Amar Verbo Intransitivo (Mário de Andrade)


Este romance é definido pelo autor como Idílio (s. m. Pequena composição poética, campestre ou pastoril; amor simples e terno; sonho; devaneio.) e abusa das técnicas modernas, usando uma linguagem coloquial, perto do falar brasileiro (por exemplo, começando frases por pronomes oblíquos), sem capítulos definidos, prosa telegráfica, expressionismo, construído através de flashes, resgatando o passado ou fixando o presente. 

Publicado em 1927, o Idílio causou impacto. Desafiou preconceitos, inovou na técnica narrativa. 

Sem nenhum preâmbulo, Souza Costa e Elza surgem no livro. Souza Costa é o pai de uma típica família burguesa paulista do início do século. Elza, uma alemã que tinha por profissão iniciar sexualmente os jovens: Professora de amor. 

Souza Costa contrata os "serviços" de Elza (que por todo o livro é tratada por Fraulein - senhora em alemão) com o intuito de que seu filho inicie sua vida sexual de forma limpa, asséptica, sem se "sujar" com prostitutas e aproveitadoras. Ela afirma naturalmente que é uma profissional, séria, e que não gostaria de ser tomada como aventureira. Oficialmente, Fraulein seria a professora de alemão e piano da família Souza Costa. 

Carlos aparece brincando com as irmãs, ainda muito "menino". Fraulein se ressente por não prender a atenção de Carlos no início, ele era muito disperso, mas gradualmente vai envolvendo-o na sua sedução. Eles tinham todas as tardes aulas de alemão e cada vez mais Carlos se esforçava para aprender (o alemão) e aguardava ansioso as aulas. 

Fraulein, em momentos de devaneios, criticava os modos dos latinos, se sentia uma raça superior, admirava e lia incessantemente os clássicos alemães, Goethe, Schiller e Wagner. Compreendia o expressionismo, mas voltava à Goethe e Schiller. A esposa de Souza Costa, vendo as intimidades do filho para com ela, resolve falar com Elza e pedir para que deixem a família. Fraulein esclarece seu propósito de forma incrivelmente natural, e após uma conversa com o marido, a mãe decide que é melhor para seu filho que ela continuasse com suas lições. 

O livro é permeado de digressões. Mário de Andrade frequentemente justifica alguns pontos (antes que o critiquem), analisa fatos, alude à psicologia, à música e até mesmo à Castro Alves e Gonçalves Dias. Mário compara a vida dos estrangeiros nos trópicos, entre Fraulein e um copeiro japonês. Mostra a dicotomia de pensamento de Fraulein entre o homem-da-vida (prático, interessado no dinheiro do serviço) simbolizado por Bismarck - responsável pela unificação da Alemanha em 1870 à ferro e fogo e Wagner, retratando o homem-do-sonho. O homem-do-sonho representa seus desejos, suas vontades, voltar a terra natal, casar e levar uma vida normal. Mas quem vence em Fraulein é o homem-da-vida, que permite que ela continue o serviço sem se questionar. 

Carlos após ter tido a aula mestra, começa a viciar-se em "estudar". Certamente a didática de Fraulein era muito boa. Era tempo para Fraulein se despedir, tendo este trabalho concluído. Ela sabia que os afastamentos eram sempre seguidos de muitos protestos e gritos. Souza Costa surpreende Carlos com Fraulein (tudo já armado) e utiliza-se deste pretexto para separá-los. Carlos reage, defende Fraulein, mas fica aturdido diante do argumento do pai: e se ele tivesse um filho? Ainda relutante, ele deixa-a ir. 

Depois de algumas semanas apático, Carlos volta a viver normal. O livro acaba, mas continua. Escreve Mário de Andrade - "E o idílio de Fraulein realmente acaba aqui. O idílio dos dois. O livro está acabado. Fim. (...) O idílio acabou. Porém se quiserem seguir Carlos mais um poucadinho, voltemos para a avenida Higienópolis. Eu volto." 

Após se recuperar, Carlos avista acidentalmente Fraulein, já em um novo trabalho, e apenas saudou-a com a cabeça. A vida continua para Carlos. Fraulein ainda iria seguir com 2 ou mais trabalhos para voltar à sua terra.