O Leopardo (Giuseppe Tomasi Di Lampedusa)


O livro se inicia com a frase final da oração da Ave Maria: "Nunc et in hora mortis nostrae. Amen". 

Situado na década de 1860, o romance II Gattopardo, “O Leopardo”, um dos clássicos da literatura italiana, é a única obra de Giuseppe Tomasi, Príncipe de Lampedusa. 

Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, um aristocrata siciliano apaixonado pelas letras, quando escreveu O Leopardo enfrentava uma doença que o iria matar logo depois de concluir a obra. Durante sua vida, o romance foi rejeitado pelos editores aos quais fora submetido, o que desapontou muito Tomasi. Em 1957, Tomasi Di Lampedusa que tinha recebido diagnóstico de câncer falecera em 23 de julho em Roma. Seu romance foi publicado somente dois anos após sua morte. 


Resumo: 

Romance histórico situado na segunda metade do século XIX, O Leopardo conta a fascinante história de uma aristocracia siciliana decadente e moribunda, ameaçada pela aproximação da revolução e da democracia. 

O Leopardo era o animal que figurava no brasão da família de Dom Fabrizio, (Personagem principal), um italiano, Príncipe de Salina. Lampedusa escolhe, talvez, a figura do Leopardo, não só pelo seu individualismo – característica que tem em comum com o príncipe de Salina – como pela sua adaptabilidade, algo que é fundamental para a manutenção do status do protagonista e da sua família. 

Logo abaixo dos Leopardos, dos Leões, estão as raposas, os chacais, as hienas, cuja astúcia desprovida de escrúpulos, aliada a uma fortíssima motivação para vencer fazem da burguesia em ascensão uma classe para a qual os fins justificam os meios na sua rota de ascensão em direção ao topo da escala social: Agiotas, banqueiros, especuladores ou, simplesmente, grandes industriais que enriquecem misteriosamente de um momento para o outro. A ambição deste tipo social esbarra, porém, com o conservadorismo dos Leões e dos Leopardos que demoram, ainda, algumas gerações antes de os considerarem como seus iguais. 

Em maio de 1860, meados do século XIX, o revolucionário Giuseppe Garibaldi desembarca na ilha Marsala para liderar o movimento de unificação da Itália. Giuseppe Garibaldi chefia “Os descamisados”, ou simplesmente, “Os camisas vermelhas”. O objetivo é a reunificação da Península Itálica, a expulsão dos Bourbons - cuja pretensão de hegemonia, partindo de Nápoles de onde reina a dinastia Bourbon, irrita de sobremaneira os italianos – e sua substituição pela dinastia rival de Piemonte, apoiando Vítor Emanuel da casa de Sabóia. 

Assumindo como seus os ideais da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – as tropas de Garibaldi pretendem o estabelecimento de uma nova ordem social ao defender a igualdade de oportunidades como o principal objetivo da revolução. Recebem, por isso, o apoio direto de uma classe em franca ascensão: Uma burguesia endinheirada que lucra em progressão geométrica com o endividamento galopante de uma nobreza dissipadora e cada vez mais passiva. A classe aristocrática sente que está próxima do fim de sua supremacia. 

Então Don Fabrizio assiste com distância e melancolia ao final dos combates! A adaptabilidade do Leopardo Fabrizio Salina impele-o a ser condescendente, flexível, com a nova classe em ascensão, cujo poder econômico poderá ajudar a sua família a manter o padrão de vida ao qual está habituada.

Dom Fabrizio, começa a perceber as mudanças na sociedade e a notar a futilidade de sua vida nesse momento histórico onde há uma decadência de sua classe, de seus costumes e do surgimento de uma nova ordem. Fabrizio deixa que a vida passe enquanto assiste à decadência da monarquia italiana, sem fazer qualquer esforço para interferir ou inserir-se no novo contexto que se delineia. 

Dom Fabrizio, desinteressado na vida política, acredita que as coisas têm que mudar, mas permanece como um espectador: Observa o fim de sua era solitário, resignado e pessimista. O Leopardo é irônico, direto e impactante. Dom Fabrizio se mostra extremamente pessimista com o futuro de sua terra, que ele considera quente demais, medíocre demais e preguiçosa demais, e por isso sempre fica a parte das decisões históricas. Suas ambições são continuadamente reduzidas, em simultaneidade com o esvaziamento da própria significação da nobreza, tornando os atos da mesma cada vez mais fúteis e desnecessários. 

Completamente cético quanto a importância de sua posição perante as mudanças políticas, Don Fabrizio apenas segue o curso da história cumprindo o mote aparentemente contraditório: "É preciso que as coisas mudem de lugar para que permaneçam onde estão"! 

Além da figura marcante de Don Fabrizio, há também a representação da nova classe social em Don Calogero que casará sua linda filha Angélica com Tancredi, sobrinho e favorito do príncipe. As interações/conflitos entre as duas classes resultam em momentos de muito humor, sobretudo. Outros aspectos possuem um forte apelo visual, como por exemplo, o momento da chegada da família aristocrática em Donnafugata, cobertos de poeira acumulada durante a longa viagem, figuras irreais e obsoletas no novo cenário da Itália unificada. 

