóquio: "As aventuras de Pinóquio" (Carlo Collodi)


Um pedaço de madeira falante aparece misteriosamente na oficina do mestre Cereja. O marceneiro, apavorado, presenteia o amigo Gepeto com essa peça de madeira viva. Gepeto tem planos ambiciosos: fabricar uma marionete maravilhosa, capaz de dançar e dar saltos mortais, e ganhar o mundo com sua atração.Os planos do pobre marceneiro, porém, não se concretizam. Mal nasce, Pinóquio já começa com suas estripulias: arranca a peruca amarela de seu "pai", e seu nariz começa a crescer até se tornar um "narigão interminável". Daqui por diante, Pinóquio vai se meter em confusão atrás de confusão. Vende a cartilha que ganhou de Gepeto, escapa de ir à escola e vai parar no Grande Teatro de Marionetes. Ele se defronta com as artimanhas da Raposa e do Gato, que o levam para o Campo dos Milagres e tentam enforcá-lo. Do seu lado, estão o conselheiro Grilo-Falante e a Fada de cabelos azuis, que aparece para salvá-lo da armadilha do País dos Brinquedos, onde os meninos se transformam em burros. As aventuras de Pinóquio é a obra original de Carlo Collodi, publicada pela primeira vez em 1883. Em seu percurso de transformação de boneco em menino, Pinóquio enfrenta as intempéries das noites longas e frias, depara com a autoridade da lei, padece de uma fome terrível e descobre a solidão da condição humana. Fantasia, humor e ironia se combinam neste clássico da literatura, indicado para todas as idades.

  • O livro foi escrito no final do século XIX.

O Cemitério dos Vivos (Lima Barreto)


Sob a estética do Pré-Modernismo, analiso a obra Cemitério dos Vivos, de Lima Barreto, estabelecendo relações dessa com História da Loucura, de Michel Foucault.
Em Cemitério dos Vivos é relatada a vida (desde os quase 20 anos de idade) de Vicente Mascarenhas que conhece, no hotel em que estava hospedado, no Rio de Janeiro, a propósito de seus estudos, a filha da dona do lugar, Efigênia. Entre muitos fatos e detalhes narrados, é evidenciado que, por uma questão de acomodação, casa-se com Efigênia. Assim, muitas foram as dificuldades e as dívidas nessa relação, se é que podemos chamar, amorosa. Mascarenhas somente dá a valorização devida e sente falta da esposa após essa ter falecido. O filho do casal, com 4 anos de idade, tinha problemas mentais e o pai, entrega-se ao alcoolismo. No natal de 1919, Mascarenhas foi internado em um hospital psiquiátrico. Este livro retrata, ora uma tragédia pessoal (a vivência no hospício), ora uma tragédia familiar (casamento sem valor diante de seus olhos). Bosi (1997) esclarece que a obra compilada postumamente, divide-se em duas partes: a primeira, o diário do escritor, respectivo ao casarão da Praia Vermelha; a segunda, o romance, esboçando a tragédia doméstica  com fragmentos alternados entre suas memórias no hospício. Duplamente interessante isto: primeiro, porque ratifica a tragédia do personagem Mascarenhas e, em segundo lugar, porque, atento para o termo do escritor, ou seja, a obra possui um caráter biográfico - autobiográfico - na medida em que está, o próprio Lima Barreto, falando de sua vida. Nessa proporção, tem-se ainda Diário Íntimo, também um livro de memórias, de observações pessoais e que, em hipótese alguma, almejava ser publicado, bem como as tiras de papel escritas no hospício, por vezes a lápis, outras à tinta de Cemitério dos Vivos - ambos guardados na Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional e publicados em 1956.  O livro trata das lembranças vivenciadas que Mascarenhas vai relatando. Inicia-se com a explicação de que ele está num hospício (um tempo presentificado por seu narrador-protagonista) e, após, o relato de lembranças, fatos e acontecimentos, tanto dentro, quanto fora do hospício (dados em um tempo passado até o final do texto). Sob o ponto de vista da biblioteca, faço menção a um ponto de suma importância no desenrolar da obra que unirá as duas pontas dessa obra de Lima Barreto e da obra de Foucault, História da Loucura. Ao longo de toda a narrativa, Cemitério dos Vivos, evidencio o quanto Mascarenhas adora o prazer da leitura. Dessa maneira, é em Foucault que posso ratificar a significação que o universo do personagem-protagonista possui, especificamente, quando enfatiza que a civilização desenvolve a loucura. O narrador possui fascínio por suas leituras. Com base em Foucault (1972), certamente, é muito fina e tênue a película que separa a in sanidade e a sabedoria. Acredito, fielmente, na possibilidade de qualquer processo em excesso causar danos. Assim é com a paixão - seja qual for seu objeto. Este personagem possui um grande interesse por viver um mundo fantasioso: o da leitura - assim como o próprio Barreto!

