O seminarista (Bernardo Guimarães)


Capitão Antunes e sua mulher, fazendeiros em Minas, obrigam a ser padre o filho Eugênio, que tem um amor de infância, Margarida, filha de uma empregada. A certa altura, o rapaz tenta abandonar a carreira imposta. Os pais não consentem e de comum acordo com os sacerdotes do seminário inventam a notícia do casamento de Margarida. Eugênio então se ordena.
No dia que chega à vila natal, é chamado para atender a uma doente, que não é outra senão Margarida, que fora expulsa da fazenda com a mãe que acaba por lhe contar a verdade. O temperamento ardente da moça arrasta Eugênio ao "pecado”; ela morre e ele endoidece ao ver o cadáver na Igreja em que ia rezar a primeira missa.
O Seminarista narra o drama de Eugênio e Margarida que, na infância passada no sertão mineiro, estabelecem uma amizade que logo vira paixão. O pai de Eugênio, indiferente aos sentimentos do filho, obriga-o a ir para um seminário. Dilacerado entre o amor e a religiosidade, Eugênio segue para o mosteiro.
Embora todo o sofrimento da perda amorosa, o jovem dedica-se à vida espiritual (mesmo sempre triste) e acaba ordenando-se sacerdote. Volta então à aldeia natal para rezar a sua primeira missa. Lá encontra a sua antiga paixão, Margarida, que está à beira da morte. Os dois não resistem ao impulso afetivo e mantêm relações. Em seguida, a heroína morre. Eugênio, ao iniciar a missa, descobre um corpo que chega à igreja e que aquele era de Margarida e assim enlouquece de dor afetiva e moral. Joga sua roupa de padre no chão e sai correndo pela porta principal da igreja, desesperado, sem controle. Estava louco de raiva.
Apesar de sua dimensão melodramática, o romance apresenta uma das mais veementes críticas ao patriarcalismo, em toda a literatura do século XIX.




O Primo Basílio (Eça de Queirós)


Em O Primo Basílio, o alvo da crítica é a burguesia. O autor ataca a família lisboeta, reunião desagradável de egoísmos. Nesse quadro doméstico, Eça reúne personagens medíocres que representam as várias faces da sociedade. O casal aparentemente perfeito, Luísa e Jorge. A empregada doméstica que os odeia e inveja, Juliana. A beata dona Felicidade. O Conselheiro Acácio, um alto funcionário público. Julião, um médico desiludido com seu ofício. Ernestinho, um escritor de dramalhões. E o vilão de toda a história, Basílio, o primo-amante-conquistador de Luísa.

O romance retrata uma vida em família. Critica a família pequeno-burguesa de Lisboa. Luísa, educada sob influência de princípios morais e religiosos não tão severos, é romântica, fútil e leviana. Tivera sempre uma vida ociosa. Casa-se com Jorge, homem bom, inteligente, simpático. Jorge e Luísa moram há três anos, em uma rua freqüentada por pessoas pobres e que gostam de mexericos. Ele é engenheiro e trabalha em um Ministério. Luísa gosta de romances, sonha e vê a vida passar. O casal deseja um filho que não vem.

Jorge é chamado a trabalho e vai, por um tempo, para Alentejo. Na primeira ausência do marido, influenciada por suas leituras e desgostosa com a solidão, Luísa recebe a visita de seu primo Basílio. Encontram-se e ela trai o marido, seduzida por Basílio, antigo namorado que havia chegado a Lisboa, depois de um tempo fora. Basílio deseja-a para uma aventura que diminua o seu tédio na pequena cidade. Está lá a negócios. Luísa cede ao charme, à paixão antiga e às tentações de Basílio. Revive os romances lidos com ardor, cometendo adultério. Sua criada Juliana, no entanto, apodera-se de algumas cartas trocadas pelos amantes. Basílio volta a Paris e deixa Luísa à mercê das exigências de Juliana.

Jorge regressa. Luísa transforma-se em criada, a mando de Juliana. Ameaçada, ela reza, joga na loteria, tenta se entregar a um banqueiro para conseguir dinheiro. Um amigo da família, Sebastião, consegue de volta a correspondência e tenta ajudar Luísa. Jorge percebe atitudes estranhas em Juliana e a manda embora. A criada morre logo depois, espumando de raiva, vítima de um colapso nervoso. Luísa também adoece por causa de uma carta de Basílio para ela. Jorge lê e toda a infidelidade de Luísa é descoberta. Fatalmente, Luísa morre. Jorge martiriza-se pois desejara matar e perdoar a mulher.

A história termina com a morte de Luísa e duas grandes ironias: a celebração de suas virtudes pelo Conselheiro, justamente ele, puritano, falso, hipócrita e a volta de Basílio, lamentando a morte da prima e a ausência da amante francesa Alphonsine.


* Se em O Primo Basílio o alvo da crítica era a burguesia, em O Crime do Padre Amaro também de Eça Queirós, o alvo da crítica era o clero.



Dom Quixote (Miguel de Cervantes)


Causas do surgimento de Dom Quixote: perda da riqueza - Dom Quixote era um fidalgo, filho de pais ricos. No entanto, durante sua vida, ele vai perdendo sua riqueza, pagando dívidas e comprando livros. Por isso, mergulha na literatura em busca da solução desta dificuldade, até demais. Mudança em sua vida - Além de perder sua riqueza, Dom Quixote, ao nosso ver, começa a agir como um cavaleiro em busca de uma mudança, uma nova vida. Ele já tinha uma idade relativamente avançada e vivia muito só. Por isso deixa-se levar por imaginação e passa a viver num mundo ilusório, fantasioso.

A batalha dos moinhos de vento:

Dom Quixote e Sancho Pança chegaram a um local onde havia trinta ou quarenta moinhos de vento. Dom Quixote disse a Sancho Pança que havia dezenas de míseros gigantes que ele ia combater. Sancho pediu para Dom Quixote observar melhor, pois não eram gigantes e simplesmente moinhos de vento. Dom Quixote aproximou dos moinhos e com pensamento em sua deusa, Dulcinéia de Toboso, á qual dedicava sua aventura , arremeteu, de lança em riste, contra o primeiro moinho. O vento ficou mais forte e lançou o cavaleiro para longe. Sancho socorreu-o e reafirmou que eram apenas moinhos. Dom Quixote, respondeu que era Frestão, quem tinha transformado os gigantes em moinhos.

Análise do trecho:

Através deste breve relato da Batalha dos Moinhos de Vento, podemos ver com clareza a loucura de Dom Quixote. Naquele momento, podemos observar, Sancho Pança comportar-se com as mesmas idéias de nossa sociedade quando defronta-se com algo fora dos padrões, fora do cotidiano, fora da normalidade petrificada que ela mesma impõem. E com mesma atitude, demostrando, apontando, avisando, porém nada fazendo mediante o fato. Dom Quixote não tinha consciência do que fazia. Ele havia se aprofundado tanto naquele mundo irreal que começou a ver coisas logo após o choque com os moinhos ele percebe com clareza que os gigantes de fato eram moinhos, porém sua imaginação o faz achar que algum mago o hipnotizou, fazendo ele ver nos moinhos os gigantes. Sempre havia uma forma da realidade transformar-se em irrealidade.

