Eu Sobrevivi ao Holocausto (Nanette Blitz Konig)


Nanette Blitz Konig nasceu na Holanda. É filha de Martijn Willem, holandês que trabalhava na diretoria do Banco de Amsterdã. Sua mãe Helene era uma ótima pessoa e educadora. Seu irmão, Bernard Martijn era dois anos mais velho que Nanette e bem mais quieto do que ela. 

Todos moravam em uma casa grande de três andares e viviam em paz até que anos mais tarde os tempos mudaram. Em 1938 ocorreu a terrível “Noite dos Cristais” em que as propriedades dos judeus foram saqueadas e as sinagogas queimadas por toda a Alemanha. Hitler começara claramente a concretizar seu plano de expulsar e exterminar os judeus. 

Aos poucos os judeus foram sendo excluídos da sociedade e Nanette sentindo sua liberdade sendo arrancada. Nanette não podia mais andar de bicicleta pelas ruas e vários locais como cinemas, parques, etc... Os Judeus eram proibidos de entrar onde nestes estabelecimentos intitulava a placa: Proibido para judeus! Os poucos locais em que os judeus poderiam ir deveriam ser identificados pela “Estrela Amarela”. 

Os funcionários públicos foram demitidos e o pai de Nanette também foi demitido. Durante o tempo de colégio Nanette conheceu Anne Frank a qual também assim como muitas pessoas desaparecera um dia. 

No fim de setembro de 1943, a família de Nanette fora capturada e levada para Westerbork, um campo de transição situado no nordeste da Holanda. Esse campo de Westerbork fora construído pelo governo da Holanda para receber os judeus refugiados da Alemanha. Dali os judeus seriam deportados para os campos de extermínio. 

Nanette nessa época com 14 anos e seu irmão com 16 começara a vivenciar os sofrimentos como banhos em duchas de água fria e falta de conforto até que meses depois toda a família fora levada para um outro campo de concentração em Bergen-Belsen, um lugar controlado pelos nazistas. 

A SS foi criada em 1925 com o objetivo de ser uma tropa de elite responsável pela proteção de Adolf Hitler. Dessa maneira a SS passou a comandar os campos de concentração no ano de 1939, em seguida os campos de extermínio, em 1941. 

Em Bergen-Belsen havia muitas construções com barracas cercadas por arames farpados. Foi construído o campo de Dachau na Alemanha onde eram levados ciganos, homossexuais e judeus. 

Em 1941 as tropas alemãs invadiram o território soviético comandado por Josef Stalin. Na Polônia foram criados os campos de extermínio com a câmera de gás que inicialmente os prisioneiros eram mortos com monóxido de carbono e mais tarde para ficar mais eficiente com o gás Cyklon B, que em forma de comprimido tornava-se letal ao entrar em contato com o ar. 

As pessoas estavam cada vez mais debilitadas. Havia muita fome e desnutrição entre os prisioneiros que dormiam em camas beliche forradas com palhas. Havia também muita sujeira e falta de higiêne, pois o local não comportava banheiros resultando em doenças como diarréia, Tifo. Também os judeus passavam muito frio, mas não havia compaixão por parte dos nazistas. 

Nanette assim como todos os prisioneiros estavam fora de todas as notícias pois não havia rádios, TVs, e nem jornais. Naquele ano de 1944 a guerra continuava a todo vapor: As tropas da potência do eixo, Alemanha, Itália e Japão estavam em combate ao longo de todo o território europeu, e também além dele, com as forças dos aliados, Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética. Até o Brasil com seus “Praçinhas” haviam também aderido à guerra desembarcando na Itália para lutar ao lado dos aliados. Os deficientes físicos e mentais eram para Hitler um fardo para a sociedade e por isso foram executados pelos nazistas com a cooperação dos médicos alemães. 

Esse cenário se agravaria a partir do final de 1944. Esse ano foi um dos mais cruéis do Holocausto. O número de judeus mortos já alcançava a casa dos milhões. Um dia, no final de novembro de 1944, Nanette recebe a notícia de que seu pai havia morrido com um infarto fulminante. 

Também nesse período chegaria a Begen-Belsen uma das piores pessoas que já pisara naquele lugar: Josef Kramer, do partido nazista conhecido como “Besta de Belsen” e que controlava as câmeras de gás, com crueldade e frieza. Havia também uma mulher, “Irma Grese”, uma das guardas mais cruéis da SS durante o Holocausto. Tempos mais tarde ela fora condenada à forca pelas crueldades que cometia. Os prisioneiros morriam durante o dia e durante a noite. Era muito comum se ouvir o som das mortes, o último suspiro dos prisioneiros antes de morrerem. 