Na obra, Barreto faz referência à deusa Ísis - deusa mitológica egípcia - que conquistou não só o vale do Rio Nilo em uma país afortunado, mas também todas as nações através de sua eloqüência  persuadindo e comovendo por meio de palavras. Nesse sentido, constato como foi bem escolhida a deusa, pois o autor, um apaixonado pelas rodas literárias e pela academia, busca uma figura que, assim como ele, ratifica o amor pelas letras e pelas palavras. Barreto expõe como ninguém a sociedade que o circundava. Dessa forma, Cemitério dos Vivos foi uma obra cujas páginas expressavam sua pura rebeldia intelectual. Assim, concluo que Barreto, por meio das experiências vivenciadas no hospício tratou de relatá-las sob a voz de um personagem que, assim como ele apresenta-se marginalizado, estigmatizado e, por fim, tido como louco. Durante toda a diérese existem as marcas de uma sociedade que se mostra rotuladora da sanidade e insanidade dos outros: do que é certo e do que é errado. Junto a isso, evidencio, ainda, no convívio de Barreto no hospício, que as diferenças econômicas - das classes sociais - são gritantes e, também, permeiam toda a narrativa, bem como as hierarquias. Afinal, no que diz respeito a essas últimas, além dos diferentes níveis sociais - pobres e ricos no hospício -, existe também a hierarquia da categorização dessas pessoas - pensionistas, crianças, mulheres - e das que trabalham no local. Para finalizar, em relação a uma perspectiva de Brasil, percebo que o desfecho da obra é inacabado e, em sua cena final há o trecho em que ele revela ter ficado só, à janela. Estar só no vão da janela, aponta para uma situação de  passividade, de não ter o que se fazer, de falta de expectativa e, assim, de perspectiva em relação ao Brasil. Essa questão aponta diretamente para todas as mudanças que já estavam ocorrendo com a Semana de Arte Moderna. Dessa maneira, o que Lima Barreto faz em sua obra é abrir espaço para que seja conhecido o mundo tão estigmatizado dos loucos, não deixando, também, de estar fazendo uma crítica ao sistema carcerário dos hospícios pelo modo como tratam seus internos. Lima Barreto desvela o mundo dos loucos e, assim, antecipando o Modernismo, inclui indivíduos tão excluídos - não em relação racial, mas em relação à sociedade - cumprindo, assim, seu papel principal: agredí-la!

A Viuvinha (José de Alencar)

A obra é uma estória de um jovem casal, Carolina e Jorge. Jorge é um jovem que foi criado por Sr. Almeida, que é quem lhe dá a notícia da desonra e miséria do nome de seu pai, por causa de algumas dívidas. Isso faz com que Jorge se sinta culpado em se casar com Carolina e na sua noite de núpcias forja sua morte para fugir e ter tempo de limpar o nome de seu pai. Carolina dormiu virgem e acordou “viúva.” Depois de algum tempo, com honra e dinheiro Jorge volta (primeiramente mascarado) para seu grande amor que nunca desistiu de o esperar. 