A batalha contra o “exército de ovelhas:”

Neste capítulo do livro, é relatado uma das aventuras de Dom Quixote, o encontro com dois rebanhos de ovelhas. O cavaleiro, com todo o seu sonho, criou paisagens, personagens que não existiam, atribuindo-lhes armas, coroas, escudos que na verdade não existiam, eram somente animais. Foi então que o “herói” avançou em direção aos rebanhos e, como sempre foi surrado pelos pastores e pelas próprias ovelhas.

Trecho:

Como continuidade da sua loucura, o fidalgo é capaz de imaginar em um campo, que está cheio de ovelhas, dois grandes exércitos, com seus generais e cavalos, guerreando. Aqui, Sancho Pança, também reprime o nobre homem, repetindo atitudes de nossa sociedade. Ele faz um papel de “acredite se quiser”, concordando com os sonhos de seu amo apenas para satsifazê-lo, ou seja, se não podia controlá-lo, juntava-se a ele. Sancho Pança conquista suas ilhas prometidas Desacreditado em receber sua ilha, Sancho Pança ganhou-a com muito orgulho. Pelo fato de acreditar e acompanhar um cavaleiro, tinha muito prestígio na sociedade. Sancho Pança realizou resolveu vários problemas durante seu curto encontro com o poder, mas a população, que estava apenas fazendo uma brincadeira com o escudeiro, afetou os sentimentos do “governador”, fazendo-o abdicar ao cargo e voltar a sua vida antiga.

Análise do trecho:

Nesta passagem do livro, analisamos como a sociedade, representada por Sancho Pança, é frágil. Ao acreditar estar recebendo os reinos prometidos por “nosso herói”, o fiel escudeiro rende-se à fantasia de Dom Quixote, movido pela ganância e pelo poder. Em contra partida, sua análise mais crítica do fato demonstra a atitude de debocho e desprezo dos habitantes da ilha, pouco se importando com o estado do ajudante e do próprio cavaleiro. Não refletiram se Dom Quixote tinha algum problema mental ou se precisava de ajuda. Ao contrário, invés de ajudá-lo, contribuíram para a sua ridicularização. Finalizando, o livro de Miguel de Cervantes retoma a história do povo espanhol e do Europa, retratando as aventuras dos inúmeras cavaleiros, sendo por isso considerado a última novela de cavalaria. Critica também as atitudes da sociedade e como alguns componentes desta alertaram para o problema de Dom Quixote e se esforçaram para o problema para tentar solucioná-lo.


Conseqüências da “loucura” de Dom Quixote:

Ao agir como Dom Quixote, o cavaleiro não distinguia as pessoas com quem encontrava, prejudicando algumas e, consequentemente, auxiliando outras, física e financeiramente. Perda da história - Quando os amigos de Dom Quixote descobrem a causa de sua “insanidade”, decidem por acabar de vez com ela, queimando todas as suas novelas de cavalaria. Por outro lado, ao agir desta forma, a sociedade comprova seu poder, eliminando algo que possa causar mais problemas futuros, que possa incomodá-la. Morte do personagem - Dom Quixote, inconsciente de seus atos, não percebe o desgaste de seu corpo e, infelizmente, como ele próprio afirma, só retorna à realidade quando já está nos momentos finais de sua vida. Morre arrependido, mas em paz por tê-la feito a tempo.











A Pata da Gazela (José de Alencar)


A Pata da Gazela, considerada “A Cinderela da literatura brasileira” narra em terceira pessoa, um romance vivido na alta roda carioca, repetindo a velha fórmula do triângulo amoroso.

Ø  O romance “A Pata da Gazela” foi escrito baseado no conto “A Cinderela”. O autor aproveita-se do enredo, no qual uma jovem, ao entrar apressada dentro de uma carruagem, perde um par de seu sapato, que é encontrado por um rapaz. Inquietado pelo calçado, ele sai à procura da dona do objeto, não desistindo até encontrá-la. À partir daí, o romancista desenvolve seu enredo, um texto irônico e crítico sobre a sociedade brasileira do século XIX.
Ø  Em resumo, a história se passa na cidade do Rio de Janeiro, em pleno século "burguês". Após o descuido de um lacaio ao carregar um pacote, um dos sapatos que estava dentro do embrulho, pertencentes a duas jovens (Amélia e Laura) que esperavam em um carro pelo servo, caiu no chão. Horácio, um vistoso rapaz que andava por ali naquele momento, percebeu a cena e apoderou-se do sapatinho que outrora caíra. Ao mesmo tempo, outro rapaz, Leopoldo, foi atraído pela confusão causada pelas moças, apressadas, e se deslumbrou com o vulto de uma "deusa", na verdade, o de Amélia. Porém, não consegue identificar um rosto.
Ø  A partir desta situação, os dois apaixonados iniciam uma busca pelas suas donzelas, contada comicamente, por José de Alencar.