Em dezembro de 1944, o irmão de Nanette, Bernard fora transferido para outro campo de concentração na Alemanha. No dia seguinte Nanette sofrera outro baque: Sua mãe fora transferida para Magdeburgo para trabalhar exaustivamente em uma fábrica de componentes para aviões. 

Antes dos soviéticos chegarem, os nazistas fizeram de tudo para esconder muitas de suas barbáries e assassinatos. Uma das coisas que eles queriam esconder além das câmeras de gás eram os experimentos médicos desumanos em que resultavam muitas vezes em morte. Um deles era colocar tinta nos olhos dos prisioneiros para ver se mudavam de cor, assim como a esterilização dos judeus. 

Um dia Nanette reencontra Anne Frank que também estava em outra parte desse campo de concentração. Foi então quando Anne Frank escrevia seu diário: “O diário de Anne Frank”. O pai de Anne, Otto Frank, é o único das oito pessoas que sobrevive. Depois da sua morte, Anne torna-se famosa no mundo inteiro por causa do diário que escreveu quando ainda estava escondida. Anne Frank e sua mãe Margot também morreram devido à doença do Tifo. 

A libertação de Bergen-Belsen 

Em abril de 1945 as batalhas entre alemães e britânicos eram travadas nas proximidades de Bergen-Belsen. E foi assim que em 12 de abril dois membros das tropas alemãs estenderam a bandeira branca frente aos britânicos. Assim os britânicos chegaram para salvar os prisioneiros. A Alemanha havia perdido a guerra! 

Os britânicos ficaram chocados com o que viram: Corpos por todos os lados, pessoas que estavam mais mortas do que vivas e um cheiro de podridão insuportável. Esse campo ficou conhecido como “The Horror Camp” ou “O Campo do Horror”! 

Um dos soldados britânicos que estava participando da operação de libertação Bergen-Belsen foi o major Leonard Bernery. E foi à ele que Nanette recorreu para que ele mandasse uma carta aos seus parentes na Inglaterra avisando que ela estava salva. 

Quando tudo começou a melhorar nos cuidados com a higiêne e a saúde, Nanette acabou contraindo Tifo. Com isso ficou umas duas semanas inconsciente, em coma. Mas o destino a preservava viva! 

A guerra foi encerrada no dia 02 de setembro de 1945. Nos dias 06 e 09 de agosto o mundo ainda presenciaria o lançamento das bombas atômicas dos americanos sobre Hiroshima e Nagasaki, deixando uma destruição grande no local. 

No dia 22 de abril de 1945 os aliados enviaram um telegrama recomendando que os alemães protegessem Berlim. Hitler sabia que era tarde demais para qualquer tentativa que objetivasse evitar a derrota. Ele e sua mulher Eva Braun estavam escondidos em um bunker quando deram fim à própria vida em 30 de abril de 1945. Hitler deu um tiro na própria cabeça e sua mulher tomou veneno. Esse foi o desfecho do homem que liderou o maior massacre da história contra todos aqueles que não pertenciam a “Pura raça ariana”, segundo suas convicções. Foram mortos seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. 

E 24 de julho de 1945 Nanette estava de volta à Holanda. Apesar de ter ficado curada do Tifo Nanette ainda teria que lidar com outras doenças: Tuberculose e Pleurite. Por isso ficava muito tempo acamada. 

Depois Nanette descobrira por intermédio de um conhecido que sua mãe havia falecido e seu irmão também. Ela estava sozinha no mundo com apenas 16 anos. Depois de três anos, Nanette foi levada para morar com uma enfermeira (Que um dia havia cuidado do seu irmãozinho que morreu aos 4 anos devido a problemas cardíacos). 

Aos 20 anos Nanette foi morar com umas tias em Londres na Inglaterra. Fez um curso de secretariado e arrumou um emprego de secretária em um banco. Um dia Nanette foi à uma reunião sobre sionismo de encontro a outros jovens. 

E foi aí que ela conheceu John Konig, um rapaz também judeu. Como este já tinha parte da família imigrada para o Brasil ele também já tinha comprado passagem para o Brasil. Os dois então passaram a se corresponder por cartas por um tempo até que John a pediu em casamento. Nanette não pensou muito e foi tirar o visto para morar no Brasil; com isso eles se casaram em julho de 1953. 

Depois Nanette veio morar no Brasil em São Paulo onde tiveram uma filha, Elizabeth Helene. Mais tarde foram morar um tempo em Nova York nos Estados Unidos onde tiveram outra filha, Judith Marion e depois voltaram definitivamente para o Brasil onde tiveram o terceiro filho, Martin Joseph. 

Nanette Blitz Konig voltou a estudar, fazendo o curso de Economia e atualmente viaja por todo o Brasil ministrando diversas palestras em escolas e faculdades sobre o que ela viveu e sobre o Holocausto.