As personagens:
• Carolina: forma junto com Jorge o casal protagonista da obra, é jovem, perfil suave e delicado, olhos negros e brilhantes, cílios longos, tranças que realçavam sua fronte pura, rica e apaixonada.
• Jorge: jovem que já fora muito rico e agora se mostrara simples nos atos e na existência. • Dona Maria: mãe de Carolina, senhora de idade. 
• Sr. Almeida: negociante, ex-tutor de Jorge, velho de têmpera antiga, calvo, com energia no caráter, vivacidade no olhar e porte firme.

 O enredo: 
• Não linear.... 
• O desfecho se dá na casa de Carolina...

 O ambiente:
 • Físico/social
 • A casa de Carolina 
 • As ruas do Rio 
 • O bar
 • A construção

O tempo: 
• Cronológico : “Se passasse há dez anos...."

O foco narrativo:
• Narração na terceira pessoa , pois o narrador é somente observador dos fatos. 

A verossimilhança: 
• A obra retrata uma realidade passada do autor, mas não vivida e sim assistida.

Escola literária: 
ROMANTISMO: Teve início no século XIX, como a obra Suspiros Poéticos (1836) de Gonçalves de Magalhães, tem como característica o culto ao eu, o individualismo, a constante busca pelas forças inconscientes da alma, o coração acima da razão...o mal do século. A natureza passa a ser a expressão da perfeição de Deus....
"...aquela doce intimidade de um amor puro e tranqüilo."

 A mensagem:
• Mensagem de amor e honra....
• Amor eterno e incondicional e honra pelo nome... 

Conclusão: 
• A obra é um lindo romance que dá asas à imaginação, tem como tema o amor entre um homem e uma mulher, tema atual em todos os tempos e por isso prende a atenção dos leitores mais variados. Foi importante dentro do seu movimento literário.

Correspondência de Abelardo e Heloísa (Martins Fontes)


O caso de Abelardo e Heloísa é uma história de Amor das antigas, anterior a Romeu e Julieta, do século XII para ser mais preciso. Pouco sabemos de verdade sobre este Amor entre professor e aluna se sequer se existiu. O livro em si, Correspondência de Abelardo e Heloísa * além de um breve estudo inicial, nos apresenta cinco epístolas - gênero muito difundido na antiguidade latina - trocadas entre os famosos "amantes", as quais juntas costuram um tecido de uma apaixonante colcha de casal medieval, sem rasgá-lo ou remendá-lo por completo. Ao contrário, deixam dúvidas descobertas tão atrozes que inúmeros estudos e hipóteses são bordados há quase 1000 anos. Enfim, um belíssimo texto no sentido pleno.
A primeira das cartas é, na verdade, uma confissão de Abelardo a um amigo. Toda a história dos infortúnios é contada longa e complacentemente: das aulas (e confusões) de filosofia que o professor ministrava nas incipientes escolas medievais, dos primeiros encontros furtivos com a bela e jovem Heloísa ao trágico episódio da castração do protagonista (sim, castração!) e o longo e conseqüente arrefecimento de uma "concupisciência literária" amaldiçoada na obra. O gênero epistolar e a tragédia da emasculação podem parecer desestimulantes ou desagradáveis (principalmente aos homens…) mas, ao contrário, a prosa é por demais envolvente e impetuosa. O tom íntimo e confessional da carta, bem como a retórica e erudição do autor - exageros de linguagem característicos destes tempos "barrocos" - cativam e inebriam, ainda que desconfiemos da soberba do protagonista em suas confissões, ora puramente arrogante, ora calorosa: "Sob o pretexto de estudar, entregávamos inteiramente ao amor. As lições nos propiciavam esses tête-à-tête secretos que o amor anseia. Os livros permaneciam abertos, mas o amor mais do que nossa leitura era o objeto dos nossos diálogos; trocávamos mais beijos do que proposições sábias. Minhas mãos voltavam com mais freqüência a seus seios do que a nossos livros. O amor mais freqüentemente se buscava nos olhos de um e outro do que a atenção os dirigia sobre o texto" [1].
Heloísa coloca sua colher na obra quando recebe e lê por acaso a carta endereçada ao amigo de Abelardo. Responde-lhe então com o fervor e a paixão do amor feminino, mas um amor já contido e amargurado pela desgraça dos infortúnios que lhes afligira (certamente, muito mais a ele!), um amor já em princípio de revolta, tamanha submissão religiosa por ela aceita - ambos dedicam-se à vida monástica após o fracasso amoroso. Abelardo recebe e responde a epístola de sua amada, porém ensaia uma resposta com ensinamentos de uma frieza tão grande que chega a parecer desdém aos pedidos de boa notícia que Heloísa tanto lhe rogava. Aí ela "roda a baiana" na quarta carta - um reconhecido ponto alto da obra.
Ela confessa-lhe um amor inimaginável, supremo e irrestrito, acima do Deus a quem ela serve por obrigação do pedido de Abelardo, unicamente como prova de amor incondicional a seu amado terreno. Assim, Heloísa profere vitupérios ao destino (a deusa Fortuna, para a cultura latina), à sabedoria, à prudentia, à temperança, à castidade e a todos os valores que lhe parecem falsos por terem lhes conduzido à infeliz ruína amorosa - resumo de sua vida conjugal. E o aparato filosófico e bíblico esquenta o conflito entre intelecto monástico e mente pecaminosa, caliente em diversas passagens: "Os prazeres amorosos que juntos experimentamos têm para mim tanta doçura que não consigo detestá-los, nem mesmo expulsá-los de minha memória. Para onde quer que eu me volte, eles se apresentam a meus olhos e despertam meus desejos. Sua ilusão não poupa meu sono. Até durante as solenidades da missa, em que a prece deveria ser mais pura ainda, imagens obscenas assaltam minha pobre alma e a ocupam bem mais do que o ofício. Longe de gemer as faltas que cometi, penso suspirando naquelas que não pude cometer" [2]. Nem os homens nem mesmo as mulheres escapam a suas vociferações ("As mulheres não poderão então jamais conduzir os grandes homens senão à ruína" [3]) - argumento a favor da manipulação e falsidade da própria obra.