·         Horácio, homem elegante não só no traje como em no trato pessoal, poderia ser considerado um dos príncipes da moda, um dos leões da Rua do Ouvidor. Horácio é o “leão”, rei dos salões, o homem preocupado com a própria elegância, volúvel destroçador de corações femininos.
·         Cansado de suas aventuras amorosas, apaixona-se e sai à procura de uma misteriosa mulher portadora de um minúsculo pezinho e dona da delicada botina que encontrou na rua, deixada cair por um lacaio que passara correndo por ele.
·         Leopoldo, pouco favorecido e respeitado de beleza, simples no vestir, trajava luto pesado não só nas roupas negras como na cor das faces e na mágoa que lhe escurecia a fonte, pela perda da irmã. Virgem de amores femininos apaixona-se pela dona do sorriso que viu em uma carruagem.
·         Horário, conhecedor dos corações das mulheres, acreditava que elas eram uma obra suprema. O amor não tinha novidades nem segredos para ele. Sofria imaginando se algum sapateiro com suas mãos aleijadas tomavam medidas de seu adorado pezinho.
·         Assim corria espetáculos e bailes, tentando descobrir por baixo da orla do vestido o ignoto deus de sua adoração.
·         Num teatro encontra-se Amélia com sua prima Laura. Leopoldo decidido a conservar o luto, estava presente e pede informações sobre as moças a Horácio, pois sua paixão continuava intensa e ardente.
·         Leopoldo encontra as moças subindo na carruagem e apressa o passo. Fica imóvel, seus olhos viram um aleijão, um pé disforme.
·         Amélia após vários encontros com Horácio, na casa de D. Clementina que gosta de reunir moças, formando pares para dançar, foi pedida em casamento por Horácio. Amélia pede um prazo de 15 dias antes de dar a resposta.
·         Leopoldo soube da notícia com mágoa, mas sem se perturbar, amaria unicamente sua alma, essa ninguém poderia roubar, porque Deus a teria feito para ele.
·         Findo o prazo, Amélia tinha ares de quem sucumbia ao compromisso contraído. Num baile escuta Horácio falando a Leopoldo que não sentira antes a menor comoção ao ver Amélia. Mas quando soube que a ela pertencia o tesouro, a botina, adorou-a.
·         Horácio conta-lhe sua versão, o vulto confuso, o defeito que ela tinha: um pé aleijado.
·         Amélia sai do baile e convida Horácio para ir a sua casa. O moço encontra-a bordando, e na conversa ela esconde as lágrimas. Lançando um olhar para a moça, viu alguma coisa que o sobressaltou. A fimbria do vestido suspensa descobria o pé da moça, o moço estremeceu: era o aleijão. A moça foge da sala.
·         Sentindo a necessidade de sair da posição difícil em que se achava, dirigiu-se à casa de Amélia, procurou manter um clima de guerra, pois ficou sabendo que a moça encontrava-se com o Leopoldo na casa de D. Clementina. O rompimento era infalível, compreendera que tudo acabara.
·         Horácio aproxima-se de Laura achando que o misterioso pezinho lhe pertencia. Aproxima-se e freqüenta a casa da família e lhe faz crer que se aproximou de Amélia para vê-la.
·         Amélia vai às compras com sua mãe e encontra o Leão, e disfarçadamente deixa à mostra pousados na calçada dois pezinhos mimosos que palpitavam dentro de botinas de merinó de cor cinza. Horácio fica pasmo.
·         Amélia e Laura eram primas e amigas. Laura usava sempre roupas compridas, disfarçando os pés disformes. Amélia tinha dois pezinhos de fada, os dedos pareciam botões de rosa. E para poupar a prima do constrangimento, Amélia encomendava os sapatos na rua onde Horácio encontrou a botina perdida.
·         Foi quando decidiu manter Horácio à prova, colocando a botina monstruosa de sua prima. Excitou o horror em Horácio.
·         Amélia aproxima-se de Leopoldo, convidando-o a freqüentar a sua casa, e conta-lhe que escutou a sua conversa naquela noite do baile.
·         Horácio descobre seu engano e resolve reconquistar Amélia. Encontra com Leopoldo, um cavalheiro mudado, boas maneiras com sóbria elegância, e sabe que só o amor traz estas transformações.
·         Não desiste, e indo a sua casa presencia o enlace de Amélia e Leopoldo, que o fazem sem prévia antecipação.
·         Leopoldo casa-se sem saber que a noiva não era um aleijão e esta prepara-lhe uma surpresa, exibindo seus dois pezinhos divinos, de onde apareciam as unhas rosadas.
·         O romance ganha suspense, pois o narrador oculta a identidade da dona da botina, retarda o final da história e complica seu desenlace, pois a dona da botina e do sorriso é a mesma pessoa, Amélia, que acabou por preferir Leopoldo, cujo amor é sincero e desinteressado.
·         Termina o romance com Horácio falando: - O leão deixou que lhe cerceassem as garras; foi esmagado pela pata da gazela.

Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)


Com Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881, Machado de Assis inaugura o realismo nas letras brasileiras. A partir dessa obra ele se revela um arguto observador e analista psicológico dos personagens.
O ritmo da obra é lento, com várias digressões e narrado de maneira irreverente e irônica por um "defunto autor" (e não um "autor defunto", como podem pensar). Brás Cubas, por estar morto, se exime de qualquer compromisso com a sociedade, estando livre para criticá-la e revelar as hipocrisias e vaidades das pessoas com quem conviveu.
Brás Cubas vai contando a sua vida e contando os vários episódios que viveu. Conta sobre a prostituta de luxo espanhola Marcela, que o amou "durante quinze meses e onze contos de réis". Para livrar-se dela, os pais de Brás Cubas decidem mandá-lo para a Europa. Volta doutor, em tempo de ver a mãe antes de morrer.

O seu amigo de escola Quincas Borba:
"Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infância, nunca em toda a minha vida, achei um menino mais gracioso, inventivo e travesso"

E quando ele o reencontra anos depois:
"Aposto que me não conhece, Senhor Doutor Cubas? Disse ele:
Não me lembra...
Sou o Borba, o Quincas Borba. (...)
O Quincas Borba! Não; impossível; não pode ser. Não podia acabar de crer que essa figura esquálida, essa barba pintada de branco, esse maltrapilho avelhentado, que toda essa ruína fosse o Quincas Borba. E era."

Pouco depois Quincas Borba aparece rico e filósofo, herdeiro de uma grande fortuna e propagador do Humanitismo.
O seu projeto político nunca alcançou, muito bem explicado no capítulo:
"De Como Não Fui Ministro d'Estado”

O amor por Virgília, o caso extra-conjugal que teve com ela, e a alegria de ter um filho:
"Lá me escapou a decifração do mistério, (...) quando Virgília me pareceu um pouco diferente do que era. Um filho! Um ser tirado do meu ser! Esta era a minha preocupação exclusiva daquele tempo.
“Olhos do mundo, zelos do marido, morte do Viegas, nada me interessava por então, nem conflitos políticos, nem revoluções, nem terromotos, nem nada. Eu só pensava naquele embrião anônimo, de obscura paternidade, e uma voz secreta me dizia: é teu filho. Meu filho! E repetia estas duas palavras, com certa voluptuosidade indefinível, e não sei que assomos de orgulho. Sentia-me homem."

A criança morre antes de nascer, e os amantes se separam. A irmã arranja-lhe uma noiva, Eulália, que no entanto, morre vítima de uma epidemia.
Sem conseguir ser político, Cubas em busca da celebridade tenta lançar o emplastro Brás Cubas, porém vêm a falecer de pneumonia antes de realizar o seu intento.

O último capítulo é bastante elucidativo:
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei acelebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que sai quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

O mais importante da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas certamente não é o enredo e sim a linguagem utilizada por Machado de Assis. A denúncia tácita da sociedade, por meio da leve ironia e humor.


Memórias póstumas de Brás Cubas é um romance do escritor brasileiro Machado de Assis, considerado divisor de águas em sua carreira. O livro costuma ser associado à introdução do Realismo no Brasil. É narrado em primeira pessoa pelo personagem Brás Cubas, que em tom irônico e sarcástico, descreve sua biografia e suas obras.