Sendo assim, a própria história da ilha, marcada por sucessivas invasões de todos os quadrantes do mediterrâneo, tem como consequência o desenvolvimento de um sentimento coletivo de indiferença por quem se encontra no poder! 


O autor: 

Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, duque de Palma e príncipe de Lampedusa, nasceu em Palermo, em dezembro de 1896, e faleceu em Roma, em julho de 1957. Dedicou-se à escrita apenas nos últimos anos da sua vida, no tranquilo isolamento da sua propriedade, sem contacto com o meio literário. O Leopardo, a sua obra-prima, foi o único romance que escreveu. Inicialmente recusado por duas grandes casas editoriais italianas, viria a ser publicado um ano e meio após a morte de Lampedusa, tendo um sucesso imediato junto do público e da crítica, que o considerou uma das maiores obras literárias do século XX. Traduzido em todas as línguas, O Leopardo é já um clássico incontornável da literatura. 

O autor buscou sua inspiração nas histórias de sua antiga família e, em particular, na vida de um seu antepassado que viveu nos anos cruciais do Risorgimento, no reinado de Francisco II das Duas Sicílias. 

Obs: Se procura filme italiano de 1963, dirigido por Luchino Visconti, veja II Gattopardo (filme). II Gattopardo narra a história do ancestral do autor, Don Fabrizio Corbera, Príncipe de Salina, e de sua família entre 1860 e 1910, na Sicília. 

Personagens: Fabrizio Salina: O protagonista, é a fusão entre a cultura alemã, herdada da mãe – o racionalismo, o apego às normas e à ordem, traduzidas no fascínio pelas leis da física, nomeadamente da astronomia – e a indolência e fogosidade italianas como legado paterno. Sendo um homem dotado de inteligência (Muito) acima de média no seu grupo de pares – que se caracteriza, sobretudo pela frivolidade ideológica a par de uma extrema sensibilidade estética – Fabrizio estaca-se do seu grupo. É, antes de tudo, graças ao seu encanto pessoal que, mais do que a sua irrepreensível genealogia, o Leopardo Salina não é segregado pelos seus iguais que o consideram algo excêntrico, inspirando-lhes um misto de admiração e receio. Fabrizio Salina é, ainda, um homem sensual, propenso a grandes paixões, cujo temperamento esbarra com a castradora religiosidade da sua aristocrática esposa, Stella.  
Stella: A princesa di Salina, é perfeita na estrita observância do profundo respeito pelas convenções, das normas de etiqueta e do saber-estar. No entanto, o seu fervor religioso, manifesto até durante o ato sexual, assim como a sua frivolidade, acabam por exasperar o marido e esfriar a sua paixão inicial. 

Tancredi: O príncipe Di Falconeri, sobrinho de Fabrizio, é um jovem belo, inteligente, dotado de um humor colorido de um sarcasmo afetuoso, dirigido ao Zio Fabrizio – “Zione” (Tiozão), como lhe chama o sobrinho – o qual não resiste àquela descarada ironia que tem as suas raízes numa juventude que se crê imortal. A inteligência de Tancredi está ligada ao seu sentido de oportunidade, à astúcia felina (Ou de ave predadora) que lhe permite realizar um casamento vantajoso, salvando-o da ruína e, ao mesmo tempo, realizar o desejo de possuir a bela e voluptuosa Angélica, filha de um novo-rico, recentemente promovido a barão e com pretensões aristocráticas. É, também, o mesmo materialismo de Tancredi que o faz transitar habilmente do partido dos “Camisas vermelhas” para o exército real.

Angélica: É uma jovem de origem humilde, que tem acesso a uma educação refinada, em virtude do enriquecimento meteórico do pai. Apesar de, no início, o verniz da educação e o refinamento da toilette não conseguirem ocultar totalmente a sua origem camponesa. Contudo, Angélica acaba por ser uma lufada de ar fresco dentro de uma aristocracia debilitada por sucessivos casamentos consanguíneos, maus hábitos alimentares, ausência de vida ao ar livre e falta de exercício físico. Apesar de alguns pequenos deslizes no que toca à etiqueta e ao protocolo, Angélica é inteligente, ativa, uma jovem que se torna culta e interventiva no que diz respeito a causas sociais e na defesa dos direitos das mulheres. É a única personagem feminina que consegue conservar a beleza e o encanto até à velhice, preservando, até depois da morte de Tancredi, a vivacidade da juventude. 

Irmãs Salinas: Filhas de Fabrizio e Stella, estiolam pelo excesso de rigidez a que as obrigam as expectativas daqueles que as rodeiam, mercê do seu estatuto. Tornam-se demasiadamente tímidas e recatadas para inspirarem verdadeira paixão. A sua frieza e aparente indiferença acabam sempre por “Gelar o sangue” aos seus pretendentes. 

Fontes: Pequeno trecho do site http://www.recantodasletras.com.br
Outros trechos de vários sites e montagem totalmente minha.