Abelardo encerra neste livro o conjunto das correspondências com uma carta consoladora. Uma espécie de tratado que defende os valores sacrossantos do matrimônio (pois resignou-se a acreditar que seu casamento fora um atentado ao pudor - ah, se eles imaginassem a lascívia do mundo de hoje…), uma contra-argumentação sólida dos pontos fortes expostos por Heloísa que se assemelha a um primeiro tratado de pura retórica. E digo "neste livro" e "primeiro tratado" pois parece haver continuação desta seqüência de epístolas, de essência puramente filosófica, diferente destas apaixonantes cartas - tema de novos tratados para um outro livro. Para os mais eufóricos com o cinema, há uma adaptação de 1988 deste caso de amor para as telas, o filme Stealing Heaven (traduzido no Brasil como Em nome de Deus), que, além das cores reluzentes, não guarda a mágica das palavras, ainda que conte quase a mesma história…
Há um encaixe perfeito entre as epístolas (ou coesão do conjunto, um discurso compacto e persuasivo, segundo Duby [4]) que nos faz questionar não só a autenticidade da correspondência mas também o propósito monástico de tais escritos. Há um ambiente cristão misturado a valores pagãos, o que tempera a imaginação com muito misticismo medieval. Uns se questionam: houve mesmo tamanho desencontro e sofrimento nesta tragédia, no sentido medieval do termo (ação com final infeliz), como nos lembra Zumthor no prefácio do livro. Há a valorização da tradição latina em confronto com o ideal cavaleiresco que surge no período e inúmeros outros apontamentos. Enfim, muito já se falou e ainda é possível falar sobre esta facinante história de amor de tão longes tempos. E uma infinidade de leituras permite também uma inesgotável gama de análises - proposta que foge do objetivo deste curto ensaio. Como este amor fracassou ou por quê Abelardo foi castrado? - estas ciladas da curiosidade ficam ao leitor e leitora que desejam saber mais de uma história de Amor que vale a pena ser conhecida.