Uma das mais populares obras do autor, o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas foi publicado originalmente como um folhetim, em 1880, em capítulos, como na Revista Brasileira. Em 1881, saiu em livro causando espanto à crítica da época, que se perguntava se o livro tratava-se de fato de um romance: a obra era extremamente ousada do ponto de vista formal, surpreendendo o público até então acostumado à tradicional fórmula romântica. É narrada pelo defunto Brás Cubas, que escreve a própria biografia a partir do túmulo (sendo, portanto, segundo o próprio, não um autor-defunto, mas o primeiro defunto-autor da história, que é caracterizado por ter morrido e depois escrito, diferente do outro que foi escritor depois morreu). Começa suas memórias com uma dedicatória que antecipa o humor negro e a ironia presente em todo o livro: Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas Memórias Póstumas. Brás Cubas também espressa o humor negro quando diz que a obra foi escrita com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, no "Ao leitor".

Foi a obra brasileira que melhor ilustrou a tendência do "leitor incluso", um contraponto dialógico com o leitor, não apenas como um vocatico, mas dando ao leitor vida própria e contornos no interior do texto. O leitor é visto com possuidor de posicionamento crítico, gestos e temperamento. Estes trechos que incluem o leitor têm sempre uma natureza baseada numa reflexão, uma metalinguagem da estrutura e corrente ideológica do texto.


O Crime do Padre Amaro (Eça de Queirós)


Análise da obra


Publicado em 1875, O Crime do Padre Amaro de Eça de Queirós, é, simultaneamente uma obra-prima, um documento humano e social do país e de uma época, a expressão literária de uma realidade que a história confirma. A narrativa recria o coloquialismo português.

A ação da obra acontece em Leiria, interior de Portugal, onde é abrangido principalmente o ambiente de igreja, sacristia e casa de beatas. O autor ataca violentamente os vícios da sociedade da época e denuncia a hipocrisia burguesa e os abusos do clero.

Não há personagens livres da crítica ferina de Eça de Queirós, tanto no meio eclesiástico quanto no círculo de "amizades" e "devotas" que rodeia os padres. Quase todos os personagens são apresentados de forma sarcástica, irônica e crítica, sendo raras as exceções.

O Crime do Padre Amaro, introduz o realismo-naturalismo em Portugal. Eça de Queirós combate vivamente essa instituição da igreja católica, atacando dura e diretamente os jogos de aparências e o pseudomoralismo de que se costumam revestir certos dogmas e costumes religiosos. Este é o tema central deste romance. Paralelamente ao tema central, outros percorrem a obra como a contradição que existe entre o que os padres pregam e o que fazem de verdade. Outra denúncia que se faz, esta de ordem sócio-econômica, é a contraposição da pobreza à vida abastada dos clérigos. Mas a maledicência, a bisbilhotice, a futilidade, a superficialidade, o vazio interior da pessoas, o desejo do poder através da religião, o emprego da religião como força política e a crítica ao culto da aparência e da convenção também se fazem presente nesta obra de Eça de Queirós.

Personagens:

Amaro - protagonista do romance. Um jovem padre, bonito, mesmo um pouco curvado, de olhos negros, ambicioso. Tornou-se sacerdote sem ter a vocação para isso. Via maus exemplos de outros padres e deixando de lado seus escrúpulos, começou a agir como muitos dos seus colegas.

Amélia - filha da sra. Augusta Caminha. Jovem bonita, de pela alva e olhos muito negros.

João Eduardo - sujeito alto, bigodes que caem nos cantos da boca. É escrevente e nutre por Amélia uma paixão desmedida.

Cônego Dias - padre idoso, rico, influente, morador de Leiria, conselheiro e confidente do Pe. Amaro, de quem tinha sido professor de Moral no seminário; amante não declarado de D. Augusta Caminha, conhecida como S. Joaneira.

S. Joaneira - mãe de Amélia, chamada Augusta Carmina. Era chamada assim por ser nascida em São João da Foz.

D. Maria da Conceição - viúva rica. Tinha no queixo um sinal cheio de cabelos e quando sorria mostrava grandes dentes esverdeados.

D. Josefa - solteirona, irmã do Cônego Dias, com quem morava.

D. Maria Assunção - beata rica.

Conde de Ribamar - pessoa influente junto ao governo, casado com uma das filhas da marquesa que criou Amaro.

Libaninho - beato fofoqueiro, efeminado.

As senhoras Gansosos - duas irmãs, chamadas Joaquina e Ana. Joaquina era a mais velha, muito magra, de olhos muito vivos. A sra. Ana era muito surda, Nunca falava. Tinha muita habilidade em recortar papéis para caixas de doce.

Resumo

Por decisão da marquesa que o educara na infância, Amaro seria padre. Dois anos antes de ir para o seminário, ele passou a morar na casa de um tio pobre, que o punha para trabalhar. O período sofrido na casa do tio o animou a ingressar no seminário, ainda que fosse somente para ficar livre daquela vida. Às vésperas, porém, de mudar-se para o seminário, já não estimava tanto a idéia: tinha vontade de estar com as mulheres, de abraçar alguém, de não se sentir só. Julgava-se infeliz e pensava em matar-se. Às escondidas, na companhia de colegas, fumava cigarros. Emagrecia, andava meio amarelo. Começava a sentir desânimo pela vida de padre, porque não poderia casar-se.

No seminário, isolados da cidade e da convivência com estranhos, Amaro e seus colegas, na maioria não vocacionados para o sacerdócio, viviam tristemente. Amaro não deixara muita lembrança boa para trás. Mesmo assim, tinha saudades dos passeios, da volta da escola, das vitrines das lojas, onde parava para apreciar a nudez das bonecas.

Amaro não desejava nada, mas, influenciado pelos que queriam até fugir do seminário, ficava nervoso, perdia o sono e desejava as mulheres. A disciplina do seminário deu-lhe hábitos maquinais; interiormente, porém, os desejos sensuais moviam-se como um ninho de serpentes. Logo depois de ordenado padre, Amaro ficou sabendo que a marquesa havia morrido e não deixara herança nenhuma para ele. Foi nomeado para Feirão, região muito pobre, de pastores, quase desabitada. Ficou lá um tempo, cheio de tédio. Indo a Lisboa, procurou a Condessa de Ribamar, uma das filhas da marquesa que o educara. Ela lhe prometeu interceder por ele junto a ministro amigo do conde, seu marido. Uma semana depois, Amaro estava nomeado para Leiria, sede de bispado, apesar de ser padre novo – o ministro intercedera junto ao bispo.

Orientado pelo Côn. Dias, o novo pároco foi morar na casa da S. Joaneira, contrariando a opinião do coadjutor – padre auxiliar, pessoa de respeito mas sem influência – o qual havia ponderado que isso seria imprudente por causa de Amélia, poderia haver comentários maliciosos. O quarto do Pe. Amaro ficava no térreo, exatamente embaixo do quarto de Amélia, cuja movimentação ele podia ouvir nitidamente.

Na noite do primeiro dia de Amaro na casa da S. Joaneira, ela reuniu algumas velhas, João Eduardo e o Cônego Dias. Jogaram o lote. Por coincidência, Amaro e Amélia, sentados lado a lado, quinaram. O jovem padre ficou impressionado com a moça. Depois que todos saíram e os de casa se deitaram, Amaro foi buscar água na cozinha e viu Amélia de camisola. Ela se escondeu, mas não o censurou. No quarto, nervoso, atormentado pela visão de Amélia, Amaro não conseguiu rezar nem dormir.

Amélia também não dormiu logo e ficou recordando sua vida. Não chegou a conhecer o pai, militar, que morreu novo. Com 15 anos de idade, ela teve a primeira experiência de ser amada e de amar, quando passou umas férias na praia. Na véspera de o rapaz partir, ele a beijou sofregamente, às escondidas. Algum tempo depois, já em Leiria, ela soube que ele ia se casar com outra. Triste e acreditando não voltar mais a ter alegria, Amélia tornou-se uma beata e pensou em se fazer freira. Por esse tempo, o Côn. Dias e sua irmã Josefa começaram a freqüentar a casa em que Amélia morava. Falava-se muito da ligação do cônego com a mãe dela. Aos 23 anos, a moça conheceu João Eduardo, que chegou a falar em casamento, mas ela quis esperar até que o rapaz obtivesse o lugar de amanuense, a ele prometido.

Amaro estava se sentindo bem em sua rotina: celebrava a missa cedo para um grupo de devotas; à tarde e à noite deliciava-se na companhia doméstica da S. Joaneira e sobretudo de Amélia. Atraídos um pelo outro, estavam liberando os sentimentos. Na presença do noivo, porém, a moça nem olhava para o padre, o que lhe causava ciúmes.

Numa tarde, Amaro chegou sem ser esperado e flagrou o Cônego Dias na cama com a S. Joaneira. Ficou surpreso e saiu sem ser notado. Em contato com outros padres, ficou sabendo que eles tinham casos com mulheres.

Aos poucos, Amaro e Amélia começaram a demonstrar, um para o outro, seu envolvimento emocional. Ela se tornou totalmente apaixonada: acompanhava-o com os olhos sempre e, quando ele não estava em casa, ia ao quarto dele, colecionava os fios de cabelo que tinham ficado no pente, beijava o travesseiro. Tinha ciúmes dele ao saber que alguma mulher o escolhera como confessor.

Amedrontado com a evolução de seus sentimentos e temendo se deixar dominar pela paixão, Amaro pediu ao Cônego Dias que lhe arrumasse outra moradia, onde vivesse sozinho. Assim se fez.

Por sua vez, Amélia se sentia desconsolada pelo afastamento de Amaro. Depois de algum tempo, ele voltou a freqüentar a casa da S. Joaneira. Os dois não estavam conseguindo mais esconder a paixão recíproca. Enciumado, João Eduardo tentou apressar o casamento. Amélia estava enfastiada dele, mas tentou fingir-se apaixonada, para evitar escândalo. Mesmo assim, a paixão pelo padre falava mais forte.

Certa noite, indignado por ver Amaro segredar algo no ouvido de Amélia, João Eduardo redigiu e fez publicar no jornal de Leiria um artigo: “Os modernos fariseus”, no qual ele contava as imoralidades de alguns padres da cidade, inclusive do Cônego Dias e do Pe. Amaro, a quem chamou de sedutor de donzelas inexperientes. Os padres mencionados se enfureceram e passaram a investigar quem seria o autor.

Abalada com as possíveis repercussões do artigo e magoada com o que ela achou covardia de Amaro (depois do artigo ele sumiu da casa dela), Amélia aceitou marcar o casamento com João Eduardo.

De fato, Amaro se retraíra. Seus sentimentos estavam confusos; não teria mesmo coragem de assumir o amor de Amélia e abandonar o sacerdócio, mas crescia sua raiva contra João Eduardo.

Através da confissão da mulher do responsável pelo jornal, os padres vieram a saber quem havia redigido o artigo maldito. A vingança foi cruel: João Eduardo perdeu o emprego, por influência deles. Ao contar para Amélia quem fora o articulista, Amaro afirmou que não deixaria, em nome de Deus, que ela se casasse com um ateu. Ao dizer isso, pela primeira vez os dois se beijaram com paixão.

A moça desfez o noivado. Desolado, João Eduardo procurou apoio e não recebeu: ninguém queria manifestar-se claramente contra o clero.
Nesse meio corrompido, em que impera a hipocrisia, acaba por dar vazão a seus piores instintos. Assim, não hesita em trair os votos de castidade (esse foi o crime do padre), ao se transformar em amante da jovem Amélia, com quem encontrando secretamente, acabam por ter a notícia de que Amélia estaria esperando um filho.

Então, Amaro fica desesperado porque não pode se casar por ser um padre e tenta casá-la com Eduardo. No entanto, Eduardo já havia partido e não foi possível fazer-se o acordo.

Com isso, os dias se passam até que Amaro fez com que Amélia fosse para o interior cuidar da irmã do cônego Dias que estava doente. Ela teria que ficar por ali até o filho nascer.

Nesse tempo Amaro ficou tentando encontrar uma ama que pudesse criar o seu filho quando nascesce, e por indicação de Dionísia, ele acabou optando por entregar o filho a uma senhora que se chamava Carlota, que era “tecedeira de anjos”, pois todos os bebês que chegavam até ela, eram mortos (o livro não explica como ela os matava...).

Enfim chegou o dia e o bebê, que iria se chamar Carlos, nome dado por Amélia, nasceu. Imediatmente o entregaram a Carlota. Porém depois disso, Amélia começou a choramingar e a pedir que lhe tragam seu filho. O Doutor Gouveia manda  Dionísia distraí-la. Amélia então começa a sentir um peso na cabeça e a sentir faíscas diante dos olhos. E logo começou a ter convulsões. O Doutor Gouveia ficou ali tentando fazer alguma coisa para salvá-la, mas não adiantou. Amélia morreu.

Amaro quando soube, chorou muito e foi aí que tomou uma decisão. Iria voltar para Lisboa, levar consigo a escolástica, e educar lá a criança como sobrinho. Então resolveu ir até a casa da Carlota onde estava o filho. Chegando lá, Carlota disse que infelizmente a criança havia morrido...

Furioso de ódio, ele montou no cavalo  e pediu ordens ao vigário-geral  para ir embora. Escreveu ao cônego Dias e disse que iria embora acabar os dias nas lágrimas, na meditação e na penitência. e assim foi-se embora para Lisboa.

Tempos depois o Cônego Dias chegou à Lisboa e encontrou-se com Amaro. Deu notícias de todos e o lembrou-se da carta que Amaro havia escrito à ele onde dizia ir para o convento, passar a vida na penitência.

Simplesmente o padre Amaro encolheu os ombros e disse:
- “Que quer você, padre-mestre? Naqueles primeiros momentos... Olhe  que me custou! Mas tudo passa...”
- “Tudo passa, disse o cônego”.

O livro termina com os dois conversando junto as grades do monumento de Luís de Camões, juntamente com o Sr. Conde de Ribamar que aparecera.
‘Entre o largo onde se erguiam duas fachadas tristes de igreja, e o renque comprido das casarias da praça onde brilhavam três tabuletas de casas de penhores, negrejavam quatro entradas de taberna, e desembocavam, com um tom sujo de esgoto aberto, as vielas de todo um bairro de prostituição e de crime”.
- “Vejam, ia dizendo o conde: vejam todoa esta paz, esta prosperidade, este contentamento... Meus senhores, não admira realmente que sejamos a inveja da Europa!




Outras características:

  • No final do romance, Amaro, sem nenhum escrúpulo, livra-se de Amélia e da criança e parte para Lisboa.
  • Pode-se dizer que O Crime do Padre Amaro foi concebido como uma espécie de teorema. Amaro é hipócrita, corrompido, porque vive num meio  que não lhe permite desenvolver positivamente o caráter. Conclusão: irá se tornar um homem inescupuloso.
  • Portanto deve-se considerar que o alvo da crítica de Eça de Queirós, não é propriamente o padre Amaro, mas a sociedade que o criou e deformou. Por aí se vê que o romance de tese tem um fim moral: criticar o meio social que produz indivíduos como Amaro.
  • Se em O Crime do Padre Amaro o alvo da crítica era o clero, em O Primo Basílio, também de Eça de Queirós, o alvo da crítica era a burguesia.



Bom Crioulo (Adolfo Caminha)


Análise da obra

O romance Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, faz parte do Realismo e do Naturalismo. A história de paixão e tragédia não é produto de fantasia romântica, mas baseada num fato real que escandalizou o Rio de Janeiro no século XIX.
Caminha constrói a partir de um fato verídico, uma ficção forte, ousada, muito atual até os dias de hoje. Fez isso para chocar e se vingar da sociedade hipócrita que o rodeava.
Bom-Crioulo, publicado em 1895, é dividido em 12 capítulos, onde a ação se passa na segunda metade do século XIX, no Rio de Janeiro. Destacam-se o espaço aberto, normalmente dias claros e quentes, o mar aberto, e o espaço fechado do quartinho de Amaro.
Boa parte da força e da eficácia de Bom-Crioulo está no manejo lúcido que o autor faz desses conflitos, escolhendo o quê, quando e como contar deste verdadeiro enredo de notícia de jornal sensacionalista. A narrativa é simples e direta, mas tem as suas manhas: não entrega o jogo facilmente, cria suspenses, vai e volta no tempo, de modo a dar a cada momento, a cada situação, a sua atualidade e a sua história, o seu desenvolvimento próprio. Assim, o enredo central se desdobra em alusões a muitas outras histórias; e o dia-a-dia do século XIX brasileiro se insinua a cada passo, fazendo ecoar as falas e as ações das personagens centrais.
A intenção do romance resume-se em acompanhar as personagens em seu movimento, como se fosse o expectador que registra a evolução do drama alheio sem interferir. Nele tudo caminha numa ordem inalterável até o epílogo, com uma supervalorização do instinto sobre os sentimentos, do animal sobre o racional.

Foco narrativo

Narrado em 3ª pessoa, por narrador onisciente, percebe-se que as inúmeras descrições que aparecem no romance, condizentes com a estética naturalista que privilegia a observação meticulosa dos fatos, buscam não se confundir com a história, nem com as personagens.
Preso aos ideais do escritor naturalista — exatidão na descrição, apelo à minúcia e culto ao fato — o narrador conta a história de modo linear, gradativo, utilizando-se de uma linguagem clara, direta, objetiva, com poucos objetivos. O que será importante são os fatos narrados e não a opinião que se pode ter sobre eles. Não há, portanto, da parte desse narrador, qualquer julgamento moral das personagens.
A história quase se narra por si, pela exposição direta dos fatos, que vão montando a estrutura narrativa, ou seja, a história das três personagens envolvidas num caso de amor: Amaro, Carolina e Aleixo.

Temática

O tema principal é a dificuldade do amor homossexual, centrado na relação entre o negro Amaro e o jovem e bonito Aleixo. Faz presente também o tema da mulher madura que deseja um amante jovem. A originalidade de Bom-Crioulo se manifesta no triângulo amoroso sobre o qual se sustenta. Tradicionalmente, um triângulo amoroso é composto por dois homens em luta por uma mulher, ou duas mulheres que disputam o mesmo homem. Em Bom-Crioulo, Amaro e Aleixo são marinheiros e, acima de tudo, como tal se comportam, favorecendo a anulação das diferenças étnicas, que se dá não pela ascensão do negro fugido, mas pelo rebaixamento de ambos à condição de prisioneiros do mesmo sistema e do “vício”. Por fim, o terceiro do triângulo é uma mulher que atua como homem, pois conquista Aleixo em vez de ser conquistada. Adolfo Caminha colhe ao vivo, de sua experiência como oficial da marinha, o material do romance.
Este tema do romance, o homossexualismo, manifesto na construção do triângulo amoroso, é tratado com crueza e sem nenhum indício de preconceito pelo escritor naturalista, que vê no vício um objeto de estudo que deve ser esclarecido e compreendido.
O homossexualismo, encarado no romance como vício ou perversão, é tratado, portanto, através de um olhar naturalista e, conseqüentemente, limitado: não há o enfoque mais subjetivo dos sentimentos despertados; não há autonomia do caráter: as personagens estão acorrentadas às leis deterministas (não há drama de consciência ou mesmo drama moral). Há uma resposta mecânica, instintiva aos fatos e, nesse sentido, o livro perde um lado da questão, o que não esmaece sua força e valor literário.
Outro tema é a problemática da vida dos marinheiros, que ficam a maior parte do tempo longe da terra e de mulheres, o sofrimento dos castigos corporais impiedosos e rigorosos. Este é a temática que se entrelaça com o tema central.

Tempo e espaço

O romance se passa em dois espaços: no mar, a bordo de uma corveta, e na Rua da Misericórdia, localizada nos subúrbios do Rio de Janeiro, nos fins do século XIX. Os dois lugares são descritos em seus aspectos mais degradantes e negativos, ressaltando a miséria daqueles que aí vivem.
A abertura do romance se faz com uma detalhada descrição da corveta, local inicial da ação.
Por meio de uma descrição minuciosa e da riqueza de detalhes que ajudam a compor o ambiente externo, percebe-se como o autor naturalista se debruça sobre o meio que terá um papel decisivo no comportamento das personagens.
O ambiente de bordo é marcado pelo trabalho duro e por uma vida sem privacidade, o que possibilita a eclosão das mais diversas perversões. O ajuntamento de homens favorecia a promiscuidade entre seres que vivenciam a solidão da reclusão da vida no mar e que, sobretudo, sentiam a falta de liberdade, vítimas de um sistema duro e cruel - a vida na Marinha:
Mas, havia ordem para não desembarcar, e Bom-Crioulo, como toda a guarnição, passou a tarde numa sensaboria, cabeceando de fadiga e sono, ocupado em pequenos trabalhos de asseio e manobras rudimentares. - Diabo de vida sem descanso! O tempo era pouco para um desgraçado cumprir todas as ordens. E não as cumprisse! Golilha com ele, quando não era logo metido em ferros... Ah! Vida, vida!... Escravo na fazenda, escravo a bordo, escravo em toda parte... E chamava-se a isso servir á Pátria!
Por esse trecho, pode-se notar uma crítica implícita a Abolição dos Escravos que parece não passar de uma ilusão, já que os homens provenientes das camadas mais baixas da população continuam a ser explorados.
Num segundo momento, a história se desloca para a terra, mais precisamente para um quarto na Rua da Misericórdia, onde Amaro e Aleixo, após terem se conhecido no navio, vivem o ápice e o declínio de seu relacionamento.
Ao retratar o espaço urbano, Adolfo Caminha fala a respeito de um tipo de moradia muito comum no Rio de Janeiro, durante o final do século XIX: as habitações coletivas. Os habitantes dessas moradias eram brancos, mulatos e mestiços, sempre pessoas exploradas. Ao redor dessas habitações, há a presença de negociantes portugueses em ascensão, como o açougueiro que sustenta D. Carolina, e que se aproveitam, de algum modo, da miséria dessas pessoas.

Desse modo, o comportamento das personagens está condicionado pela pobreza do ambiente que as circunda e que, por sua vez, é decorrente do momento histórico por que passava o Brasil, durante o Segundo Reinado.

Personagens

Em Bom-Crioulo, Caminha constrói com segurança e coerência o personagem Amaro, mulato dominado pela paixão homossexual, que o leva para caminhos sadomasoquistas à perversão e finalmente ao crime. O autor soube manejar as cenas e personagens com naturalidade.
As personagens de um romance naturalista raramente são dotadas de alguma profundidade psicológica. Muito próximas dos tipos, também chamados de personagens planas, não evoluem no decorrer da narrativa, de forma que suas ações apenas confirmam as poucas características que as definem.

Amaro: protagonista, ex-escravo convocado para a marinha. Trata-se de um homem muito forte, com trinta anos de idade e que não conseguiu realizar-se sexualmente com as mulheres. Duas tentativas deram-lhe grande decepção e o deixaram frustrado. Só conseguiu consumar o ato com o jovem Aleixo. Apresenta certa profundidade psicológica, mas que é totalmente envolvido por sentimentos e instintos que o dominam, impedindo-o de perceber com clareza a situação conflituosa que vive. Algumas vezes, surgem percepções esparsas, mas nada suficientemente forte para modificar o destino do negro, movido pela paixão. Por um lado, Amaro é extremamente forte fisicamente. Sua força provém do trabalho escravo e depois do trabalho na Armada, em que se engajara após ter fugido da fazenda. Os castigos físicos que lhe foram impostos, tanto pelo feitor quanto a bordo, tornaram-lhe resistente e lhe deram a energia de um animal brioso. A força do negro é realçada pelo narrador, numa das cenas iniciais do romance, por meio da descrição de uma cena em que Amaro está sendo punido com a chibata: — Uma! cantou a mesma voz. — Duas!.., três!...

Aleixo: grumete, belo rapaz de olhos azuis, que embarca no sul. Tem quinze anos e mexe sexualmente com Amaro. Cede às investidas e caprichos do crioulo, mas quando aparece ocasião troca-o por uma mulher. Isso o leva ser assassinado por Amaro, por causa do ciúme. Aleixo surge desde o princípio como o oposto de Amaro: branco, fisicamente fraco e pueril, subjugado pelas circunstâncias e por quem lhe é mais forte — será assim com Amaro e com Carolina. O ar de submissão de Aleixo vai transfigurando-se, ao longo da narrativa, numa espécie de esperteza camaleônica. Nada sabemos sobre seu passado, a não ser que era filho de uma pobre família de pescadores que o tinham feito entrar para a Marinha em Santa Catarina. A ligação com Amaro oferece-lhe um novo mundo, bastante diferente daquele de sua origem, e que lhe propicia, acima de tudo, favores e proteção.

D. Carolina: amiga e rival de Amaro. É amiga de Amaro por tê-lo salvo em um assalto e inimiga por depois conquistar o namorado do crioulo. D. Carolina era uma portuguesa que alugava quartos na Rua da Misericórdia somente a pessoas de “certa ordem”, gente que não se fizesse de muito honrada e de muito boa, isso mesmo rapazes de confiança, bons inquilinos, patrícios, amigos velhos... Não fazia questão de cor e tampouco se importava com a classe ou profissão do sujeito, Marinheiro, soldado, embarcadiço, caixeiro de venda, tudo era a mesmíssima cousa: o tratamento que lhe fosse possível dar a um inquilino, dava-o do mesmo modo aos outros. D. Carolina revela-se, desde o inicio, uma mulher de negócios, cuja mercadoria era seu próprio corpo. Teve seus revezes e conseguiu se reerguer, observando como poderia lucrar com os outros, já que também lucravam com ela. No entanto, vive só.

Herculano: marinheiro dotado de certa melancolia. Relaxado, tinha as unhas sujas. Evitava a companhia dos outros. Foi preso e castigado por ter sido apanhado se masturbando.

Agostinho: o guardião. Homem de grande estatura, reforçado, especialista em dar chibatadas. Ama sua profissão, por isso permanecia a maior parte do tempo a bordo.

Santana: marinheiro que sofreu castigo por ter brigado com Herculano. Era gago, chorava com facilidade e era manhoso.

Enredo

A obra Bom-Crioulo não padece das inverosimilhanças de A Normalista, do mesmo autor. Mais denso e enxuto, apresenta um ótimo retrato da vida de marinheiros durante a 2ª metade do século XIX, no Rio de Janeiro. A personagem principal, o mulato Amaro, é bastante coerente em sua passionalidade. Vários episódios do romance também refletem a própria vivência do autor a bordo de navios, registrando a aspereza da vida no mar, da brutalidade dos castigos corporais, já denunciados por Caminha em seu tempo de estudante.
O romance realça pela originalidade da situação dramática: dois marinheiros - Amaro, apelidado o Bom-Crioulo, um “latagão de negro, muito alto e corpulento, figura colossal de cafre... com um formidável sistema de músculos” e Aleixo “um belo marinheiro de olhos azuis” - brutalizados e solitários pela vida a bordo de um navio, afeiçoam-se e entretêm relações homossexuais. Ao desembarcarem na cidade do Rio de Janeiro, vão viver em um cômodo alugado por uma portuguesa, ex-prostituta, D. Carolina. Mas o idílio amoroso entre Amaro e Aleixo é interrompido pelo dever de voltar ao mar.

O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Bronte)


O ambiente sombrio e tempestuoso nos transmite um senso de mistério. Uma estória muito intensa e cativante. É uma estória sobre amor não correspondido e vingança. A maior parte da estória é trazida até nós pela narração em primeira pessoa do Sr. Lockwood e depois por Nelly.

O Sr. Lockwood é o novo inquilino da Fazenda Thrush Cross, de propriedade de um Sr. Heathcliff. Por cortesia, o Sr. Lockwood vai visitar seu senhorio em Morros Uivantes. Ali ele encontra uma moça, um rapaz e Heathcliff. Ele tenta entender a ligação entre eles e termina por entendê-los de maneira errada. Isto aumenta sua curiosidade para descobrir mais sobre essa família muito estranha. Ele persuade Nelly, a governanta, a lhe contar mais sobre estas pessoas.

A estória retroage ao tempo em que Heathcliff era apenas um menino. O Sr. Earnshaw havia trazido para casa um menino que ele havia encontrado abandonado na rua; este menino é Heathcliff. O Sr. Earnshaw tem um filho, Hindley, e uma filha, Catherine, que tem a mesma idade de Heathcliff. O Sr. Earnshaw favorece Heathcliff e isto deixa Hindley muito furioso. Todos os outros membros da fazenda acham Heathcliff estranho, exceto Catherine, que o adora.

Depois que o Sr. Earnshaw morre, Hindley se volta contra Heathcliff, impedindo sua educação e tratando-o como um trabalhador braçal. Ele faz de tudo para erguer uma barreira entre Catherine e Heathcliff, pois odeia a amizade dos dois. Ele tenta fazer Catherine se dar bem com os Lintons. Os Lintons são uma família rica e respeitada que vive na Fazenda Thrush Cross. O filho dos Lintons, Edgar, começa a gostar de Catherine. Isto gera ciúmes em Heathcliff, mas ele tolera a distância entre ele e Catherine.

Um dia Edgar pede Catherine em casamento e ela aceita. Heathcliff escuta Catherine dizer a Nelly que ela escolheu Edgar, da família dos Lintons, somente porque ela achava que Heathcliff não é um cavalheiro e que casar com ele estragaria sua reputação e status na sociedade. Heathcliff fica muito magoado, deixa os Ventos Uivantes e vai embora.

Catherine fica arrasada. Ela não pode suportar essa situação. Edgar se casa com ela para lhe ajudar a suportar a dor. Ela começa uma nova vida com Edgar, mas um dia Heathcliff retorna. Ele se tornou um cavalheiro e agora é tão desejável quanto Edgar.

O conflito emocional de Catherine começa. Ela quer os dois homens na sua vida. Para conseguir isto ela termina ferindo Linton e a si mesma. Ela nunca consegue sair deste tumulto emocional. Ela dá à luz a uma filha de Edgar e morre.

Heathcliff fica arrasado com a notícia da morte de Catherine. Ele se sente como um leão ferido. Ele declara guerra a todos aqueles que lhe separaram de Catherine. Ele jura tomar vingança. Ele então tem um caso com Isabella, irmã de Edgar, e gera um filho com ela.
O resto da estória mostra como Heathcliff destrói Hindley, irmão de Catherine, e toma os Morros Uivantes. Ele trata Hareton, filho de Hindley, da mesma maneira que ele foi tratado anos atrás por seu pai. E força a filha de Catherine, Cathy, a se casar com seu filho Linton. Então ele se apodera da Fazenda Thrush Cross.

O romance termina com a morte de Heathcliff e Cathy, a jovem que Lockwood tinha encontrado antes.

O Alquimista (Paulo Coelho)


Paulo Coelho conseguiu reunir no livro O Alquimista, os mistérios que o Homem criou, a simbologia que afixou em cada objeto ou acontecimento, mas mais que tudo isso aprendemos o respeito pelas culturas variadas, especialmente as orientais, onde ainda se valorizam alguns costumes que na vida ocidental já há muito se perderam.

O rapaz pastor de ovelhas, que aprendeu a essência dos elementos, mesmo sem se ter apercebido, tem os seus objetivos bem delineados, até que um dia tudo se modificou. Pela afirmação de que aquele não seria o caminho por onde deveria seguir, as escolhas que fizera seriam para a sua própria felicidade. Santiago o pastor, vende as suas ovelhas, para procurar um tesouro (que havia sonhado) nas Pirâmides do Egito.

Após uma consulta a uma velha que interpretava sonhos, começa a entender que não poderia confiar em toda a gente, no entanto a velha dissera-lhe que havia um tesouro nas Pirâmides do Egipto. Na praça senta-se e aparece um velho, com quem não lhe apetece falar. Mas o velho, que lhe interrompia a leitura de um livro que alugara, perguntou-lhe qual a maior mentira do mundo e respondeu: “É esta: em determinado momento da nossa existência, perdemos o controle das nossas vidas, e ela passa a ser governada pelo destino. Esta é a maior mentira do mundo." Após o conhecimento deste personagem que nada mais é que o Rei de Salem, este ensina-lhe a importância de cumprir a sua Lenda Pessoal como sendo a única obrigação dos Homens. Explica-lhe também sobre a Alma do Mundo e demonstra-lhe a infelicidade das pessoas que não seguem a sua Lenda Pessoal. Fala-lhe também da linguagem dos sinais e da importância de saber interpretá-los.

Após isso Santiago enceta uma viagem pela África onde encontra obstáculos como a língua, as pessoas de más intenções e descobre o desânimo após ter sido roubado e ficado sem nada.

Descobre também que pode influir na vida das outras pessoas, passando a ser um vendedor de cristais para enriquecer e ganhar novamente dinheiro para prosseguir viagem.

No deserto aprende que a vida e a morte andam de mãos dadas. Ao chegar a um Oásis encontra parte da sua Lenda Pessoal em Fátima, uma rapariga do deserto que aprendeu com as outras mulheres a esperarem o regresso dos seus homens. Santiago se apaixona por ela, mas tem que ir adiante na sua determinação de encontrar o tesouro. Então diz a Fátima que ele voltará.

Sai do Oásis para completar a sua Lenda Pessoal. Será que terá a força e determinação para ir até o fim? Conseguirá a perspicácia dele entender a força dos elementos? Chegará ao seu Tesouro?

Santiago consegue finalmente chegar até as Pirâmides do Egito e lá encontra o seu tesouro. Fica feliz e diz que está voltando para Fátima.

Este é um livro que embora bastante ficcionado, leva-nos a ponderar as escolhas que fazemos na nossa vida e o empenho que mantemos por ela. Levanta questões como quem será verdadeiramente o Criador de todas as coisas e qual o seu objetivo conosco. Será que a Lenda Pessoal e a Alma do Mundo existem?

Paulo Coelho escreveu um livro baseado em lendas milenares e nas suas próprias crenças. Algumas delas poderão ter uma base relativamente forte, mas para isso é preciso aprofundar o nosso conhecimento desde a fundação do mundo, quem criou o Universo, quem nos criou, qual o propósito da nossa existência e finalmente para onde vamos?